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Cena grandiosa no Tabor

Redação (Terça-feira, 05-01-2019, Gaudium Press) Seis dias depois do episódio da confissão e primado de Pedro, em Cesareia de Filipe, Nosso Senhor dirigiu-Se com os Apóstolos ao Monte Tabor, situado a uns 80 km da cidade em que se encontravam.

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Os Apóstolos caíram com o rosto em terra

Narra São Mateus:

“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha [o Tabor]. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o Sol e as suas roupas ficaram brancas como a neve. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus.

“Então Pedro tomou a palavra e disse: ‘Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, e outra para Elias.’

“Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus todo meu agrado. Escutai-O!’

“Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus Se aproximou, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos, e não tenhais medo!’ Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus.

“Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: ‘Não conteis a ninguém esta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos'” (Mt 17, 1-9).

A esse acontecimento grandioso a Igreja chama de Transfiguração e, para celebrá-lo, instituiu uma festa que é comemorada em 6 de agosto.

Somente três foram os escolhidos

Por que Nosso Senhor escolheu apenas três Apóstolos? Entre os diversos motivos, indicaremos alguns deles.

Pedro é o Chefe da Igreja; João, o Discípulo amado; Tiago, um Apóstolo de fogo. Jesus, no Tabor, mostrou-lhes, embora de modo imperfeito, como seria Ele no dia da Ressurreição, para que “não duvidassem de sua divindade vendo-O no alto da Cruz, perdendo todo o seu Sangue até morrer, mas tivessem a certeza, dada pela Fé e robustecida por essa comprovação, de que Ele iria ressuscitar, e sustentassem a Fé de todos os que O seguiam”.

Elegendo os três, Jesus nos revela “seu amor ao princípio de mediação. Muitas vezes Deus dá graças só a uns poucos, com o intuito de que estes depois transmitam aos outros tais experiências sobrenaturais. Assim a Providência indica como, para não vacilar na própria Fé, é preciso confiar na de outrem ou fortalecer-se com o exemplo de quem a tem mais vigorosa”.

Jesus concedeu a Pedro, João e Tiago mais graças do que aos outros Apóstolos, pois Ele ama a harmônica e proporcionada desigualdade que se manifesta em toda a Criação.

Quanto à presença de Moisés e Elias, afirma São João Crisóstomo que eles aparecem na Transfiguração “para que se soubesse que Ele tinha poder sobre a morte e sobre a vida; por esta razão apresenta Moisés, que tinha morrido, e Elias, que ainda vivia”.

Alma na visão beatífica e Corpo padecente

“Seu rosto brilhou como o Sol e as suas roupas ficaram brancas como a neve” (Mt 17, 2), ou seja, o Redentor quis que seu Corpo padecente aparecesse como glorioso.

“Em virtude da união hipostática a Alma de Nosso Senhor foi criada na visão beatífica, e o normal seria que seu Corpo gozasse de igual perfeição. No entanto, Cristo suspendeu para Si esta lei, por Ele mesmo estabelecida, assumindo um corpo padecente com vistas a operar a Redenção.

“Apesar disso, encontramos ao longo de sua vida uma série de circunstâncias em que Ele teve, de maneira miraculosa, determinadas propriedades do corpo glorioso: a sutileza, ao nascer, passando do claustro interior de Nossa Senhora para os braços d’Ela, sem feri-La nem causar-Lhe dano algum; a impassibilidade, quando quiseram apedrejá-Lo e matá-Lo em Nazaré, e Ele escapou ileso (cf. Lc 4, 29-30); a agilidade, caminhando sobre as águas (cf. Mt 14, 25); e a claridade, […] na cena da Transfiguração.

“Durante a Transfiguração, […] a pulcritude da Alma de Jesus revestiu sua natureza humana perfeitíssima. Foi a glória interior que se explicitou ante o olhar de quem teve a felicidade de estar no Tabor naquele momento.”

A Transfiguração foi uma excelsa graça de consolação que os Apóstolos receberam. O pedido de São Pedro para que ali fossem feitas três tendas – uma para Jesus, outra para Moisés e a terceira para Elias – mostra como ele queria permanecer para sempre na consolação.

Entretanto, essa graça foi-lhes concedida a fim de prepará-los para as grandes provações que viriam: a agonia no Horto das Oliveiras, todos os sofrimentos da Paixão e a Morte do Redentor. E depois a alegria da Ressurreição, simbolizada pela Transfiguração.

Caíram com a face em terra

“Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus todo meu agrado. Escutai-O!'” (Mt 17, 5).

“A voz do Senhor toca a fundo o coração dos inocentes, tal qual se deu com Pedro na barca ou com Tomé no Cenáculo: caem com a face por terra. Sobre os maus, seu efeito é bem o contrário: caem de costas, como sucedeu com os soldados que foram prender Jesus no Horto das Oliveiras.”

Por que Nosso Senhor recomenda aos Apóstolos que “a ninguém contem esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos” (Mt 17, 9)?

“Caso a notícia se espalhasse, receava Jesus que surgisse um movimento meramente exterior e materialista, da parte de quem ansiava por um Messias temporal, restaurador do poderio de Israel sobre as outras nações.”

Anteriormente, Nosso Senhor havia afirmado aos Apóstolos que iria morrer, e agora declara que ressuscitaria. Mas eles não se compenetravam disso porque pouca era sua Fé.

Peçamos a Nossa Senhora a graça de aumentar nossa Fé e nos preparar para os grandiosos acontecimentos que se avizinham, como a própria Virgem anunciou em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.”

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 180)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 146-147.

2 – SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, In Matthæum, c. XVII, v.1-4.

3 – CLÁ DIAS, op. cit. 2014, v. III, p. 193.

4 -Idem, op. cit., 2013, v. I, p. 202.

5 – Idem, op. cit., 2013, v. VII, p. 136.

 

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