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A “Escola Eucarística” de Maria

Redação (Segunda-feira, 05-02-2018, Gaudium Press) Ao termo “eucaristia” nos referimos imediatamente ao Corpo de Cristo, ao Santo Sacrifício da Missa, à Comunhão sacramental. Mas é também extensível a uma atitude de alma de gratidão e de imolação. Em grego, “eucaristia” significa ação de graças, demonstração de gratidão, reconhecimento.

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Neste sentido, todos os momentos da vida da Virgem Maria foram Eucarísticos, na aceitação mais plena e literal da palavra, já que sua vida sempre foi sempre uma oferta agradável a Deus.

Seu ‘fiat’ na casa de Nazaré, dando seu consentimento para que se realizasse o mistério da Encarnação, foi um momento forte, daqueles que chamamos de “eucarísticos”. Tendo concebido por obra do Espírito Santo, e durante os nove meses que se seguiram, Ela se transformou no primeiro e mais sublime sacrário da história. Sacrário itinerante e processional, viajando pelas montanhas da Judeia para servir a sua prima Isabel, ou passando pela cidade de Davi com seu marido virginal, em obediência ao decreto de César Augusto, para que pudesse se dar o prodigioso nascimento do Filho de Deus em uma gruta, na ocasião transformada em palácio.

O que dizer dos trinta anos de intimidade de Jesus, Maria e José na casa de Nazaré? Eles não foram mais do que uma contínua ação de graças.

Já em Caná da Galileia, em vista da necessidade de novos cônjuges que festejavam suas núpcias, Ela nos ensina a estar atentos às necessidades dos outros e a cumprir os desígnios divinos. Como se sabe, adiantando a hora do Senhor, Nossa Senhora disse: “Façam o que Ele lhe disser” e a água se transformou em vinho naquela primeira ceia da vida pública de Jesus. O que pode haver de mais eucarístico e mais evangélico do que este conselho?

E, na última ceia, quando, ardendo de amor, o Senhor fez a transformação do pão e do vinho em seu corpo e em seu sangue para dar-se em alimento, Maria certamente soube e acompanhou esse magno acontecimento.

São João Paulo II nos diz em sua Encíclica ‘Ecclesia de Eucharistia’: “No relato da instituição, a tarde da Quinta-Feira Santa, não se menciona Maria. Sabe-se, no entanto, que estava junto com os apóstolos, concordes na oração (cf Atos 1, 14), na primeira comunidade reunida depois da Ascensão aguardando o Pentecostes. (…) Mas, além de sua participação no banquete eucarístico, a relação de Maria com a Eucaristia pode ser delineada indiretamente a partir de sua atitude interior. Maria é uma mulher eucarística com toda a vida. (…) (n ° 53).

É interessante citar aqui um testemunho singular e maravilhoso: uma vidente concepcionista espanhola do século XVII, a Venerável Irmã Maria de Agreda, a quem Maria Santíssima ditou sua vida, descreve como a Virgem viveu na Quinta-feira Santa. Suas revelações, que podem ser acreditadas piedosamente, embora não façam parte da Revelação oficial da Igreja, estão incluídas no livro “Cidade Mística de Deus”, um clássico da espiritualidade cristã.

Depois de considerar o que o Evangelho nos narra sobre a última ceia, diz a religiosa: “… partiu depois outra partícula do pão consagrado e a entregou ao Arcanjo São Gabriel, para que a leva-se e recebesse Maria Santíssima (…) Ficou depositado o Santíssimo Sacramento no peito de Maria Santíssima e sobre o coração, como legítimo sacrário e tabernáculo do Altíssimo. E durou este depósito do sacramento inefável da Eucaristia todo o tempo que passou desde aquela noite até depois da ressurreição, quando São Pedro consagrou e rezou a primeira Missa”.

Alguém poderá dizer: “mas este pormenor não o revelam os Evangelhos”. É verdade. Mas os evangelistas nada nos dizem sobre uma aparição do Senhor Ressuscitado a Maria. E no entanto, é um lugar comum entre teólogos, santos e povo fiel, que não pode ser de outra maneira. Comovido e agradecido, sendo o melhor dos filhos nascido de mulher Jesus não ia premiar e consolar a Mãe nessas circunstâncias?

Junto à Cruz, a oblação eucarística de Maria chegou ao seu auge ao consentir em tudo o que passou com o fruto de suas entranhas. Sem ser Ela propriamente sacerdote ordenado, atuou como sacerdote sacrificador dizendo um novo ‘fiat’ ao Pai eterno. Abraão imolando Isaac prefigurou Maria no Calvário. Naquele altar do monte providencial, um anjo sustentou o punhal do Patriarca. No Calvário esse anjo não veio e o sacrifício de Cristo se consumou.

Também, junto a Jesus na Cruz, Ela se tornou oficialmente nossa Mãe ao receber-nos em seu coração ferido, em obediência ao testamento de Jesus que transformou nossa pobre humanidade em oferenda: “aí tens ao teu filho”.

Por fim, em Pentecostes, a que é Esposa do Espírito Santo, realiza um singular ministério eucarístico reunindo aos discípulos e atraindo para eles a vinda do Paráclito. Desta vez não é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade a que se encarna como em Nazaré ou toma o lugar do pão e do vinho como na última ceia; é a Terceira Pessoa que é comunicada aos fiéis da Igreja nascente para renovar a face da terra, não sem a mediação de Maria.

Ao longo de dois mil anos de história cristã, a Virgem Mãe, “Mulher Eucarística”, obra incessantemente a tarefa de dispensar aos fiéis a graça de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, que Ela conquistou por desígnio divino e com seu concurso sacrificial. O faz muito especialmente nos dias que correm, atraindo à terra o triunfo do seu Imaculado Coração, em cumprimento de sua profética promessa feita na Cova da Iria.

Assunção, fevereiro de 2018

Por Padre Rafael Ibarguren EP

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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