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A pessoa inocente é mais feliz que todas as outras

Redação (Sexta-feira, 08-03-2019, Gaudium Press) Nosso Senhor afirmou que se não nos convertermos e não nos tornarmos como crianças, não entraremos no Reino dos Céus. Qual o verdadeiro significado dessas palavras?

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“Jesus chamou uma criança”

“Os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos Céus?’

“Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse: ‘Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus.

“Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E quem acolher em meu nome uma criança como esta, estará acolhendo a Mim mesmo'” (Mt 18, 1-5).

Essa criança, que recebeu a graça de ser chamada por Nosso Senhor, tornou-se depois, conforme antiga tradição, um dos mártires que mais marcou a História da Igreja: Santo Inácio de Antioquia, discípulo de São João Evangelista e segundo sucessor de São Pedro na Sede de Antioquia.

Para que tenhamos uma noção do significado das palavras do Divino Mestre, procuraremos explicar sucintamente em que consiste a inocência, que é a fundamental qualidade das crianças, mas não só delas. A pessoa que, por especial graça de Deus, nunca cometeu pecado grave é inocente; e se alguém perdeu a inocência, pode readquiri-la.

Verdade e bondade

Muitos julgam que a inocência se restringe à questão da castidade; quando a pessoa cai na impureza, perde sua inocência. Realmente a castidade é característica importante da inocência. Entretanto, esta abrange um horizonte muitíssimo mais amplo, mais rico e mais profundo.

O inocente tem atração natural por tudo quanto é elevado e uma grande capacidade de discernir e amar, à primeira vista, o que é verdadeiro, bom e belo.

“A criança não conhece a mentira, a falsidade nem a hipocrisia. Sua alma se espelha inteiramente em sua face; sua palavra traduz com fidelidade seu pensamento, com uma franqueza emocionante. Ela não tem as inseguranças da vaidade ou do respeito humano.

Em uma palavra, ela e a simplicidade constituem uma sólida união.”

Ela propende para o bem, mantendo-se fiel ao primeiro princípio da lei moral: O bem deve ser feito e o mal, evitado.

“Se há uma nota que superlativamente nos atrai na criança, esta é, com toda a certeza, a candura, que a faz ignorar a maldade. A pureza de coração, com a qual ela cria para si um universo de beleza moral que, se não trilhar as vias da santidade, ela perderá por não lutar contra a concupiscência decorrente do pecado original.”

Admiração pelo maravilhoso

O inocente admira quem é superior a ele, como afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Aqui está o ponto de partida da inocência, a qual leva a criança a se rejubilar com o que é insignemente maior do que ela. Daí a admiração pelos pais, pelos mais velhos que ela vai conhecendo, pois a criança vê que são uma
ampliação dela mesma.

“E também a admiração por toda forma de maravilhoso, que se põe diante da criança.

“Mas essa admiração não é egoística; é uma alegria porque aquilo é daquele jeito, e uma consonância: ‘Como é bom, como me rejubila que haja algo maior do que eu! Eu encontro, na contemplação daquilo, algo que me repousa, me enche de ar.'”

Assim ela chega naturalmente a cogitar sobre o Criador e, favorecida pela graça divina, pode passar facilmente da ordem natural para a ordem sobrenatural. Daí a facilidade com que a criança inocente aceita as lições de Catecismo, admirando o mundo angélico e o sobrenatural.

Espírito de hierarquia

Nota-se hoje, sobretudo no campo das ideias, o caos; e também o igualitarismo, que atinge todos os aspectos da vida do homem: nos trajes, nas construções, nos modos de ser, etc.

“A confusão dos assuntos provém, em larga medida, da falta de espírito de hierarquia Ora, esse espírito emana da inocência, porque o inocente distingue muito bem entre o essencial e o acidental, aquilo que tem maior ou menor importância.

“Como ele não tem apegos nem movimentos desordenados, o seu olhar é hierárquico e as suas apetências ordenadas Por isso, ele toma uma posição facilmente anti-igualitária.”

A palavra “inocência” provém do latim innocentia; nocentia significa maldade. O inocente, etimologicamente falando, é aquele que não tem maldade. E o termo maldade aqui quer dizer a negação da verdade, do bem e da pulcritude, em suma, de Deus.

Assim como a inocência tem graus, essa negação é escalonada e pode chegar até ao ódio ao Criador.

Senso do combate

Em nossos dias se promove a matança da inocência por meio de mil artifícios visando eliminar o senso da verdade, do bem e da beleza, através do relativismo religioso e moral.

A fim de preservar a inocência, é necessário o espírito de luta contra tudo aquilo que nos conduz ao mal.

“Para manter-se inocente, a pessoa precisa ter muito senso do combate, muita honestidade.” Se mantém essa batalha como toda a fidelidade, “o inocente, no fundo, é um homem mais feliz do que todos os outros”.

“Devemos, por conseguinte, envidar todos os esforços para manter sem pecado a nossa alma, ainda que seja necessário para isto sacrificar até mesmo a vida.

“E se, por infelicidade, tivermos perdido a inocência batismal, empenhemo-nos ao máximo em recuperá-la, como o fez Santa Maria Madalena, através de um ardente amor ao Divino Redentor.”

Isso só se consegue pela graça.

Que Nossa Senhora nos obtenha esse dom para que possamos, pela misericórdia divina, entrar no Reino dos Céus.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 184)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 126.
2 -Idem, ibidem, p. 128.
3 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Inocência e admiração desinteressada – I. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVI, n. 182 (maio 2013), p. 19-20.
4 – Cf. Idem. Um par de asas para rumar a Deus. In revista Dr. Plinio. Ano XIII, n. 148 (julho 2010), p. 29.
5 – Idem. Equilíbrio de alma. In revista Dr. Plinio. Ano XX, n. 227 (fevereiro 2017), p. 17.

 

 

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