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Artigo: Cantar, trabalhar ou rezar?

 

O jardim de uma casa é um lugar excelente para uma boa conversa. Nele as pessoas descansam um pouco de suas árduas tarefas e desfrutam de um dos sentidos mais importantes da vida, o convívio. Mas se analisarmos melhor este ambiente encantador, vamos notar que nele há vida em abundância, por mais que não notemos à primeira vista. Os vegetais são os que mais se ressaltam em um jardim. Mas também quantos insetos ali se abrigam?

Creio que todos, ao menos uma vez, já ouviram algum conto de fadas. Pois bem, neste jardim os insetos falam e têm vida como a nossa.

Estamos em pleno verão, o calor tórrido não cessa de fustigar este lindo jardim e as famosas “chuvas de verão” há tempos não vêm regar as secas ramagens. Os habitantes do jardim já esgotaram toda a reserva de água e não sabem o que fazer. Nesta situação, a Abelha Rainha resolveu convocar uma assembleia para deliberar uma solução.

Na hora marcada, todos estavam reunidos debaixo de uma linda roseira, a qual proporcionava um pouco de frescor em meio ao calor. E a Abelha Rainha tomou a palavra: “Povo deste reino, estamos reunidos a fim de encontrar uma solução para a seca, pois todos sabem que nosso jardim há muito não é regado pelas benévolas chuvas. Diante desta situação, proponho que deliberemos um plano para criar uma pequena represa que nos garantirá água em abundância durante todo o verão, mas para isso precisamos do auxílio de todos os moradores deste jardim”.

Foi neste momento que a Cigarra levantou sua voz estridente e cheia de insolência: “Ah não! Trabalhar no verão não. Chega! Temos que aproveitar a nossa vida de inseto, pois vivemos muito pouco e o melhor é sugar todo o prazer que a vida pode nos dar. Pouco importa se morreremos depois, pois vamos morrer de qualquer jeito”. Estas arrogantes palavras foram seguidas de vivas aclamações por parte dos Mosquitos e Pernilongos. As Abelhas que faziam a guarda da Rainha tiveram que controlar a situação a fim de evitar uma revolta.

Em seguida, levantou-se uma saudável Formiga e começou seu discurso: “Povo aqui reunido, nós somos capazes de enfrentar esta situação. Somos insetos fortes, cada um com a sua qualidade. Podemos, com o próprio esforço, vencer esta crise. Nós Formigas nos encarregaremos de fazer as barragens para a represa. Rainha, conte com a nossa ajuda”.

Estas palavras encheram de ânimo aqueles insetos e logo começaram a distribuir as funções, segundo suas qualidades: as Minhocas se ocupariam dos trabalhos subterrâneos; as Aranhas cuidariam do cordão de isolamento a fim de evitar acidentes; os Besouros fariam o transporte pesado; os Gafanhotos seriam os responsáveis pela rápida comunicação; os Vaga-lumes permitiriam o trabalho noturno; as Abelhas fariam o carregamento aéreo; e com isto, segundo os cálculos, em apenas uma semana eles teriam uma represa que lhes garantiria água por todo o verão.

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A Abelha Rainha estava exultante com o resultado da reunião. Neste momento se levantou no fundo da assembleia um personagem esguio, de uma tonalidade austera: era o Louva-a-Deus. Com sua frequente calma, ele tomou a palavra: “Venerável Abelha Rainha e dedicado povo deste jardim, saudações. É perceptível a dificuldade que enfrentamos e a necessidade de uma atuação. Os planos propostos parecem bons e, se executados em conjunto, provavelmente atingirão o seu fim. Apenas proponho uma única coisa, que todos façamos uma oração em conjunto no alto da rocha que fica no centro do jardim, a fim de pedir que o nosso benigno Deus proteja e auxilie nossos trabalhos”. Estas palavras alegraram as Joaninhas, que sempre faziam suas orações naquele local. Mas nem todos gostaram de ouvi-las…

A Cigarra mais uma vez soltou aquela voz característica: “Se quiserem, trabalhem e rezem, mas eu e meus amigos Mosquitos estaremos no lodo que fica embaixo da samambaia para nos divertir. Há, há, há!!!”. E a Formiga retorquiu: “Faça como quiser Cigarra, mas quando esta represa estiver pronta, não conte com a nossa ajuda. E você Louva-a-Deus, fique sabendo que não será uma oração que fará surgir uma represa, é o trabalho e o esforço que garantem o nosso futuro, entendeu?”.

A Abelha Rainha entristeceu-se com isto, pois admirava muito aquela serenidade própria ao Louva-a-Deus, o qual manteve silêncio diante daqueles insultos. Mas, assim ficou decidido e os trabalhos começariam no dia seguinte.

Era grande a expectativa quando o sol raiou, todos estavam ansiosos por realizar aquele empreendimento. Que impressionante! Apenas algumas horas de trabalho e eles já tinham alcançado o resultado esperado para três dias. Tudo era sucesso e a técnica parecia triunfar sobre o desejo de prazer da Cigarra e a fé do Louva-a-Deus.

No horário marcado pelo Louva-a-Deus, lá estavam todas as Joaninhas, na rocha, a fim de louvar a Deus pela oração.

No entanto, algo estranho começou a acontecer. Um grande vendaval surgiu repentinamente, dificultando o trabalho das Formigas, mas a ordem de comando era: “Vamos em frente, pois nem Deus impedirá o nosso sucesso”… Será?

Algo incrível sucedeu, era uma chuva de granizo que veio assolar aquelas pobres criaturas, talvez a mais forte que já houve naquela região. Em meio aos trabalhos se estabeleceu o caos, ninguém sabia para onde fugir nem o que fazer. Os robustos Besouros viram seus cascos arrebentados pela pancada dos granizos; as Abelhas não resistiram à violência do vento; as esforçadas Formigas foram completamente aniquiladas pelas próprias barragens que sobre elas desabaram. Bastaram trinta minutos para a tempestade espalhar o pânico e o terror naquele lindo jardim. Grande foi a mortandade… Inclusive a Cigarra, os Mosquitos e os Pernilongos, foram cruelmente destroçados por uma pedra que despencou.

Mas onde estavam as Joaninhas e o Louva-a-Deus?

Após o inseticídio, a Abelha Rainha saiu de sua colmeia e avistou aquela chocante cena. No entanto, viu que na pedra situada no centro do jardim havia caído uma grande casca de árvore bem em cima dos que estavam rezando, e que devido à curvatura da casca, ela serviu de abrigo durante a tempestade. Em alguns instantes, saíram o Louva-a-Deus e as joaninhas, perplexos por verem-se salvos de tão terrível acontecimento.

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E a Abelha Rainha compreendeu bem a lição. A diversão (lícita) faz parte da vida e tem os seus momentos, o trabalho também é necessário para a sobrevivência e deve ser executado com toda diligência, mas a oração é o que há de mais importante, ainda quando não vemos com os próprios olhos a este Deus que nos criou. Triste fim dos que buscaram somente o prazer ou o fazer.

Assim acontecerá quando vier Jesus Cristo para julgar: “Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: – Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna” (Mt 25,31-34.41.46).

Vale a pena se arriscar levando uma vida como se Deus não existisse? Ou será melhor viver de acordo com os mandamentos de Deus enquanto é tempo?

 

Thiago de Oliveira Geraldo

 

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