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Sacrários e sacrários

Redação (Quinta-feira, 07-03-2019, Gaudium Press) Sabemos que o sacrário é o lugar destinado à reserva da Eucaristia nas igrejas. O Direito Canônico estabelece que seja sólido, não transparente e inviolável.

O numeral 1379 do Catecismo da Igreja Católica nos oferece uma preciosa síntese sobre o tema: “O sacrário (tabernáculo) estava primeiramente destinado a guardar dignamente a Eucaristia para que pudesse ser levada aos enfermos e ausentes fora da Missa. Pelo aprofundamento da Fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas. Por isso, o sacrário deve estar colocado em um lugar particularmente digno da igreja; deve estar construído de tal forma que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento”.

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Vemos nesta cuidadosa apresentação, elementos de história, de liturgia e de teologia. Resgatamos de tudo isso, o fato de que o sacrário é uma verdadeira preciosidade, não precisamente pelo valor material que eventualmente tenha, mas pela infinita divindade que guarda.

Há sacrários magníficos e outros que são simples: há os valiosos e também os humildes, artísticos e também de gosto duvidoso… Em todo caso, nossa atenção deve centrar-se não tanto nesses acidentes, mas no Hóspede que aloja ou, se quiser, no Anfitrião que a partir de sua câmara acolhe: o próprio Jesus.

Bento XVI, na exortação apostólica post-sinodal ‘Sacramentum caritatis’, em seu número 69, ensina que: “é necessário que o lugar em que se conservam as espécies eucarísticas seja identificado facilmente por qualquer um que entre na igreja, também graças à lâmpada acesa. Para isso, deve se ter em conta a estrutura arquitetônica do edifício sacro: nas igrejas onde não há capela do Santíssimo Sacramento, e o sacrário está no altar mor, convêm seguir usando dita estrutura para a conservação e adoração da Eucaristia, evitando colocar diante da sede do celebrante. Nas igrejas novas convêm prever que a capela do Santíssimo esteja próxima do presbitério; se isto não for possível, é preferível colocar o sacrário no presbitério, suficientemente alto, no centro do abside, ou em outro ponto onde fique bem visível”.

A Igreja quer promover nos fiéis o culto ao Santíssimo Sacramento, também a partir dos sacrários. Nos é muito claro e familiar que sobre o altar se adora ao Senhor presente sob as espécies consagradas durante a Missa; também sabemos que quando se recebe a comunhão sacramental, é um momento privilegiado para o culto de adoração. E o mesmo quando se ostenta a Hóstia Santa na custódia, entendemos que devemos dispor-nos à adorar-lhe com o máximo respeito e a maior reverência.

Mas acontece que aos poucos nos esquecemos que no sacrário, no onipresente sacrário que nunca falta nos templos, também está à minha espera a Pessoa adorável de Jesus Cristo.

No entanto, quantos descuidos em relação aos sacrários! Tantos fiéis entram na igreja e não fazem ante Ele a genuflexão de rigor, ou ao menos uma simples vênia, ou nem sequer um fugaz olhar afetuoso. As atenções se voltam à outras coisas: aos meus interesses, às pessoas presentes, às imagens dos Santos (no melhor dos casos…), enfim, a mil coisas circunstanciais… enquanto que o centro da atenção, que deveria ser o Senhor presente, passa desapercebido.

O sacrário é como a pedra angular do templo, da mesma maneira que a Eucaristia o é da Igreja, Corpo místico de Cristo e povo santo de Deus.

Há algo que tem igual ou maior consequência: é que cada comungante, se torna também um sacrário, um sacrário vivo! Durante o tempo em que duram as sagradas espécies no peito, a pessoa se transforma em um tabernáculo onde os anjos adoram ao Senhor.

Maria Santíssima foi um sacrário não somente durante os nove meses de gestação de seu Divino Filho. Também o foi depois de ter recebido pela primeira vez a comunhão eucarística, já que Jesus se manteve ininterruptamente dentro dela, até sua Assunção aos céus. E no reino celestial continuará com Jesus dentro de seu corpo glorioso? Que o estude e o diga a teologia…

Este privilégio das partículas que não se degradam e fazem perpetuar a presença real, é uma graça singular adequada à qualidade de Mãe de Deus. Nos ensina a Igreja que Cristo cumulou sua Mãe da abundância de todos os celestiais carismas, tirados do tesouro da divindade, muito acima de todos os anjos e santos. Eis aqui um carisma, dos mais excelentes. A piedade e a razão nos levam a pensar que não é inadequado que algo assim possa ocorrer… e que certamente ocorreu.

Houve também Santos que se viram favorecidos por essa presença constante da Eucaristia em seu interior. Um deles foi Santo Antônio Maria Claret, Fundador dos Missionários do Imaculado Coração de Maria. Assim descreve o Santo este singular fenômeno: “No dia 26 de agosto de 1861, estando em oração na igreja do Rosário da Granja às sete da tarde, o Senhor me concedeu a grande graça de ter sempre, dia e noite, o Santíssimo Sacramento no peito e de conservá-lo de uma comunhão para outra”.

Sacrários de bronze, de pedra, de madeira… sacrários vivos de carne!

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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