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O moço rico poderia ter sido o décimo terceiro Apóstolo

Redação (Segunda-feira, 18-03-2019, Gaudium Press) Certo dia, Jesus saiu de uma casa na Judeia e começou a caminhar. Ao vê-Lo, um jovem muito rico foi correndo até Ele, ajoelhou-se e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”

 

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“Vem e segue-Me!”

Nosso Senhor mencionou diversos Mandamentos e o moço declarou que os observava desde sua mais tenra idade.

“Jesus olhou para ele com amor e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois vem e segue-Me!’ Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.

“Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!’ Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas Ele disse de novo:

“‘Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!’

“Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: ‘Então, quem pode ser salvo?’ Jesus olhou para eles e disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível'” (Mc 10, 21-27).

O moço negligenciara o primeiro Mandamento

O jovem foi correndo até o Divino Salvador. “É com este fervor de espírito e esta rapidez de corpo, esta prontidão e esta alegria espiritual que se deve ir a Jesus.”

Nosso Senhor recomendou-lhe que vendesse todos seus bens e O seguisse, ou seja, convidou-o a se tornar um Apóstolo. Ao invés de atender a este grande chamado com inteira alegria e prontidão, o moço “ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10, 22).

Comenta Monsenhor João Clá:

“Não pensemos, porém, ter sido o apego às riquezas a principal causa de sua defecção.

O jovem rico praticara os Mandamentos desde a sua infância, mas não na perfeição. Negligenciara, de modo especial, o primeiro e mais fundamental: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças.’ (Dt 6, 5).

Seu grande pecado foi o de orgulho

“O grande pecado deste homem não foi de avareza, e sim de orgulho. Ao ser convidado a seguir Nosso Senhor e sentir em si a própria debilidade e insuficiência, deveria ter dito: ‘Senhor, não tenho forças para Vos seguir. Tenho apego às minhas riquezas e, sobretudo, falta-me um amor exclusivo por Vós.’

“Perante tal ato e humildade, Jesus lhe teria dado graças superabundantes para corresponder ao chamado. E bem poderíamos ter hoje no Calendário Romano uma festa dedicada ao jovem rico, que se tornou pobre para adquirir uma riqueza muito maior: ser o décimo terceiro Apóstolo!

“Não obstante, faltou-lhe reconhecer que, se praticava os Mandamentos, não era por suas forças pessoais, mas pela graça divina. E que sem o auxílio da graça não conseguiria desprezar as riquezas e seguir Jesus.”

Nosso Senhor não se refere à riqueza material

Dizendo que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha” Mc 10, 25), Nosso Senhor Se serve de um provérbio utilizado pelos judeus para expressar algo extremamente difícil e quase impossível. […]

“Para bem analisar estas palavras de Jesus, é preciso começar por evitar a interpretação errada, segundo a qual todo rico estaria condenado e todo pobre, ao contrário, estaria no caminho certo para a salvação. Pois o Mestre não Se refere aqui à riqueza material, mas ao desvio que leva o homem a depositar sua confiança nos bens terrenos, antepondo-os aos bens superiores. […]

“Quantos reis, príncipes ou simples pessoas abastadas que, administrando o que tinham com inteiro desprendimento, encontram-se hoje no Céu, como atesta o catálogo dos Santos!

Pobreza de espírito

“Por outro lado, quantos pobres há que se recusam a praticar a virtude! Bem fariam estes em ouvir a conclamação de São Cesário de Arles:

“‘Ricos e pobres, escutai o que diz Cristo! Falo ao povo de Deus. Em vossa maioria sois pobres ou deveis aprender a sê-lo. No entanto, escutai, pois podemos inclusive nos vangloriarmos de ser pobres; tende cuidado com a soberba, não aconteça que os ricos humildes vos superem; acautelai-vos contra a impiedade, não aconteça que os ricos piedosos vos ultrapassem.’

“O problema não está, portanto, na quantidade de bens materiais possuídos por alguém, e sim no uso que deles se faz. Para poder entrar no Reino dos Céus, é preciso não ter apego algum a eles.

“A pobreza de espírito consiste em nos compenetrarmos de que somos criaturas contingentes, que dependem de Deus. Pode-se lutar para se ter recursos, mas com vistas a espalhar o Reino de Deus e fazer com que Ele reine, de fato, em todos os corações.”

Necessidade da graça divina

Este é “o duplo ensinamento do Divino Mestre: pelos seus simples esforços, o homem jamais conseguirá conquistar o Céu; mas aquilo que para o homem é impossível, não o é para Deus.

“Deus é onipotente, ama-nos desde toda a eternidade e está desejoso de abrir-nos as portas do Céu. Para nele entrar, é preciso apenas que sejamos humildes e reconheçamos nossas misérias, pedindo o auxílio divino sem desanimar.

“A salvação, como a vida, é uma dádiva de Deus. É sua graça que nos dá forças para praticar os Mandamentos e nos torna dignos de entrar no seu Reino. Não façamos, pois, como o moço rico, mas, humildes, confiemos na sua bondade.”

Peçamos a Nossa Senhora que nos conceda o total desapego dos bens deste mundo, procurando sempre a glorificação da Santa Igreja e nossa santificação.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 186)

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1- DUQUESNE. L’Évangile médité. Lyon-Paris: Perisse Frères, 1849, v. III, p.266
2-SÃO CESÁRIO DE ARLES. Sermón, 153, 2, apud ODEN, Thomas C.; HALL, Christopher A. (Ed.). La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia. Evangelio según San Marcos. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v. II, p. 204.
3- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. IV, p. 427, 430, 431 passim.

 

 

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