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“Ninguém pode servir a dois senhores”

Redação (Quinta-feira, 13-09-2018, Gaudium Press) No Sermão da Montanha, Nosso Senhor afirmou: “Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24).

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Episódios marcantes da luta entre o bem e o mal

O dinheiro, em si mesmo, não é um mal. Quem o emprega retamente favorece o bem e pode santificar-se. Por exemplo, Lázaro, irmão de Maria Madalena e Marta, possuía uma das maiores fortunas em Israel, mas foi um homem justo que se tornou santo; sua memória é celebrada em 29 de julho.

Entretanto quando utilizado de modo errôneo, o dinheiro arrasta as pessoas para o mal.

Então, essa frase de Nosso Senhor encerra uma verdade que o católico autêntico deve sempre ter presente em sua alma: há uma oposição irreconciliável, uma luta ferrenha entre dois partidos: o do bem e o do mal.

Tal batalha, como narra o Apocalipse, teve seu início no Céu quando Lúcifer se revoltou contra Deus; e São Miguel, cujo nome significa “Quem é como Deus?”, o expulsou do Paraíso, juntamente com seus sequazes (cf. Ap 12, 7-9).

E no Paraíso Terrestre esse combate se manifestou quando Lúcifer, ou satanás, utilizando uma serpente, fez com que nossos primeiros pais perdessem seu estado de santidade, e Adão cometesse o pecado original.

E amaldiçoando a serpente, ou seja, satanás, Deus declarou:

“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela.” (Gn 3, 15). A “mulher”, conforme explicam os exegetas, significa Maria Santíssima.

Portanto, esses dois partidos são: o do bem, dirigido por Deus, através de Nossa Senhora, e o do mal, chefiado por satanás.

Essa luta patenteou-se em diversos episódios, entre os quais destacamos, no Antigo Testamento: o ímpio Caim matou o justo Abel; a inimizade entre Jacó e Esaú, Judite eliminou Holofernes, Judas Macabeu batalhou heroicamente contra os traidores de Israel.

Só há dois partidos, sem possibilidade de uma terceira posição

Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Deus, é o Bem. Mas os maus, chefiados sobretudo pelos fariseus e saduceus, O mataram. E sua gloriosa Ressurreição foi a vitória do bem contra o mal.

A batalha entre o bem e o mal se desenvolveu ao longo de vinte séculos da História da Igreja, continua em nossos dias e durará até o fim do mundo, quando os bons serão glorificados e os maus precipitados no Inferno, por toda a eternidade.

Essa luta se dá dentro de cada um de nós, na sociedade temporal – o Estado -, e na sociedade espiritual, a Igreja.

Vários autores focalizaram a guerra entre o bem e o mal. Citemos alguns: Santo Agostinho, em sua célebre obra “A Cidade de Deus”; Santo Inácio de Loyola, nos “Exercícios espirituais”, meditação sobre as Duas Bandeiras; Plinio Corrêa de Oliveira, em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”.

Na realidade, a batalha entre o bem e o mal abrange também a luta entre a verdade e o erro, e do belo contra o feio. Nosso Senhor Jesus Cristo é o Bem, a Verdade e a Beleza; o demônio é mau, mentiroso, horrendo.

Afirmou Plinio Corrêa de Oliveira:

“Esses dois partidos são as duas grandes falanges de servos que lutam por dois senhores. Faço notar que há apenas dois partidos, sem possibilidade de uma terceira posição. Donde toda a História se resolver, em última análise, no seu sentido mais profundo, no confronto desses dois interesses, desses dois princípios, desses dois seres antagônicos: Jesus Cristo e o demônio.”

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Cristo gladífero

Disse o Divino Mestre: “Não julgueis que vim trazer a paz à Terra. Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mt 10, 34).

“A paz concebida segundo o mundo significa soltar as paixões. Faz-se o que se quer, ainda que seja pecado. Pouco importa! Esta é a falsa paz da qual falava o profeta: ‘deceperint populum meum dicentes: Pax, et non est pax – enganaram o meu povo, dizendo: Paz, e não há paz’ (Ez 13, 10).

“Pelo contrário, segundo ensina Santo Agostinho, a verdadeira paz é a tranquilidade da ordem. Assim, a paz de alma só pode advir da prática da virtude, a qual pressupõe o combate às tentações do demônio, do mundo e da carne. Não haverá um só instante em que nossas más paixões não nos solicitem para o pecado e para apegos desordenados a tantas pessoas ou coisas.

“Desta forma, todo homem tem diante de si apenas dois caminhos: viver da seiva divina ou da seiva do mundo. Não há outra hipótese. Eis o grande dilema de cada alma e da História.”

E a espada trazida por Nosso Senhor é o espírito de combatividade que devem ter seus servos. Precisam eles batalhar contra suas más inclinações, contra os demônios, os males que dominam o mundo e arrastam as pessoas para o pecado.

São João Evangelista assim descreve uma visão que teve sobre Nosso Senhor: “Seus olhos eram como chamas de fogo […] Sua voz era como o ruído de muitas águas. De sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes. O seu rosto se assemelhava ao Sol, quando brilha com toda a força” (Ap 1, 14-16). Trata-se de Cristo gladífero, cuja figura se encontra, por exemplo, num vitral da Sainte-Chapelle, de Paris.

A Igreja é um todo composto de três partes: militante, padecente e triunfante. A desta Terra se chama militante porque está em luta contínua contra o mal e em defesa do bem.

Que a Virgem Santíssima nos conceda as graças necessárias para enfrentarmos, com fortaleza, vigilância e confiança, os demônios e seus asseclas, a fim de que sejam esmagados, e triunfe o Imaculado e Sapiencial Coração de Maria.

 

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” -163) 

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1 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O partido de Jesus e o do mundo. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano IX, n. 118 (janeiro 2008), p. 10.
2 – Cf. SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus. Livro XIX, cap.13, n.1.
3 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 184.

 

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