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25 DE Março – Anunciação do Anjo e Encarnação do Verbo

Redação (Segunda-feira, 25-03-2019, Gaudium Press) Vamos transcrever um trecho da meditação realizada na Catedral da Sé, em São Paulo, em 1/10/2005, por Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias.

A Homilia está adaptada à linguagem escrita e não tem revisão do autor.

A meditação foi desenvolveu-se tendo como base o trecho do Evangelho de São Lucas, quando ele narra a Anunciação de Nossa Senhora – (Lucas 1, 26-38).

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Nossa Senhora

Nossa Senhora, jovem, – deveria ter aproximadamente seus quinze ou dezesseis anos – está em oração, está recolhida rezando, porque antes de tudo Ela é criatura, e toda criatura necessita de oração.

Ela reza pedindo por si, pela humanidade, contemplando a situação do mundo naquele tempo e o seu futuro – Ela sabia perfeitamente quais eram os dramas, quais eram as consequências terríveis do pecado original. Ela queria que houvesse, o quanto antes, a Redenção. Ela conhecia – com o dom de Ciência, com o dom de Sabedoria, porque Ela tinha estes dons em altíssimo grau – a origem do pecado já no paraíso terrestre, pela negação e pela desobediência de Adão e Eva.

Em consequência, tinha Maria verdadeiro horror, indignação, inteira incompatibilidade com o pecado; Ela queria que houvesse quanto antes a vinda do Redentor, para que tudo se pusesse em ordem.
E sabia perfeitamente que isso só se obteria – dom extraordinário – através da oração. Ela, por isso, rezava, e disso tinha necessidade. Nosso Senhor também rezou, e quantas vezes. Ele não precisava da oração, mas Ele rezava, e rezava pedindo por todos nós.

Explica-nos a teologia que tanto Nosso Senhor, quanto Nossa Senhora – Ele, por ser o Redentor, por ser o Salvador, e, portanto, o que há de mais alto em toda a ordem da criação, Ela por ser a mãe de todos os homens, a Rainha dos Anjos – Ela e Ele tiveram um privilégio que foi de conhecer todos os homens até o fim dos tempos.

Jesus, não só enquanto Deus, mas também enquanto homem, e Maria, enquanto mãe de todo o gênero humano, mãe de todos os santos, mãe de todos aqueles que são batizados, conheceram os homens um por um. Nosso Senhor e Ela, portanto, tiveram em mente cada um e cada uma de nós que estamos aqui presentes hoje.

Nosso Senhor e Nossa Senhora tiveram um contato direto conosco antes que nós tivéssemos sido criados, e Eles nos viam. Nosso Senhor nos viu várias vezes. Nossa Senhora também.

Humildade

“Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”.

Ela rezava, pedindo pela nossa salvação, quando lhe aparece o Anjo.

O Anjo aparece fazendo um elogio extraordinário, elogio que daria para deixar orgulhoso qualquer um.

E, entrando o Anjo onde ela estava, disse-lhe: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”.
Ou seja, o Anjo elogia Nossa Senhora dizendo que Ela é a mais alta figura dentre todas as mulheres.

Nós sabemos perfeitamente como age em nós o orgulho, como age em nós a vaidade, como age em nós o amor-próprio, e, se aparecesse um Anjo para um ou uma de nós no quarto, enquanto este ou esta rezava, e o Anjo fosse São Gabriel cheio de luz – maravilha! – iluminaria o quarto inteiro, sentir-se-ia até o odor de um perfume extraordinário, e ele dissesse nada mais nada menos para nós homens, que somos o primeiro entre todos, ou então, para uma mulher: “Sois a mais alta criatura, a mais excelente de todas as mulheres…” Como nós tomaríamos um elogio destes?

Seria um elogio que nos colheria de surpresa e nos deixaria pasmos, mas ao mesmo tempo nosso amor-próprio, nosso orgulho, nossa vaidade, nosso desejo de aparecer, nosso desejo de ser o primeiro, a primeira, tomariam um grau de calor extraordinário dentro de cada um de nós. Nós ficaríamos rachando de orgulho.

No entanto, o que aconteceu com Nossa Senhora ao ouvir esse elogio? Qual foi a reação dela?
São Lucas nos diz: “turbou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta.”

Olhemos para Ela. Não é verdade que Ela merece este elogio? Pois claro! Puríssima, virginalíssima, virtuosíssima, santíssima – Ela merecia este elogio. E se não houvesse outra razão, bastaria que o Anjo dissesse, e se este disse é porque foi enviado por Deus para dizê-lo – “Anjo”, significa mensageiro de Deus – e o Anjo falou, é isto!

Ela, ao invés de pensar: “Então quer dizer que eu sou a primeira entre todas as mulheres!”, ao invés de Ela ficar contente, cheia de si, turbou-se, ficou perturbada.
Perturbou-se porque tinha medo de ofender a Deus, atribuindo a si qualquer coisa que não lhe pertencesse. Medo de ofender a Deus. Medo de apropriar-se de algo que pertencia a Deus. Medo de consentir em ter um prazer, em ter uma complacência, em se julgar a primeira das mulheres.

Como seria bom se nós nos perturbássemos quando fôssemos elogiados. Maria nos dá esse exemplo. Na Anunciação Ela nos dá um exemplo extraordinário, porque se perturbou ao ouvir este elogio.

E diz o texto de São Lucas: turbou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta. Como é que é isso? Um Anjo me aparece e diz isso?

