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Olhai os lírios do campo!

“Eles não trabalham nem fiam. Porém, Eu vos digo: nem o Rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles”, diz Nosso Senhor no Evangelho.

Olhai os lírios do campo

Redação (Terça-feira, 18-09-2018, Gaudium Press) Nas pregações de Nosso Senhor, nota-se não só a verdade e o bem, mas também a beleza. Exemplo característico desta última é um trecho do Sermão da Montanha, onde há referência aos lírios do campo.

Afeto de Deus para com os homens

Disse o Divino Mestre: “E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Porém, Eu vos digo: nem o Rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará Ele muito mais por vós, gente de pouca Fé?” (Mt 6, 28-30).

(Leia também: Sermão de uma beleza incomparável)

Mais do que o significado de cada palavra, esse texto contém uma musicalidade tão sublime que encanta nossas almas. Podemos imaginar o tom de voz do Redentor ao pronunciá-lo!

sermão da montanha

Os lírios do campo

Comenta Monsenhor João Clá: “Jesus deixa claro serem esses lírios os ‘do campo’, ou seja, os que nascem a esmo, sem os cuidados dos homens, na mesma linha do que anteriormente dissera sobre as aves, ou seja, as ‘do céu’, e não as domésticas.

“Chama-nos a atenção, de modo especial, o carinho empregado pelas mães ao providenciarem as roupas para suas crianças, pois procuram sempre vesti-las com beleza.

“Esse é o afeto de Deus ao cuidar de cada uma de suas criaturas humanas: visa Ele não só nossa alimentação – como o faz com as ‘aves do céu’ – como também nossa elegância e pulcritude. […]

Salomão e suas vestes

“O exemplo de Salomão, preocupado por vestir-se à altura da sabedoria que lhe havia sido gratuitamente concedida por Deus, é de uma extraordinária eloquência para todos os tempos.

Rei Salomão

“Pois quem com mais arte saberia realizar essa tarefa? São João Crisóstomo sintetiza bem a diferença entre as vestes de Salomão e as criadas por Deus: ‘das vestiduras de Salomão à flor do campo há a distância da mentira à verdade’.

(Leia também: No Ângelus, Papa cita Rei Salomão e diz que fiéis devem sempre buscar o “Reino dos Céus”)

“Por conseguinte, duvidar ou, pior ainda, não crer na Providência Divina é suficiente para sermos classificados como ‘gente de pouca fé’, pois, se esses são os cuidados de Deus para com ervas a serem queimadas quando murcharem, quanto maiores não serão eles com as almas imortais e os corpos ressurretos!”

Síntese de toda a doutrina do Evangelho

Acrescentou o Redentor: “Portanto, não vos preocupeis, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir?’ […] Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 31.33).

“A síntese de toda a doutrina do Evangelho se encontra nas palavras deste último versículo; trata-se de, em primeiro lugar, buscar o Reino de Deus, como também a própria justiça desse mesmo Reino, tal como Jesus o pregou, ou seja, o oposto do almejado pelos fariseus.

O Reino de Deus

“O Reino de Deus pode ser considerado por três diferentes prismas: o da glória dos Bem-aventurados, ou seja, o triunfante; o da Santa Igreja, que se evidencia no visível e externo Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo; e, por fim, o da graça santificante em nossas almas, ou interno.

Santos reino de deus

“Assim, devemos buscar a realização da santidade de Deus em nós, por meio do ódio ao pecado, numa aspiração crescente de Lhe obedecer na prática de todos os Mandamentos, com base num abrasado amor a Ele. Conduzir, por um dinâmico zelo apostólico, a todos com quem tenhamos alguma relação às vias dessa santidade, para maior brilho da Santa Igreja e salvação das almas. E, por fim, almejar o Reino Eterno na glória.”

(Leia também: Seriedade, beleza e glória do Juízo Final)

Quem apenas procura ganhar dinheiro, comer, beber, dormir e despreza os Mandamentos de Deus e de sua Igreja acaba caindo nas desgraças morais, e até físicas, características do mundo de hoje. Aquele que se preocupa antes de tudo em fazer a vontade de Deus e, secundariamente, com as coisas necessárias para sua subsistência tem a verdadeira felicidade.

Juízo temerário

Afirmou o Divino Mestre: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7, 1). Essa frase deve ser bem entendida, pois se nenhum juízo fosse permitido, a família e o Poder Judiciário desapareceriam.

juízo temerário

Ora, há julgamentos necessários para a ordenação da sociedade. Por exemplo, o pai que, notando um mau comportamento de seu filho, corrige-o por um bom conselho ou uma repreensão; o juiz que, face aos argumentos e provas apresentados, emite sua sentença absolvendo ou condenando o réu.

O que Jesus interdiz é um juízo precipitado, sem razão suficiente, a respeito dos outros. É o que se denomina juízo temerário, a respeito do qual existe comumente uma ideia errônea.

Pensa-se que se comete pecado de juízo temerário tão somente quando se julga mal do próximo sem fundamento. Entretanto, pratica também esse pecado quem julga bem do próximo, apesar de ter razões ponderáveis para o contrário.

Não lançar pérolas aos porcos

E Jesus continuou: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que eles as calquem com os seus pés e, voltando-se contra vós, vos dilacerem” (Mt 7, 6).

Não lançar pérolas aos porcos

Explica Fillion que a palavra “santo” aqui significa a verdade evangélica, os sacramentos, etc. E acrescenta o exegeta: “Entre os judeus, os cães e os porcos eram considerados animais impuros”.

(Leia também: O Reino de Deus é um mistério entendido a partir da Fé)

Segundo a Bíblia, os cães são designados como o “tipo de homens despudorados, que ladram com audácia mesmo contra o que há de mais respeitável. Quanto aos porcos, conforme todos os povos, eles simbolizam a corrupção e a depravação”.

Ora, para se considerar um indivíduo como um cão ou um suíno, é necessário fazer um juízo… Este deve ser emitido com isenção de ânimo, com objetividade e retidão, visando apenas a glória de Deus e o bem do próximo.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 164)

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1- SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XXII, n.1. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v. I, p.450.
2 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 111-112.
3 – CLÁ DIAS, op. cit., p. 114.
4 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p.142.
5 – FILLION, op. cit. p. 143.

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