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A admirável Fé do centurião

Redação (Quarta-feira, 23-01-2019, Gaudium Press) Um oficial romano, que residia em Cafarnaum, tinha em sua casa um servo a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. Sabendo que Jesus Se encontrava nessa cidade, o oficial pediu a alguns anciãos dos judeus que se dirigissem a Nosso Senhor e Lhe rogassem que fosse salvar seu escravo.

Os centuriões eram muito respeitados pelos judeus

Os anciãos foram ao local onde estava o Divino Mestre e “pediram-Lhe com insistência: ‘O oficial merece que lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga.’

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“Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: ‘Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz’.

“Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-Se para a multidão que o seguia, e disse: ‘Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha Fé.’ Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde (Lc 7, 2-10).
São Mateus, narrando esse episódio (cf. Mt 8, 5-13), especifica que o oficial era um centurião, ou seja, chefe de cem soldados.

“Embora pagãos, os centuriões gozavam de grande popularidade entre os judeus, por serem tidos por militares bem conceituados, capazes e experientes na arte da guerra, além de respeitados por sua autoridade.”

Na realidade, esse “empregado” era um escravo. Segundo o Direito Romano, o escravo era considerado coisa, sendo geralmente tratado com brutalidade pelo seu senhor, que podia inclusive tirar-lhe a vida.

“Nem mesmo em Israel encontrei tamanha Fé!”

Assim, ficamos admirados pela compaixão do oficial para com seu servo. Isso mostra que ele possuía retidão de alma e estava sendo trabalhado pela graça divina.

Devido a seu cargo, era um homem abastado; e também bastante generoso, pois mandara construir uma sinagoga para os judeus.

Além disso era humilde, julgando-se indigno de que Jesus entrasse em sua casa. E amava a hierarquia como o demonstra sua afirmação de que estava sujeito a um superior, e tinha soldados que obedeciam às suas ordens.

Em sua súplica, ele emprega o termo “ordena”. Comenta Monsenhor João Clá:

“Acostumado à disciplina, o centurião conhecia o poder de uma ordem, sobretudo no exército romano, cujo rigor prescrevia a pena capital aos insubordinados. Tal intransigência disciplinar havia criado um reflexo em sua alma, levando-o a reagir no campo sobrenatural, ao lhe ser infundida a Fé, de acordo com o treinamento militar. Pois, do mesmo modo que uma única ordem era suficiente para mobilizar seus soldados sem a necessidade da presença física do comandante, ele cria bastar uma só palavra do Mestre para tudo se resolver.”

Por sua vez, afirma Fillion:
“Sob esta linguagem direta, totalmente militar, havia uma Fé e uma humildade admiráveis. O centurião supunha com acerto que Nosso Senhor era o dono de todas as forças da natureza, e podia lhes dar ordens quando quisesse.”

De todas as virtudes do oficial, referidas acima, a fundamental era a Fé, que foi a única elogiada por Nosso Senhor: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha Fé!” (Lc 7, 9).

Roguemos a Nosso Senhor que venha à nossa alma

“Devemos nos compenetrar da necessidade de nos dirigirmos a Nosso Senhor em nossas dificuldades – tanto espirituais, quanto temporais -, com a certeza de que nossa Fé moverá sua infinita misericórdia a nos atender.

“E assim como a gentilidade não foi motivo para o centurião recear ser ouvido por Cristo, nossa confiança em sua ação deve passar por cima das nossas próprias insuficiências, certos de que diante d’Ele não é preciso merecer, mas apenas pedir com Fé.

“Imortalizada pelo Evangelho e recolhida pela Liturgia da Igreja a fim de predispor convenientemente todos aqueles que vão receber a comunhão eucarística, a prece do centurião atravessou os séculos como modelo de perfeita atitude de alma de um fiel, ao encontrar-se diante do Salvador: ‘Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo.’

“Entretanto, há uma substancial diferença entre a oração dirigida a Jesus em Cafarnaum e a que se eleva a Ele em todos os recantos do mundo, junto ao altar: nos lábios do centurião, expressava o desejo de uma alma que, crendo de modo extraordinário no poder d’Ele e julgando-se indigna de recebê-Lo, pedia-Lhe que não fosse à sua casa, curando seu servo à distância. Ao brotar de nosso coração católico, a mesma súplica também confessa a indignidade de receber a Cristo; não obstante, implora, ao mesmo tempo, que Ele venha à nossa alma e, nessa visita, nos diga uma palavra interior que cure nossas misérias e nos restaure inteiramente.

“Se Ele, sem ter entrado na casa do oficial, atendeu àquele pedido confiante, que milagres seu Sagrado Coração não anseia fazer por nós, ao vir à nossa alma na Eucaristia? Para tal, Ele nos pede apenas que confiemos de modo incondicional em sua onipotência, cujos efeitos tanto mais se manifestarão em nós quanto maior for nossa Fé.”

E para que nossa Fé seja crescente, peçamos humildemente a Nosso Senhor, por meio de Maria Santíssima: “Senhor, eu creio, mas ajudai-me em minha incredulidade” (cf. Mc 9, 24).

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 178)

(/JSG)

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 126.
2- Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Luc. Paris: Lethielleux. 1889, p. 149.
3- CLÁ DIAS, op. cit., p. 131-132.
4- FILLION, Los milagros de Jesucristo, Barcelona/México: Circulo Latino, 2005, p.296.
5- CLÁ DIAS, op. cit., p. 135.

 

 

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