Vejam que Ela não se assusta com a aparição do Anjo, Ela não fica com pânico de que lhe apareça um Anjo.

Era tradição de todo o Antigo Testamento que quando um Anjo aparecia a alguém, esse alguém podia contar seus dias, pois estavam inteiramente postos numa sequência que ia dar na morte próxima. A aparição de um Anjo era tida como prenúncio da morte.

E todos aqueles que recebiam uma aparição de um Anjo se assustavam, e assim foi que aconteceu com Zacarias, esposo de Santa Isabel. Zacarias, quando viu o Anjo, ficou em pânico e pensou que fosse morrer.
Nossa Senhora não se assusta com a aparição do Anjo. Ela era tão extraordinária que tinha convívio com os Anjos; mas nada disso levava Nossa Senhora a se considerar como a primeira das mulheres.

Nós, que temos um convívio não com os Anjos, mas, tantas vezes, com o espelho; nós, que aparecemos diante do espelho e ficamos conversando com o espelho – e quantas e quantas vezes o espelho não mente dizendo que nós somos o primeiro dos homens ou a primeira das mulheres?

Às vezes o espelho mente e nos diz que somos o primeiro ou a primeira; e nós, muitas vezes, acreditamos facilmente no que nos diz o espelho.

E Nossa Senhora, com o elogio feito por um Anjo, se perturba e fica se pondo o problema: o que quer dizer isso? De onde é que saiu esta saudação? De onde vem isso? Eu, de minha natureza, não sou nada. Eu sou vazia. Eu sou a escrava do Senhor. Eu não tenho nada de mim mesma que valha alguma coisa. Eu nunca consegui nada por mim mesma, tudo vem de Deus. Agora vem este Anjo dizer que eu sou a primeira das mulheres. Que humildade!

O que foi obrigado o Anjo a dizer a Ela?

O Anjo vai continuar o elogio. O Anjo lhe diz: “Não temas, Maria…”
Não temas o quê? Não é ao Anjo, porque ele está ali e Ela, em nenhum momento, teve temor dele. Ela tinha medo das palavras, porque tinha medo de perder a humildade, tinha medo de apropriar-se de algo de Deus.

O Anjo vai tranquilizá-la: “Pois encontraste graça diante de Deus.”

Ah bom! Se é por uma ação de Deus, por uma ação da graça, e não por mim mesma que obtive, e sim porque Deus teve misericórdia, Deus contemplou a minha miséria, Deus contemplou o meu nada, aí eu fico tranquila, porque já não sou Eu, já não vem de mim. Não é algo que eu possa dizer “eu sou”.

Se há algo de bom em mim, esse algo de bom vem de Deus e não de mim, ou seja, o que tranquilizaria Maria era saber que esse elogio feito pelo Anjo não vinha da natureza dela, esse elogio feito pelo Anjo vinha de uma predileção de Deus.

Deus é que teve amor por ela, Deus é que deu a graça a Ela. Deus é que a fez a primeira das mulheres. Se for vontade de Deus, que seja feita.

Eu, jamais quereria ambicionar ser a primeira das mulheres, a primeira das criaturas saída das mãos de Deus – nunca! Se Deus o quer, eu estou de acordo com a vontade de Deus. “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”.

O Anjo vai dizer mais, uma vez que Ela se tranquiliza sabendo que é pela ação da graça, ele lhe diz:
“eis que conceberas no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhes-á o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim.”
Imaginem uma virgem que fez voto de virgindade, que não quer saber de maneira alguma de ofender a Deus, e recebe esta notícia de ser Mãe do Filho de Deus. Qualquer um de nós diante dessa situação diria: Ótimo, que coisa extraordinária, vamos direto, façamos logo isto.

Castidade – Virgindade

Maria perguntou ao Anjo. “Como se fará isto, pois eu não conheço varão? “

É a preocupação: Ela é virgem com a promessa de ser virgem até o fim da vida, porque não se pode falar em morte dela com toda a segurança. Ela queria permanecer na virgindade.

Nós encontramos, então, aqui outro ponto para meditarmos, que é a virgindade, a castidade. 

Nesta cena nós vamos ter três representações da virgindade, três representações da castidade.

A primeira delas é Deus. Deus é a Virgindade, Deus é a Castidade e, toda virgindade, toda castidade que há na face da Terra é um reflexo desta substância Virgindade, Castidade que é Deus. Nós temos o Anjo, que é puro por natureza, é a pureza enquanto reflexo da pureza de Deus.

Então nós temos Deus enquanto sendo a Virgindade, o Anjo representante da Virgindade e a Virgem, também representante desta Virgindade de Deus, desta Castidade de Deus.

Ela virgem, o Anjo, virgem, Deus a Virgindade. Ela, tão Virgem que no começo da história da Igreja era chamada de Santa Maria Virgem.
Aos poucos, isto que era sobrenome dela, Santa Maria Virgem, passou a ser o nome, porque hoje nós dizemos Virgem Maria.

E Deus, que ama tanto a virgindade, quer tanto a virgindade, quer tanto a castidade, que Ele a fez permanecer virgem antes, durante e depois do parto. E aí está Ela neste primeiro mistério gozoso ressaltando muitíssimo esta virgindade.

Ela diz: “como se fará isto…” E o que tranquiliza Maria é quando o Anjo diz: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, e a força do Altíssimo Te envolverá com a Sua Sombra, e por isso mesmo o santo que há de nascer de Ti será chamado Filho de Deus….”

O Anjo dá uma prova: “… Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível.”

Aí então Nossa Senhora diz: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”

 

 

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