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Dilúvio de fogo, dilúvio de amor

Redação (Sexta-feira, 24-08-2018, Gaudium Press) Notável paradoxo! Como pode um elemento tão simples apresentar propriedades tão contrárias? Ele atrai poderosamente com sua majestosa variedade de formas, cores e fulgores, e, ao mesmo tempo, impõe um respeito tanto maior quanto mais dele nos aproximamos.

Todos tremem ao pensar nos terríveis estragos que pode produzir, seja devastando um extenso bosque com suas devoradoras chamas, seja submergindo em lava incandescente as redondezas de um vulcão. Mas junto ao calor que consome e abrasa, encontramos também a luz. A nobre e feérica luz…

No Antigo Testamento, Deus falou com seu povo do meio das chamas (cf. Dt 4, 12) e guiou-o à noite servindo-Se de uma coluna de fogo (cf. Ex 13, 21). Na Nova Lei, Nosso Senhor Jesus Cristo declara serem os seus discípulos “a luz do mundo” (Mt 5, 14). E ao enviá-los a ensinar a todas as nações (cf. Mt 28, 18), conferiu-lhes a missão de iluminar, com seus corações abrasados no amor, o universo envolto nas trevas do pecado.

Dilúvio de fogo, dilúvio de amor

Talvez o mais atraente predicado do fogo seja, porém, sua potente capacidade purificadora. Na terra, ele queima, consome e destrói aquilo que é malfazejo; no Purgatório, prepara a alma para a visão beatífica, expurgando-a dos efeitos do pecado e dos critérios que a impedem de ver a Deus face a face.

Alguém, entretanto, poderá questionar: “Sendo a água o elemento característico da depuração e de limpeza – a ponto de Nosso Senhor tê- -la escolhido para matéria do Batismo – por que terá preferido Deus o fogo para purificar as almas que irão para o Céu?”

Poderíamos apresentar, dentre várias, uma razão bem simples. A água retira as máculas daquilo que foi lavado, restaurando o seu estado original, mas com o fogo acontece algo superior: além de purificar, transforma. Se “é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata” (Eclo 2, 5), expurgando-os de toda impureza, é também pelo fogo que certas matérias alcançam uma excelência incomparavelmente maior.

Tomemos um exemplo: o que seria um turíbulo carregado de incenso, sem o calor do fogo? Não passaria de um ornato gélido e inútil. Entretanto, sob os efeitos da brasa incandescente, os inertes grãozinhos de incenso se elevam suave e perfumadamente até Deus.

Dilúvio de fogo, dilúvio de amor

Indo até as últimas consequências nesta escala de simbolismos, chegamos ao próprio Deus. Sendo a Caridade em essência, Ele incendeia os corações dos justos, ilumina as trevas dos que a Ele se voltam arrependidos, e aniquila com sua claridade infinita as nódoas que d’Ele nos separam.

É por isso que a era histórica profetizada por Nossa Senhora em Fátima vai caracterizar-se, não por um dilúvio de água ou de sangue, mas sim de fogo, conforme ensina São Luís Maria Grignion de Montfort.

“Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ!” (cf. Sl 103, 30). Tendo sido a face da terra purificada pelas chamas da cólera divina, o Paráclito ateará nos corações o fogo do amor, dando origem a “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21, 1). Na Cidade Santa governada por Maria Santíssima, Deus habitará com seu povo, enxugará toda lágrima de seus olhos e, tanto quanto é possível neste mundo, “já não haverá morte, nem luto, nem dor” (Ap 21, 4).

Por Irmã Antonella Ochipinti González, Ep

Revista Arautos do Evangelho, Julho/2018, n. 199, p. 50-51

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