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A humanidade atual e o filho pródigo

Redação (Terça-feira, 09-10-2018, Gaudium Press) Além de exposições doutrinárias, como a do Sermão da Montanha, o Divino Mestre ensinava também através de parábolas. Entre estas, a mais bela é a do filho pródigo.

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O filho mais novo pecou, mas se arrependeu

“Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe.’ O pai repartiu entre eles os bens. Passados poucos dias, juntando tudo o que era seu, o filho mais novo partiu para uma terra distante e lá dissipou os seus bens, vivendo dissolutamente.

“Depois de ter consumido tudo, houve naquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidades. Foi pôr-se ao serviço de um habitante daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Desejava encher o seu ventre com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam.

“Tendo entrado em si, disse: ‘Quantos diaristas há em casa de meu pai que têm pão em abundância e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho, trata-me como a um dos teus diaristas.’

“Levantou-se e foi ter com o pai. Quando ele estava ainda longe, o pai viu-o, ficou movido de compaixão e, correndo, abraçou-o e o cobriu de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.’

“Porém, o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa o vestido mais precioso, vesti-o, colocai-lhe um anel no dedo e as sandálias nos pés.

Trazei também um vitelo gordo e matai-o. Comamos e façamos festa, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha se perdido e foi encontrado. ‘ E começaram a festa.

Péssima atitude do primogênito

“Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando voltou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e os coros. Chamou um dos servos, e perguntou-lhe que era aquilo. Este disse-lhe: ‘Teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque o recuperou com saúde.’ Ele indignou-se, e não queria entrar. Mas o pai, saindo, começou a pedir-lhe.

“Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, nunca transgredi nenhuma ordem tua e nunca me deste um cabrito para eu me banquetear com os meus amigos, mas logo que veio esse teu filho, que devorou os seus bens com prostitutas, mandaste-lhe matar o vitelo gordo.’

“Seu pai disse-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Era, porém, justo que houvesse banquete e festa, porque este teu irmão estava morto e ressuscitou, tinha-se perdido e foi encontrado'” (Lc 15,11-32).

Efeito do pecado na alma de um batizado

Essa parábola – que pode comover até às lágrimas! – é riquíssima de ensinamentos. Focalizaremos tão somente alguns pontos que nos parecem mais úteis para o mundo no qual vivemos.

Quando o filho mais novo saiu de casa, o demônio lhe prometeu uma vida fácil, cheia de prazeres. Entretanto, aconteceu o contrário: o rapaz chegou até a disputar as bolotas dos porcos… O demônio é o pai da mentira, não dá o que promete e tira aquilo que a pessoa arrastada por ele possui.

Arrependido e movido pela graça, o jovem da parábola resolve voltar para a casa paterna. E seu pai imediatamente manda que tragam a melhor túnica, um anel e sandálias para serem postos no filho.

Quanta simbologia há nesses detalhes!

“O filho, além de ter-se esquecido longamente de seu pai, havia esbanjado seus bens. É a imagem do efeito do pecado na alma de um batizado: o despoja dos méritos, dons e virtudes; priva-o das belas roupas sobrenaturais; sobretudo, rouba-lhe o incomensurável privilégio da adoção divina, e o faz retornar ao estado de mera criatura, e ainda manchada pela lama da ofensa a Deus.

“Porém, ao acusar suas misérias no confessionário e receber a absolvição, o homem é revestido dos mais preciosos tecidos da reconciliação, as sandálias dos méritos lhe são devolvidas e o anel de filho de Deus recolocado em seu dedo.”

Nossa Senhora virá ao encontro da humanidade arrependida

“Se traçássemos um paralelo entre a humanidade atual e o filho pródigo, com tristeza veríamos não estar ela muito distante do estágio no qual, reduzido à completa miséria, o jovem quis se alimentar com as bolotas dos porcos. Permitindo que os homens caiam nos horrores de um mundo contrário à virtude, Deus espera pacientemente o momento exato para lhes conceder as luzes de sua misericórdia, através de uma ação do Espírito Santo. […]

“E a fé nos faz crer que o futuro dos homens superará em muito o desfecho da parábola, sobretudo por causa de um elemento. Na narração, não aparece uma figura que na História tem papel fundamental: Maria Santíssima, a quem Deus constituiu Advogada e Refúgio dos pecadores, Mãe dos homens.

“Quando a humanidade pródiga começar a empreender o caminho de volta, essa Mãe virá ao seu encontro e a receberá com incomensurável bondade. Bastará então que Lhe seja dirigida a súplica humilde e confiante: ‘Pecamos contra Deus e contra Vós; já não merecemos ser chamados vossos filhos. Tratai-nos como se fôssemos servos.’

“Ela mesma intercederá, então, junto a seu Filho, levando-Lhe o pedido de clemência. Nesse momento em que os homens se apresentarem diante do trono da Divina Misericórdia, colocando-se na condição de escravos da Sabedoria Eterna e Encarnada, pelas mãos de Maria, estará concedido o perdão restaurador.

“E assim como o pai festejou o jovem arrependido, Deus tratará como filhos prediletos a estes que se entregarem sem reservas, e promoverá a comemoração inaugural de um novo regime de graças no plano da salvação: o Reino de Maria, era histórica da misericórdia, constituída por almas que, reconhecendo-se pecadoras, se terão deixado transformar pela força do perdão.”

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 167)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 232-233.

2 – Idem, op. cit., 2012, v. VI, p. 359-361.

 

 

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