Gaudium news > Sentinelas perpetuamente despertos

Sentinelas perpetuamente despertos

Redação (Quinta-feira, 08-11-2018, Gaudium Press) A adoração não é apenas um ato racional de quem acredita no Mistério Eucarístico por reconhecê-lo em sã lógica. Há muitos estudiosos e até grandes eruditos conhecedores da teologia, que escrevem ou dissertam sobre a Eucaristia de maneira magistral.

Sentinelas perpetuamente despertos.jpg

Isso não basta… e às vezes pode chegar a ser contraproducente. É que não se trata de saber quanto amar! É mais importante o amor que o conhecimento.

Precisamente, a primeira heresia que infectou os fiéis nos tempos da Igreja nascente foi a gnose (que em grego significa conhecimento) que sustentava -entre outros erros- a primazia do conhecer sobre o amar. Na realidade, como um camaleão, a gnose volta a aparecer de diversas formas ao longo da história humana, arrastando-se maliciosamente na mente dos fiéis para corrompê-la.

A ciência dos Santos é a do amor que leva as almas a extremos de delicadeza até Deus e até os homens. O amor, que não é outra coisa que a virtude da caridade que é infundida por Deus na alma gratuitamente, e não é, de modo algum, produto do engenho, do raciocínio ou do estudo.

É claro que o amor também motiva ao estudo e ao conhecimento dos mistérios da Fé, penetrando neles tanto quanto possa ser possível à pobre e limitada razão humana. Mas sem o amor, essa ciência vazia de sentido, será “como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine” (1 Cor, 13, 1).

Agora, acontece que o amor e o pecado são incompatíveis e excludentes. Por isso, um cuidado maior que se deve ter na vida espiritual é o de manter o estado de graça, estado que se rompe quando se comete um pecado mortal. Este é um ensinamento básico do catecismo de primeiras noções.

São Pedro Julião Eymard, emblemático adorador eucarístico que fundou tantas obras para o culto ao Santíssimo Sacramento, tem palavras de fogo sobre este tema tão central que deve preocupar a quem se aproxima do Pão dos Anjos; Mas… qual é, então, o tema? O da vigilância para não cair na tentação, vigilância que tanto se descuida, como se os perigos fossem utópicos, os riscos imaginários e a capacidade humana ilimitada…

Diz São Pedro Julião:

“Devemos estimar o estado de graça acima de tudo, e não temer nada tanto como as ocasiões de pecar. Levamos nosso tesouro em vasos tão frágeis! Precisamos desconfiar a todo momento e estar alerta! Até Maria treme na presença do anjo! Devemos usar todos os meios para conservar intacta a pureza de nossa alma e ser como um sentinela perpetuamente desperto. Vigilemos sobre nossos sentidos.

“Ao nos encontrar nas cidades tão corrompidas de hoje, deveríamos colocar as duas mãos sobre os olhos, para que a morte não suba por nossas janelas. Deveríamos dizer sem cessar: ‘Deus meu, em tuas mãos encomendo meu espírito’. A atmosfera das cidades está infectada; o pecado reina como soberano e as pessoas gloriam-se por servir-lhe; o ar que se respira é asfixiante; surgem tentações maiores; há névoas de pecado que aspiramos, pela qual temos que vigiar com mais rigor.

“Quem recebeu maiores graças, vigie ainda mais. Ninguém tem tantos motivos para temer como o que recebeu algum dom de oração, pois a quem procede de países quentes o frio impressiona mais que a nenhum outro. Do próprio modo, quem vive de Deus tem necessidade de uma vigilância mais solícita quando se encontra no mundo.

“Se veem às vezes, almas piedosas que tem lamentáveis quedas, apesar de comungar e orar bem! Claro, não vigiavam bastante! Eram como crianças mimadas no seio da família, que não pensavam nos ferozes leões que rondavam ao seu redor. Os Santos andavam com mais cuidado que nenhum outro, pelo mesmo motivo que se sentiam mais ricos e conheciam sua fraqueza. Sim, a medida que aumentam as graças a pessoa fica ainda mais exposta, e quanto mais amado é, tanto mais há que temer. (…) No céu caíram os anjos!”.

+ + + +

O século e meio que nos separa do tempo em que foi escrita esta meditação, não lhe tira uma palpitante atualidade. E mais, pareceria ter sido redigida nos dias que correm: “atmosfera infectada”, “ar asfixiante”, “névoas de pecado”…

Lamentavelmente, são poucos os valentes que falam com essa claridade e contundência em nossos dias. São Pedro Julião não foi daqueles que se submetem ao “politicamente correto”, sacrificando a integridade da verdade com consequências fatais para a saúde da alma e seu destino eterno.

Se o Senhor se encarnou há dois mil anos -e permanece na Eucaristia- pelos pecadores e não pelos justos, pelos enfermos e não pelos sãos, aproximemo-nos com confiança a essa fonte de vida e de graça que é a Hóstia Santa, para pedir ser sempre vigilantes, sentinelas perpetuamente despertos e em ordem de batalha contra o mundo, o demônio e a carne, esses inimigos de sempre, que um relativismo doentio nos leva a relativizar.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas