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O verme não morre e o fogo não se apaga

Redação (Terça-feira, 12-03-2019, Gaudium Press) A pessoa misericordiosa procura ajudar aos outros não apenas com palavras de doçura, mansidão, bondade, para atraí-los ao bem, mas também recordando expressões acerbas, combativas, severas, a fim de afastá-los do mal. Dessa forma ela imita o Redentor o qual é a própria Misericórdia.

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Indignação de Nosso Senhor diante do escândalo

Disse o Divino Mestre:

“Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço.

“Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno.

“Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga” (Mc 9, 42-48).

Comenta Monsenhor João Clá:

“Ao falar em pequeninos, Nosso Senhor não está Se referindo apenas às crianças, mas a todos quantos não têm forças suficientes para se manter por si mesmos na prática da virtude, precisando para isso do apoio de
outros, em especial no tocante ao seu instinto de sociabilidade.

“É merecedor deste auxílio, sobretudo, quem conserva a sua inocência batismal” , e por essa razão possui retidão de alma.

Então, quem escandalizar, ou seja, induzir ao pecado “um destes
pequeninos”, melhor seria que fosse lançado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço. Com as palavras “melhor seria”, Jesus dá a entender que o espera um castigo mais grave do que este.

O mundo atual está encharcado de escândalos

O escândalo consiste em pronunciar palavras ou realizar ações próprias a expor alguém à ruína espiritual, na medida em que elas o arrastam ao pecado.

“Trata-se de um pecado gravíssimo e cheio de malícia, que
prejudica tanto quem o recebe quanto quem o comete. Ao primeiro, porque a falta cometida em decorrência do escândalo furta-lhe a vida da graça de Deus na alma. Ao segundo, por fazer o mesmo papel do demônio – perder almas -, acrescido do gosto em arruinar a inocência alheia. Neste sentido pode-se
afirmar que é um pecado satânico.

“Com a agravante, ainda, de ser muito difícil reparar um escândalo: pois, uma vez cometido, não basta a Confissão, é necessária a reparação. […]

“O mundo hoje está pervadido, encharcado e transbordante de escândalos por todos os cantos. São escândalos nas modas, nas conversas, nos modos de ser; são escândalos na televisão, na internet, nos cinemas; são escândalos nos jornais, nas revistas, no relacionamento social.

“Onde não há escândalo e a inocência não vai sendo tragada pela voragem da impureza e da desonestidade? Qual será, pois, a reação de Nosso Senhor a esta avalanche de pecados de dimensões inauditas?”

As recomendações de Nosso Senhor – cortar a mão, o pé, arrancar o olho – significam que se deve ter verdadeiro ódio ao pecado, e romper radicalmente com tudo quanto a ele conduz.

Brados de aflição, maus odores, chamas inextinguíveis

O Divino Salvador fala do Inferno, “onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga'” (Mc 9, 47-48).

Continua Monsenhor João Clá:

“Hoje, muitos ousam negar a existência do Inferno. Seria tão cômodo para a consciência se tal fosse verdade… Todavia, os Evangelhos transcrevem quinze referências de Nosso Senhor ao Inferno.

“Ele existe, sem dúvida, e a respeito de seus tormentos o Divino Redentor nos fornece aqui uma noção fundamental: a existência de um verme roedor que não morre. […]

“Numerosas são as interpretações dos autores sobre o significado deste ‘verme’, abrangendo tanto o sentido literal quanto o simbólico. Mas estes diversos comentários não se excluem, pois a terrível realidade do Inferno, por certo, supera toda imaginação!

“Interessa salientar aqui, contudo, a identificação do ‘verme’ com o remorso da consciência que jamais abandona o condenado. Pois um dos piores tormentos para ele é saber que violou os Mandamentos de Deus e o castigo é irremediável; que perdeu o prêmio eterno por tão pouco: uma ilusão fugaz, um prazer momentâneo…

“Em contraposição, o justo gozará da perfeita felicidade, da superior
alegria proporcionada pela paz de consciência.”

Quanto ao fogo e outros tormentos do Inferno, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Para se ter pálida ideia a respeito desse lugar de sofrimento perene, suponhamos que nos fosse dado ouvir os brados de aflição, dor, ódio e inconformidade eternos a escaparem dali, bem como a sentir os maus odores exalados pelas matérias pútridas de que está semeado, e o calor proveniente das chamas inextinguíveis.”

Pena do dano

Devemos, entretanto, lembrar que o pior castigo do Inferno é a pena do dano.

“Com este nome se conhece na Teologia a privação de Deus como objeto de nossa bem-aventurança ou felicidade suprema. É, sem
comparação, a maior das penas do Inferno, a ponto de Santo Agostinho poder dizer de modo genial que ‘é tão grande como grande é Deus’.

E o Doutor Angélico diz textualmente:

“O pecado mortal merece a carência da visão divina, a que nenhuma outra pena se pode comparar” (Suma Teológica I-II, q.88, a.4). A razão é que, de si e objetivamente, é uma pena infinita, pela razão do Bem infinito do qual priva eternamente (Suma Teológica I-II, q.87, a.4).”

Peçamos à Santíssima Virgem que nos conceda a graça de sempre nos afastarmos das ocasiões próximas de pecado, pois do contrário estaremos rumando para o Inferno.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – 185)

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. IV, p. 395-396.

2- Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.43, a.1.
3- CLÁ DIAS, op. cit., p. 396-397.
4- Idem, ibidem, p. 398-399.

5- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Senhor ouviu a voz do meu pranto. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano VIII, n. 89 (agosto 2005), p. 12.
6- ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la salvación. Madrid: BAC, 1997, p. 306.

 

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