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“Perdoai-vos uns aos outros!”

Redação (Segunda-feira, 27-05-2019, Gaudium Press) Diante de tudo aquilo que nos contam os Evangelhos sobre Nosso Senhor Jesus Cristo, ficamos transidos de admiração e O adoramos, pois Ele é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus encarnado.

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Entretanto, alguns afirmam que Jesus foi revolucionário. O que pensar sobre isso?

O Cristianismo não trouxe uma revolução, mas uma renovação

Eis o que escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito de Jesus:

“Certos escritores que não O compreendem costumam chamá-Lo de revolucionário. Ora, revolução é, por definição – no sentido sociológico do termo -, uma insurreição de súditos contra a autoridade, uma luta entre inferiores e superiores em que, ou saem vencendo os primeiros ou os segundos.

“A transformação que Nosso Senhor veio trazer ao mundo não foi uma revolução, porque não implicou em revolta contra qualquer autoridade, nem levantou os oprimidos contra os opressores. O Cristianismo não trouxe uma revolução, mas uma renovação.

Também não tomou partido pelo despotismo contra os oprimidos. Em lugar disso, transformou oprimidos e opressores, fazendo cair-lhes das mãos as armas com que se feriam reciprocamente, e unindo-os num afetuoso abraço de irmãos.”

Em suma, segundo os revolucionários Jesus teria sido um semeador de ódio, quando na realidade Ele veio trazer o perdão.

No Antigo Testamento vigorava entre os homens a lei de talião: “dente por dente, olho por olho”; o perdão era raro. Mas o Divino

Mestre ensinou-nos que devemos continuamente perdoar. Recordemos alguns exemplos:

Tendo São Pedro perguntado a Jesus se devia perdoar até sete vezes um irmão que pecasse contra ele, o Redentor respondeu: “Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22), ou seja, sempre.

A parábola do filho pródigo e, sobretudo, as palavras de Nosso Senhor a Maria Madalena: ‘Teus pecados estão perdoados…Vai em paz!” (Lc 7, 48. 50) mostram seu desejo de perdoar.

Manifestação da onipotência de Deus

Deus criou o universo numa escala crescente, harmônica e proporcionada, abrangendo os minerais, os vegetais, os animais e os homens. E acima desses seres visíveis Ele criou os invisíveis: os Anjos.

Tudo isso nos patenteia o poder do Criador. Entretanto, ensina São Tomás de Aquino que “a onipotência de Deus se manifesta, sobretudo, perdoando e praticando a misericórdia, porque, por essas ações, se mostra que Deus tem o supremo poder”.

O perdão praticado por amor a Deus é uma virtude que se obtém pela graça. Trata-se, portando, do perdão sobrenatural que angeliza o homem e o afasta de sua condição animal.

Convívio respeitoso, nobre e elevado

Vendo as desgraças, especialmente as de ordem moral e religiosa, que se abatem sobre a humanidade, muitos se perguntam onde está a verdadeira felicidade.

Explica Monsenhor João Clá:

“A maior felicidade nesta Terra encontra-se no convívio, quando ele é respeitoso, nobre e elevado.” Para se conseguir esse convívio é preciso seguir Nosso Senhor “pelas vias heroicas da caridade, da paciência e do perdão máximo, rápido e total. Por este motivo não podemos guardar ressentimento contra ninguém, mas devemos esquecer a priori qualquer ofensa pessoal.

“Nós, cristãos, precisamos ser um verdadeiro mar de perdão, como ensina o Apóstolo: ‘Toda amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia. Antes, sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo’ (Ef 4, 31-32).”

Quão diferente é hoje o convívio entre as pessoas! Devido ao egoísmo exacerbado, surgem a comparação, a inveja, o ódio e o consequente anseio de prejudicar os outros, que às vezes chega até ao crime. Em muitos ambientes, vigora o provérbio de Plautus:

“O homem é um lobo para outro homem.” A capacidade de perdoar desapareceu de muitas almas.

Sacramento da Reconciliação

Devemos sempre perdoar quem nos ofende, como ensina o Pai-nosso. Disse Nosso Senhor: “Meu Pai que está nos Céus vos punirá, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18, 35). “De coração” significa sem guardar ressentimento.

Mas para se obter o perdão de Deus há o Sacramento da Reconciliação. “Pode-se conceber que inferno seria o mundo sem o confessionário? Se nós não pudéssemos nos abrir sobre os nossos pecados, e não tivéssemos a certeza do perdão? Que horror seria a incerteza sobre se Deus nos perdoou ou não, se estamos ou não em estado de graça, etc.

“Que obra-prima de sabedoria existe no confessionário e no fato de o segredo de confissão nunca ser traído!”

Perdão e fortaleza

É necessário, contudo, esclarecer que existe atualmente uma noção deformada a respeito do perdão, segundo a qual nunca se deve combater o mal nem tratar com severidade aqueles que o praticam. Isso significa, no fundo, uma adesão velada ou declarada ao pecado.

A virtude mais unida ao perdão é a fortaleza. Só os combativos sabem perdoar. O Divino Mestre, que tantas vezes perdoou os pecadores arrependidos, empunhou por duas vezes o chicote para expulsar os vendilhões do Templo, que eram obstinados no mal.

Deve haver em nós, católicos, uma harmonia perfeita entre o ódio ao mal e o perdão àqueles que nos ofendem pessoalmente e estão verdadeiramente arrependidos.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 194)

 

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 1-CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A Igreja: formadora de uma civilização. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano IV, n. 41 (agosto      2001), p. 16-17. 

2- Suma Teológica I, q. 25, a. 3, ad 3

3- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. IV, p. 241.

4- Idem, ibidem, 2013, v. II, p. 96.

5- PLAUTUS, Titus Maccius. Asinaria, II, 4, 88. In: Comedias. Madrid: Gredos, 1992, v. I, p.138.

6- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Perfeições da Virgem-Mãe – Belezas da Igreja. In revista Dr. Plinio, São Paulo, Ano IV, n. 42 (setembro 2001), p. 19

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