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Paixão de Jesus: A derrota do poder das trevas

Redação (Quinta-feira Santa, 18-04-2019, Gaudium Press) Evidentemente que se deve tratar dos sofrimentos tormentosos pelos quais passou Nosso Senhor Jesus Cristo em sua Paixão.

Para redimir a humanidade, libertando os homens do pecado, o Verbo Encarnado teve que padecer e morrer.

Mas, com isto, estava vencida a morte! Jesus era o vencedor.

Na verdade, a Paixão não foi uma derrota, foi uma vitória com uma manifestação grandiosa do poder de Jesus.

As considerações transcritas abaixo bem que poderiam ser lidas tendo em mente estes aspectos do Paixão do Senhor:

 

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-Os Evangelhos deixam transparecer com clareza que na Paixão tudo aconteceu de acordo com a vontade de Deus Pai e com o consentimento pleno de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em razão de sua ciência divina, de sua ciência beatífica e de sua ciência infusa,

Ele conhecia perfeitamente, e com detalhes, aquilo que O esperava.

Ele, todo-poderoso, dominava os ventos, os mares e as tempestades, tinha poder sobre os alimentos, multiplicando o pão e o peixe, caminhava sobre as águas, ressuscitava mortos… E, entretanto, tudo aceita com a resignação de um cordeiro, sem proferir uma queixa.

Manifestação grandiosa do poder de Jesus

Quando O procuram no Horto das Oliveiras, responde: “Sou Eu” (Jo 18, 5). Então os soldados recuam e caem ao chão. Que significado tem este fato?

O Senhor desejava provar, até mesmo a seus inimigos, que Se entregava porque queria. Já havia suado sangue (cf. Lc 22, 44) e prostrara-Se por terra com temor e pavor (cf. Mc 14, 33); já orara ao Pai suplicando: “Pai, se é de teu agrado afasta de Mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua” (Lc 22, 42); já mostrara sua debilidade aos Apóstolos assustados.

Mas, ao declarar “Eu sou”, o Divino Mestre quis tornar patente que se quisesse podia suspender a Paixão naquele ato, fazendo os soldados, juntamente com Pilatos, Herodes e o Sinédrio, voltarem ao nada.

Para acentuar ainda mais essa nota de onipotência, Ele mesmo diz a São Pedro: “Crês tu que não posso invocar meu Pai e Ele não Me enviaria imediatamente mais de doze legiões de Anjos?” (Mt 26, 53).

A Paixão inicia-se, pois, com uma manifestação grandiosa da divindade de Jesus Cristo.

Na presença de Anás

Preso, Ele é conduzido com brutalidade à presença de Anás para ser interrogado.

Nessa ocasião, dá testemunho: “Eu falei às claras ao mundo. Ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem. Nada falei às escondidas. Por que Me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que falei; eles sabem o que Eu disse” (Jo 18, 20-21). E recebe como réplica uma bofetada…

Eles conheciam muito bem toda a sua doutrina, porque O acompanhavam passo a passo, com mais atenção e empenho do que ninguém.

A esse respeito, comenta Santo Agostinho:
“Isso mesmo que tinham ouvido, mas não entendido, era tal que não podia ser acusado justa e verazmente, e quantas vezes O puseram à prova interrogando-O a fim de encontrar motivo para acusá-Lo; respondeu-lhes Ele de forma que se embotavam todas as suas fraudes e se frustravam todas as suas intrigas”.2

Dinamismo incalculável do mal

À medida que as cenas da Paixão se sucedem e se multiplicam as humilhações e ofensas contra Nosso Senhor, uma indignação profunda apodera-se de nós.

Vislumbramos uma realidade no Evangelho de São João que nos leva a perguntar se ele não teve a intenção de revelar qual é o dinamismo do mal que chegaria a triunfar sobre a Igreja, se não fosse a promessa do Divino Mestre: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).

Sem a graça de Deus e sua intervenção direta, ninguém teria forças para resistir à sanha do demônio, pois, como diz São Pedro Crisólogo, sua insaciável crueldade “não se conforma com que os homens se tornem indignos, mas faz com que sejam também promotores de vícios e mestres da delinquência”.3 Aí está o Autor da graça, aquele que é o Salvador, Deus Encarnado!

O que o mal faz contra Ele é incalculável. Diante disso compreende-se a reação de Clóvis, rei dos francos, que ao ouvir de São Remígio a narração da Paixão exclamou encolerizado: “Ah, se eu estivesse lá com os meus francos!”4

Clóvis, porém, sem o auxílio da graça, também estaria gritando: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Porque o homem, depois do pecado original, é capaz de todos os crimes, até do maior dos crimes: o deicídio.

No entanto, Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua Morte na Cruz, derrotou o poder das trevas e quebrou-lhe o vigor e a capacidade de difusão.

Por Monsenhor João Clá Dias, EP


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2 SANTO AGOSTINHO. In Ioannis Evangelium. Tractatus CXIII, n.3. In: Obras. 3.ed. Madrid: BAC, 2009, v.XIV, p.845.
3 SÃO PEDRO CRISÓLOGO. Homilía II: Sobre el padre y sus dos hijos, hom.II, n.5. In: Homilías Escogidas. Madrid: Ciudad Nueva, 1998, p.50.
4 FRÉDÉGAIRE, III, 21, apud KURTH, Godefroid. Clovis. Paris: Jules Taillandier, 1978, p.297.

 

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