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Admirar tudo quanto é santo, nobre e elevado

Redação (Quinta-feira, 12-07-2018, Gaudium Press) No Sermão da Montanha, Nosso Senhor não falou apenas para os judeus daquela época, mas aos homens de todos os tempos. Sobretudo para nossos dias ele é fundamental, pois corrige muitos erros da mentalidade que atualmente impera. Continuemos a comentar as Bem-aventuranças ensinadas pelo Divino Mestre.

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Mansidão e combatividade

“Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra” (Mt. 5, 5).

“A mansidão elogiada por Cristo neste versículo consiste, sobretudo, em ser o homem constantemente senhor de si mesmo, controlando as próprias emoções e impulsos. Ela lhe impede de murmurar contra as adversidades permitidas por Deus e o leva a não se irritar com os defeitos dos irmãos, procurando, pelo contrário, desfazer os desentendimentos e desculpar com generosidade as ofensas recebidas.”

Entretanto, mansidão não significa concordar com tudo e nunca tomar atitude contra o mal; nesse caso, seria conivência. O homem verdadeiramente manso é combativo; ele ama a Deus sobre todas as coisas e luta tenazmente contra tudo aquilo que é contrário ao Onipotente. Nosso Senhor, “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29), demonstrou sua combatividade, por exemplo, ao expulsar com um chicote os vendilhões do Templo.

A Terra que os mansos possuirão “é ao mesmo tempo a Igreja militante e a Igreja triunfante, isto é, o Reino dos Céus contemplado em seu conjunto. É uma locução extraída do Antigo Testamento, onde ela designa normalmente a Terra Santa […]. Possuir a Terra e entrar no Reino dos Céus são, pois, expressões sinônimas”.

Desejar ardentemente a santidade

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5, 6).

A palavra “justiça” significa aqui santidade, perfeição moral. Esta deve ser desejada ardorosamente por todos os homens, pois disse Nosso Senhor nesse mesmo Sermão: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48).

A santidade só pode ser alcançada através de renhido combate contra inimigos internos e externos. Os primeiros são nossos próprios defeitos. Os externos são inúmeros; citemos apenas alguns: ambientes, internet, amizades que nos induzem ao pecado, e sobretudo o demônio.

É preciso sempre progredir na vida espiritual, almejando a perfeição em tudo que pensamos, queremos ou fazemos. Isso só se consegue com muita oração, frequência aos Sacramentos e crescente devoção a Nossa Senhora.

Quem assim age é saciado, ou seja, obtém o Céu.

Misérias corporais e espirituais

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7).

Os misericordiosos não são aqueles que têm para com o próximo apenas uma compaixão sentimental, própria do romantismo, mas os que se esforçam para diminuir seus sofrimentos, por amor de Deus. Segundo a etimologia, misericórdia provém do latim miseris cor dare – ter compaixão da miséria do outro.

Devemos ter pena não somente das misérias corporais do próximo, mas sobretudo das espirituais, que são as mais importantes, pois a alma é superior ao corpo. O bom exemplo, uma palavra de ânimo para praticar o bem, ou de censura para tolher o mal, são atos de misericórdia muitíssimo mais valiosos do que dar uma esmola.

No mundo materialista em que vivemos, fala-se muito das obras de misericórdia corporais, mas praticamente nada das espirituais.
Devemos também ser misericordiosos, sofrendo pacientemente quando nos ofendem. E se a ofensa é dirigida contra Deus?

Afirma São João Crisóstomo: “É digno de louvor ser paciente no sofrimento das próprias injúrias, mas suportar pacientemente as injúrias contra Deus é suma impiedade.”

Contemplar a ação da graça nas almas

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).
“Ao ouvir falar em ‘puros de coração’, pensa-se logo na virtude angélica. Não obstante, como explica Fillion, essas palavras “não designam exclusivamente a castidade, mas o afastamento do pecado, a isenção de toda mácula moral. O coração é aqui considerado, à maneira hebraica, como o centro da vida moral.”

“O alcance desta expressão é, portanto, bem mais amplo e profundo. O puro de coração tem todas as intenções e aspirações voltadas para o Altíssimo e para o benefício do próximo. Admirando tudo quanto é santo, nobre e elevado, transborda do desejo de fazer bem aos demais, por amor a Deus […].

“Seria, entretanto, um equívoco julgar que o prêmio prometido nesta Bem-aventurança se refere exclusivamente à eternidade, exigindo toda uma vida de abnegação e aridez a fim de alcançar a visão beatífica. Pelo contrário, como ensina São Tomás, nas Bem-aventuranças Nosso Senhor promete também para este mundo a recompensa. E Fillion afirma que a pureza de coração confere ‘já nesta Terra um começo de visão, um conhecimento mais perfeito do Deus que Se revela às almas puras’.

“Como se dará isto? Sem dúvida, por meio da graça. Pois, enquanto a impureza cega as almas para tudo quanto é elevado, quem tem um coração limpo vê a Deus nesta vida através da fé, admirando os reflexos divinos nas criaturas; sobretudo, contemplando a ação da graça nas almas. É esta, aliás, uma das mais belas e altas manifestações de Deus nesta Terra.”

 

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada’ – 156)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 48.
2 – FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile
3 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 48.
4 – FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p. 103.
5 – Cf. FILLION, op. cit., p. 104.
Apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica II-II, q.136, a.4, ad.3.
5 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. Paris: Letouzey et Ané,1912, t. VII, p.43.
6 – Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.69, a.2.
7 – FILLION, La Sainte Bible commentée, op. cit., p.43.
8 – CLÁ DIAS, op. cit., p. 51-52.

 

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