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O mal não precisa de um princípio para existir

Redação (Quarta-feira, 27-03-2019, Gaudium Press) Como uma natureza santa, pura e justa foi capaz de perverter-se pelo Pecado Original, não tendo em si mesma um princípio de mal?

O que responder à seguinte dificuldade, proposta por uma excelente religiosa?

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“Se a natureza humana foi criada no estado de santidade e de justiça – e da mesma maneira o anjo decaído, criatura do Deus três vezes santo – o mal não existia nela. Como, então, uma natureza santa, pura e justa, foi capaz de perverter-se, se ela não tinha em si mesma um princípio de mal? E se foi ela própria que criou esse princípio nefasto, como terá ela sido santa, justa e correta em sua origem, uma vez que a santidade não admite o mal?”

Esta objeção pressupõe, no espírito da consulente, um conhecimento incompleto do mal, da justiça original e do pecado do homem e do anjo.

O mal não é um ente que precise de um princípio para existir: aquilo que não é uma criatura, não pode ter um princípio ou uma causa que o faça existir. É um puro defeito, uma pura carência que não requer para se produzir nada mais do que a defectibilidade de quem o comete. Não procuremos, pois, o princípio do mal como se fosse alguma coisa de positivo, procuremos somente se existia alguma defectibilidade naquele que o cometeu.

A justiça original estabeleceu no homem uma ordem perfeita em todas as suas faculdades; ela o unia ao soberano Bem e – deixando-lhe uma aptidão para amar todos os bens criados – regulava seus afetos de tal sorte que o amor do bem criado estava subordinado ao amor do Bem incriado, do Bem divino.

Mas essa santidade não colocou o homem na possessão desse Bem incriado; o homem não via Deus face a face, ele não O conhecia senão por suas manifestações exteriores. Visto e possuído em Si mesmo, esse Bem supremo supre de tal forma as faculdades da criatura, e as atrai de modo tão irresistível, que lhe resulta impossível separar-se d’Ele. Visto através das criaturas, e apesar de ser conhecido como o Bem soberano, Deus não apareceu em sua beleza e bondade infinitas nem mesmo aos anjos; Ele atrai a Si a criatura sem colocá-la na impossibilidade de trocá-Lo por qualquer bem criado.

A primeira santificação deixava subsistir, tanto na natureza humana quanto na angélica, a defectibilidade inerente a qualquer criatura.

Não possuindo o soberano Bem na plenitude de seu fim último, elas poderiam, por seu livre-arbítrio defectível, apegar-se a qualquer criatura – e, em particular, à sua própria excelência – a ponto mesmo de esquecer- se do Bem supremo. Foi o que fizeram os anjos, ao se elevarem em seus próprios pensamentos até pretenderem igualar-se a Deus e recusarem- Lhe sua submissão; e o homem, cedendo ao atrativo do fruto proibido, transgredindo a proibição divina. Foi assim que o mal entrou no mundo, sem outra origem que a deficiência do anjo primeiramente, e do homem em seguida. Falíveis um e outro, eles caíram.

Esta é toda a explicação do mal.

(Traduzido, com adaptações, de L’Ami du Clergé, de 1907,pp. 125-126.)

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