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Parábola do semeador

Redação (Quinta-feira, 27-12-2018, Gaudium Press) Em suas pregações, Nosso Senhor narrou diversas parábolas. Todas elas giravam em torno de um tema fundamental: o Reino de Deus, “o qual, na sua essência, é constituído pela Igreja Católica”. Analisemos sinteticamente a parábola do semeador.

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Modos de ouvir a palavra de Deus

“O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o Sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz.

“Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!” (Mt 13, 3-9).

O Divino Mestre explica aos Apóstolos o significado dessa parábola.

“A todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. A semente que caiu em terreno pedregoso é quem ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo.

“A semente que caiu no meio dos espinhos é quem ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto. A semente que caiu em boa terra é quem ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta” (Mt 13, 19-23)

A beira do caminho e os pedregulhos

O semeador representa o apóstolo que difunde a palavra de Deus, cuja vitalidade é figurada pela semente que germina. E os diversos tipos de terra simbolizam os modos pelos quais as pessoas ouvem a palavra divina.

Na beira do caminho o solo é duro e estéril; o grão que ali cai acaba servindo de alimento aos pássaros. “Isso é o que ocorre com as almas que deram as costas a Deus e apegaram-se desordenadamente às criaturas. Nesses pecadores o coração fica endurecido como a terra batida pelos passos dos caminhantes; sua fé torna-se insuficiente, a palavra divina não penetra no interior deles, porque a ouvem com displicência.”

O terreno com pedregulhos “representa a inconstância de coração, a superficialidade de espírito daqueles que, ouvindo a palavra de Deus, por vezes até com verdadeiro encanto, logo se distraem com alguma banalidade. Em tais almas, as graças recebidas não conseguem se arraigar.

“Quando começamos a trilhar as vias da virtude, em geral, por especial misericórdia divina, os primeiros momentos são acompanhados de grandes graças sensíveis que nos enchem de entusiasmo e encanto. Mais tarde, entretanto, o vento das provações nos sacode e a aridez nos invade.

“Trata-se então, uma vez que ouvimos e compreendemos a palavra, de continuarmos firmes no caminho, enfrentando a tempestade interior, agindo durante a insensibilidade como se estivéssemos no tempo da consolação. Nisso consiste a fidelidade à palavra de Deus.”

Os espinhos

Os espinhos representam o apego ao dinheiro e aos bens deste mundo.

“Quem tem desproporcionada preocupação com os bens materiais, a ponto de preferi-los aos valores sobrenaturais, está pronto para sufocar a palavra divina.

“É, por exemplo, o defeito daquele que se esforça apenas em cuidar de seus negócios. Quando recebe a palavra, no primeiro momento sente-se por ela atraído, mas logo se deixa absorver por completo pelo apego ao mundo. Como sua atenção está centrada na posse dos bens terrenos, e não na sua própria santificação, os espinhos das ambições mundanas crescem e sufocam a palavra. […]

A terra boa e a diversidade de frutificação

“A semente que caiu em terra boa e se desenvolve é figura daquele que ouve a palavra de Deus com entusiasmo e depois toma a decisão séria de mudar de vida, abandonando o pecado, a superficialidade de espírito e os apegos desordenados; ou seja, rompe de fato com tudo quanto significa terra endurecida, pedregulho ou espinho, e entrega-se completamente à prática da virtude. Esse, sim, produz todos os frutos!” […]

“O Divino Redentor faz questão de frisar a diversidade de frutificação da semente da palavra nas almas: trinta, sessenta e cem por um. Uma demonstração a mais de que Deus tudo cria em hierarquia. Uns são chamados a dar trinta, de outros o Senhor exigirá cem, ou talvez mais, conforme a quantidade de dons concedidos a cada um. ‘A quem muito se deu, muito se exigirá’ (Lc 12, 48), adverte-nos o Divino Mestre.”

Nossa Senhora, a terra fertilíssima por excelência

Quem ouviu e compreendeu por inteiro essa parábola foi Maria Santíssima, que certamente dela tomou conhecimento com insuperável enlevo e amor.

Ao falar em “boa terra” e em semente que produziu cem por um, provavelmente Jesus pensou em sua Imaculada Mãe, “a terra fertilíssima por excelência para fazer desabrochar a semente divina na plenitude.

“Toda a vida da Santíssima Virgem foi um contínuo sim à vontade de Deus. Quando Ele A inspirou a fazer voto de virgindade, Ela aquiesceu com todo o entusiasmo. Ao Lhe ser anunciada a Encarnação do Verbo, sua resposta foi: ‘Faça-se em Mim segundo a vossa palavra’ (Lc 1, 38), e a Palavra Se fez carne nesta terra imaculada. Ao ouvir dos pastores o que os Anjos lhes haviam comunicado,

Ela guardou e conferiu em seu coração todas essas palavras (cf. Lc 2, 51). E o mesmo fez durante toda a vida com tudo quanto os adoráveis lábios de seu Divino Filho proferiram, até o ‘Consummatum est!’ […]

“Enfim, o Coração Imaculado de Maria Santíssima é um Evangelho vivo, cujas maravilhas ainda estão para ser conhecidas!”
Que Nossa Senhora nos conceda a graça de sermos inteiramente fiéis à palavra de Deus, difundindo-a com entusiasmo para que seja logo esmagado o reino de demônio e implantado o Reino de Maria.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” 175)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. IV, p. 161.

2 – Idem, ibidem, 2013, v. II, p. 212-215.

3 – Idem, ibidem, 2013, v. II, p. 216-217.

 

 

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