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Avivar e reviver

Redação (Terça-feira, 09-01-2018, Gaudium Press) Começa 2018; e como se experimenta em cada mudança de ano, se nutrem desejos, esperanças e, também, apreensões.

Só que desta vez, somos assaltados por preocupações e temores maiores do que em outras ocasiões, ao constatar quanto a humanidade está se afastando das vias cristãs.

De todas as razões que poderiam ser dadas para justificar esta inquietude e temor, há uma que se destaca protuberantemente: é o estado de desdém generalizado e crescente, quando não de irreverência, com que é tratado o mistério eucarístico.

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Não nos referimos ao que já vai deixando de ser notícia, como são os sacrilégios que se cometem contra os sacrários que guardam o precioso tesouro da presença real. Aos poucos vemos que são violados, jogadas as hóstias consagradas pelo chão… ou levadas para ser utilizadas em ritos satânicos. Justamente uma notícia nos vem de Roma nesse sentido. Na igreja de ‘San Lorenzo in Piscibus’, que está situada a poucos metros da Praça de São Pedro, em dezembro passado, ocorreu um furto sacrílego de hóstias consagradas. Ao lado do Vaticano! Dito templo é também sede do Centro Internacional Juvenil San Lorenzo, organização que colabora na preparação das sucessivas edições da Jornada Mundial da Juventude.

Até onde chegará a audácia dos profanadores? É o caso de orar com o salmista: “Até quando, Yahveh, me esquecerás? Para sempre? Até quando me esconderás teu rosto? Até quando terei angústia em minha alma, em meu coração, dia e noite? Até quando triunfará sobre mim meu inimigo?” (Salmo 13).

Se a esses chocantes sacrilégios somamos outros, muito menos aparentes, mas mais numerosos, que cometem aquelas pessoas que se aproximam para receber a Comunhão em estado de pecado mortal, o que dizer?

‘De Internis non iudicat Ecclesia’; A Igreja não julga essa área delicada e tão pessoal das consciências. Mas é um fato constatável contra o qual não valem os argumentos: muitas pessoas se aproximam da comunhão e pouquíssimas do confessionário. Nesta ação, há, digamos, pelo menos, um desequilíbrio…

Outro sintoma perturbador é o não pequeno número de pessoas que recebem a comunhão em trajes nada conformes com a sublimidade do Sacramento Eucarístico, faltando assim o respeito ao Senhor e escandalizando ao povo fiel.

Mas deixemos de lado a impiedade, seja volumosa ou discreta, e reflitamos sobre o que poderíamos chamar de “distração” de tantas pessoas em relação à Eucaristia.

Nos sacrários de nossas igrejas e capelas se conserva o Santíssimo. Para indicar a divina presença, há sempre uma lâmpada acesa que diz àquele que chega ou ao que passa: “Deus está aqui”. Entretanto, se tornou normal que as pessoas entrem em uma igreja e não cumprimentem ao Santíssimo com a genuflexão adequada. Nem mesmo um gesto à distância, uma vênia, um olhar, nada!

Não pensamos em turistas agnósticos ou em curiosos ocasionais para os quais a Hóstia consagrada não representará grande coisa… Trata-se muitas vezes de fiéis católicos que vão participar de uma celebração, um casamento, por exemplo.

Falta consentida? Ignorância culposa? Ligeireza irresponsável? Descuido involuntário? …seja o que for: o assunto está confirmado. Até se poderá supor que em muitos casos as pessoas são mais vítimas do que culpadas, mas a consequência é óbvia: o Senhor não é adorado nem respeitado em seu Sacramento do Amor.

Há outro indício muito preocupante ao qual aludiu o Papa Francisco em sua catequese durante a audiência geral de 13 de dezembro de 2017: é o não cumprimento do preceito dominical por parte de muitos católicos. “Algumas sociedades secularizadas perderam o sentido cristão do domingo iluminado pela Eucaristia. É um pecado, isto.” (…) “Os cristãos temos necessidade de participar da Missa dominical porque somente com a graça de Jesus, com sua presença viva em nós e entre nós, podemos pôr em prática seu mandamento, e assim ser suas testemunhas credíveis”.

Então, fica claro que aqueles que não cumprem com o dever dominical, pecam; e se não se nutrem da energia indispensável que parte da Eucaristia, para cumprir com o preceito, não poderão realizar a obrigação. Se diria que é um círculo vicioso: se não vou, peco; e, ao não ir, não tenho força para deixar de pecar… Como romper esta aparente fatalidade? Simplesmente recomeçando a ir à Missa novamente, saudando com respeito ao Santíssimo como o aprendemos desde criança e cuidando da apresentação para ir ao encontro do Senhor!

Trata-se de avivar os ensinamentos básicos do catecismo que em tantos casos se tornaram letra morta; mas também de recordar e reviver os encantos da primeira comunhão, feita naquela atmosfera inocente e primaveril da vida espiritual, antes de que a venalidade da idade madura chegasse a manchar o amor no coração. Nunca será tarde: enquanto houver tempo, há oportunidades para “pavimentar os caminhos” (como pregavam Isaías e João Batista).

Ignorância e ofensas em relação à Eucaristia, são alguns dos sombrios sinais dos tempos com que se abre 2018. Que ao iniciar o ano de 2019, as coisas sejam diametralmente outras. Enquanto isso, vamos pavimentando trilhas, seguros de que é da Eucaristia de onde parte qualquer regeneração.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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