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Antes a morte que a desonra

Redação (Quinta-feira, 16-05-2019, Gaudium Press) Ao observarmos com atenção as agrestes paisagens das regiões árticas, podemos nos deparar com uma encantadora criatura que, por sua cor e tamanho, quase passaria despercebida a nossos olhos: o arminho.

Ágil, esguio e muito pequeno para ser um mamífero (os maiores medem pouco mais de trinta centímetros), ele usa a macia pelagem que o reveste para se ocultar dos predadores. Durante o verão, ela adquire um tom castanho semelhante à vegetação que cobre os campos, mas, no outono e inverno, muda para um branco imaculado. Se não fosse a ponta sempre negra de sua característica cauda a delatar-lhe nos rápidos deslocamentos, o arminho tornar-se-ia invisível no meio da neve.

Quando contemplado no auge da estação mais gélida, dir-se-ia ter esse animalzinho “fugido” do Paraíso, pois sua alvura e delicadeza parecem não condizer com as coisas desta terra. Por isso ele é considerado símbolo da pureza, digno de figurar como tal nos mais nobres brasões e de ornar com sua pele mantos de Papas, Cardeais e reis.

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Tão acendrado simbolismo, unido à infatigável combatividade desta minúscula criatura, capaz de capturar presas dez vezes maiores do que ela, evoca a exortação feita pelo Divino Mestre: “Sede, pois, prudentes como as serpentes mas simples como as pombas” (cf. Mt 10, 16). Com efeito, o conúbio harmônico entre prontidão e candura, sagacidade e pureza, desmente a ideia hoje tão generalizada de que inocência é sinônimo de ingenuidade e apatia.

“Malo mori quam fœdari – Antes a morte que a desonra”. O clássico adágio latino, presente em tantos escudos de cidades e famílias antigas, costuma estar vinculado ao arminho. Conta-se que o ágil animalzinho, quando é perseguido por um caçador e este consegue encurralá-lo com lama, prefere entregar sua vida a se sujar. Assim procedem também as almas íntegras que, postas perante situações nas quais podem vir a macular-se, preferem a morte a se chafurdar na imundície do pecado.

Oxalá agíssemos nós como o arminho, não permitindo jamais que em nossa alma houvesse qualquer resquício de pecado ou de conivência com o espírito do mundo, tão oposto Àquele por quem e para quem fomos criados. Quisera Deus que soubéssemos unir em nós combatividade e pureza!

No entanto, caso tenhamos caído na desgraça de nos manchar, recorramos a Nossa Senhora, Refúgio dos Pecadores. Sendo Ela a onipotência suplicante, um simples aceno seu pode nos limpar dos efeitos de qualquer falta, e até nos transformar num instante naquele filho ou filha sem mancha que seríamos se nunca houvéssemos pecado.

Admiremos a pureza e a combatividade postas pelo Criador no arminho. Saibamos ver nele a sagacidade e a inocência por Deus tão amadas, certos de que tais predicados não são senão um pálido reflexo das perfeições divinas, as quais somos chamados a imitar.

Por Lucília do Sagrado Coração de Jesus Rocha de Freitas

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2019, n. 209, p. 50-51)

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