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O céu, “uma comunhão sem fim”

Redação (Segunda-feira, 17-06-2019, Gaudium Press) Bem sabemos que coisas sucederão ao homem ao final de sua vida na terra: a morte, o juízo e um destino eterno; estas etapas ou pórticos são chamados novíssimos. O destino eterno poderá ser o céu ou o inferno.

Quão saudável é pensar nestas tremendas e inevitáveis realidades! Diz o Eclesiástico “Pensa nos novíssimos e não pecarás eternamente”, ou seja, não te condenarás. Outra tradução do mesmo versículo da Bíblia assim reza: “Em todas tuas ações têm presente teu fim, e jamais cometerás pecado”. São noções afins e complementárias.

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Pois sim, a meditação no céu deveria ocupar um espaço considerável em nossa mente e em nosso coração. Ainda que o homem tenha sede de infinito e aspira à bem-aventurança, é verdade que está mais ao nosso alcance, nos é mais fácil, o temor do inferno que o desejo do céu. Nossa natureza tem horror ao sofrimento; mas no paraíso terreno, antes do pecado original, não éramos assim. Na realidade, tanto no plano inicial quanto no de herdeiros da culpa de Adão, está sempre vigente o desejar, tender e alcançar a meta para a qual fomos criados: a companhia e a visão eterna do Criador.

O Catecismo da Igreja Católica nos diz que “a comunhão de vida e de amor com a Santíssima Trindade, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados se chama “o céu”. O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado supremo e definitivo de felicidade (Parágrafo 1024). Já São Paulo, na Primeira Carta aos Coríntios, nos introduz nesta maravilhosa perspectiva: “O que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem ao coração do homem chegou, é o que Deus preparou para os que lhe amam”.

Agora, resulta que nada nos dá uma aproximação tão excelente da ideia e do desejo do céu, como a familiaridade com a Eucaristia. Porque a Eucaristia nutre e potencializa a vida da graça, estado que é condição para ganhar o céu. Ela nos habitua à proximidade com Deus, mais ainda, nos deifica! Faz com que sejamos em plenitude membros da família de Deus: filhos do Pai e irmãos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Se disse com razão que a Eucaristia é o céu na terra. E ainda, com mais propriedade, que “A Eucaristia é verdadeiramente um resquício do céu que se abre sobre a terra” (São João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia) A Santa Hóstia é uma brecha, uma janela, que nos mostra e nos faz degustar o céu!

Sim, porque se o céu é, em última análise, a visão e a união com Deus, a fusão com Ele, não é outra coisa o que propicia a Eucaristia neste vale de lágrimas.

Sucede que muitos batizados costumam considerar o mistério eucarístico apenas como uma verdade de Fé que se professa, mas que não necessariamente se experimenta. Crer, sim, mas uma Fé “teórica”, sem incidências na vida, sem testemunho… está morta, nos ensina o Apóstolo Santiago em sua epístola.

Se minha crença na Eucaristia não tem mais consequência que um assentimento racional, há muito caminho para percorrer! A Fé sem obras vale tanto quanto as obras sem Fé. Não tem nenhum mérito para a vida eterna; assim não se ganha o céu.

Os Santos compreenderam isto com toda clareza e nos deixaram valiosos ensinamentos em seus escritos e em suas vidas. Vejamos encontros eucarísticos de três Teresas do Carmelo: a de Jesus de Ávila, a do Menino Jesus de Lisieux, e a dos Andes do Chile.

1 – Escreveu à Santa Madre em sua obra Caminho de Perfeição: “Pois, se quando Jesus andava no mundo, só de tocar suas roupas sanava os enfermos, o que há de duvidar que fará milagres estando tão dentro de mim, se temos Fé, e nos dará o que pediremos, pois está em nossa casa? E não costuma Sua Majestade pagar mal à pousada, se lhe fazem boa hospedagem”.

Com voo místico, lógica irrefutável e elegância na pluma, Santa Teresa de Jesus, nos convida a aproximar-nos com Fé à Eucaristia, seguros de que seremos bem pagos, pagos da melhor maneira, quer dizer, com o prêmio eterno.

2 – Por sua parte, Santa Teresinha do Menino Jesus, nos deixou este pensamento lindíssimo: “Deus não desce do céu todos os dias para ficar em um cálice dourado, mas para encontrar outro céu que lhe é infinitamente mais querido que o primeiro: o céu de nossa alma, criada à sua imagem”.

Como contestar esta evidência que salta aos olhos? Há que passar, então, da aceitação intelectual do mistério, ao corolário concreto que se desprende dele: adorar e receber a Jesus na Eucaristia. Assim se capitalizarão benefícios que terão pesos na balança, no dia decisivo.

3 – Por fim, a mais recente das Teresas, flor que se abriu nas ladeiras dos Andes austrais da América para elevar-se aos mais altos cumes da espiritualidade, escreveu este belo pensamento em uma de suas cartas: “Queria fazer compreender às almas que a Eucaristia é um céu, visto que o céu não é senão um sacrário sem porta, uma Eucaristia sem véus, uma comunhão sem fim”.

Aos católicos em geral, e, especialmente, aos que tem o propósito ou o compromisso de adorar ao Senhor, lhes falta associar o momento privilegiado em que estão junto ao Santíssimo Sacramento, a eternidade sem fim nos espera. Valorizar a proximidade do Senhor na terra é uma condição para gozar eternamente de Sua visão sem portas, sem véus e sem fim.

Assunção, 1º de junho de 2019

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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