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Bernardo de Claraval: Monge, Profeta, Arauto de Maria

Redação (Terça-feira, 20-08-2019, Gaudium Press) No ano de 1091 nascia num castelo da Borgonha o terceiro filho do senhor de Fontaines e da virtuosa dama Alet.

São Bernardo de Claraval-Monge, Profeta, Arauto de Maria-Foto Arquivo Gaudium Press.jpg

Pouco antes de dar à luz o menino, teve ela um sonho tão nítido e expressivo que sua maternal intuição não deixou de ver nele um providencial aviso sobre o futuro do filho: tinha-lhe aparecido um cachorrinho de alvíssima pele que latia fortemente e sem cessar.

Aflita, porém, por não alcançar uma clara interpretação que traduzisse seus pressentimentos, consultou um servo de Deus, o qual lhe respondeu:

“O menino será um grande pregador e latirá continuamente para guardar a Casa de Deus, e curará as chagas de muitas almas”.

Um misterioso desígnio

Descendente de duas nobres famílias e pairando sobre ele esse misterioso vaticínio, criou-o sua mãe com especial esmero, e logo que foi possível o enviou a uma famosa escola na cidade de Châtillon-sur-Seine.

Seu grande talento intelectual causava admiração aos mestres e prometia-lhe uma brilhante carreira.

A índole afável e um tanto tímida de Bernardo possuía uma nota de nobreza e amenidade que atraía muitos a ele.

Em pouco tempo, sentiu arder na alma o desejo da glória da ciência e de uma existência mundana vivida na opulência.

O demônio, o mundo e a carne tentaram incontáveis vezes arrastá-lo para a perdição, mas, apesar desses assaltos, conservou sempre íntegra sua inocência batismal.

O profeta do século XII

No século XII a Civilização Cristã havia atingido um auge que nenhum santo poderia ter imaginado nos albores duros e sangrentos da primeira época da Igreja:

“A filosofia do Evangelho governava os Estados; a influência da sabedoria cristã e sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil” – afirmou Leão XIII na “Immortale Dei”.

O sustentáculo dessa sociedade sacral havia sido, durante mais de um século, a santidade emanada da abadia beneditina de Cluny.

Tendo-se espalhado rapidamente por todo o Ocidente cristão, esses filhos de São Bento influenciavam e orientavam a espiritualidade e a cultura dos povos da Europa a partir do interior de seus imensos mosteiros, do alto dos púlpitos, desenvolvendo uma belíssima e aristocrática liturgia e encantando as multidões com o angélico canto gregoriano.

Uma decadência, uma ascensão

Entretanto, após alcançar o píncaro, a grandeza de Cluny desvanecia-se lentamente, quiçá por não ter havido almas generosas que, no ápice do esplendor, quisessem partir para novos extremos de santidade.

Surgiu então, não uma instituição, mas um homem que foi o reformador da disciplina eclesiástica, o modelo de todas as virtudes, a voz de Deus a indicar novos rumos àquela sociedade que começava a vacilar. Seu nome: Bernardo de Claraval.

O chamado do Senhor

Contava Bernardo 21 anos de idade, e a graça divina havia muito batia às portas de seu coração ardente:
“Para que vieste ao mundo?”

Esta pergunta vinha lhe à mente com freqüência cada vez maior.

A radicalidade da vida monástica atraía aquela alma feita para grandes atos de heroísmo: abandonar honras, riqueza e família, consagrar-se para sempre ao serviço do Rei Eterno, viver daquele amor sobrenatural cujas labaredas cresciam sem cessar em seu interior…

Entretanto, não faltavam parentes e amigos que o exortavam a seguir uma estrada mais larga: grandes glórias mundanas prometiam as incomuns qualidades do jovem Bernardo; sua precária saúde e débil compleição não suportariam as austeridades da vida religiosa; pode-se também servir a Deus sem enterrar num claustro os talentos de tão gentil caráter…

Uma luz celeste

Afligido por esses pensamentos e combates, entrou certo dia numa igreja e implorou uma luz celeste que lhe desse a conhecer, sem sombra de dúvida, o desígnio de Deus a seu respeito.

E o Senhor não tardou em socorrer seu escolhido que a Ele clamava.

Levantou-se Bernardo fortalecido e cheio de sobrenatural certeza, e dirigiu-se para um mosteiro quase desconhecido, fundado não havia muito tempo pelo santo abade Roberto de Molesmes e situado num bosque não distante do castelo de sua família: Cister.

Não partiu sozinho

Entretanto, não quis partir só para aquele austero claustro onde nascia, em meio a dificuldades sem conta, uma nova ordem religiosa.
Com inspirada eloquência, arrastou consigo seu tio materno, quatro irmãos e mais trinta cavaleiros companheiros seus!
O último irmão de Bernardo, por ser ainda muito novo, escutou as seguintes palavras:
“Fica com Deus. Nós partimos para o mosteiro e te deixamos todos os nossos haveres”.
Desolado, o menino respondeu:
“Vós conquistais o Céu e me deixais a terra? Má partilha esta!”
E poucos dias depois, bateu àquelas benditas portas que já tinham acolhido seus cinco irmãos mais velhos…

Arauto de Nossa Senhora

Este varão de fogo, denominado pelo Papa Inocêncio II de “muralha inexpugnável que sustenta a Igreja”, passou para a História com o título de “Doutor Melífluo”.

A unção de suas exortações levava todos a afirmar que seus lábios destilavam puríssimo mel.

Enlevo por Maria

Quem, no mundo cristão, não conhece a incomparável e doce prece “Lembrai- vos”, cuja autoria é a ele atribuída?
Bernardo foi dos primeiros a chamar de “Nossa Senhora” a Mãe de Deus.

Conta a tradição que, escutando certa feita seus irmãos cantarem a Salve Regina, irrompeu de seu coração pervadido de enlevo a tríplice exclamação que hoje faz parte e coroa esta oração:

“Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria!”

São Bernardo foi também um dos primeiros apóstolos da mediação universal de Maria Santíssima, deixando esta doutrina claramente consignada em numerosos sermões:
“Porque éramos indignos de receber qualquer coisa, foi-nos dada Maria para, por meio d’Ela, obtermos tudo quanto necessitamos. Quis Deus que nós nada recebamos sem haver passado antes pelas mãos de Maria.

(…) Como mais íntimo de nossa alma, com todos os afetos de nosso coração e todos os sentimentos e desejos de nossa vontade, veneremos a Maria, porque esta é a vontade d’Aquele Senhor que quis que tudo recebamos por Maria.”

“Vinde, bendito de meu Pai”

Retornando de uma missão apostólica, quando já estava com 63 anos de idade, curou uma mulher cega, na presença de uma enorme multidão que acorria para venerá-lo.

Foi o último milagre realizado na sua existência terrena.

Ao chegar a seu amado mosteiro de Claraval, sentia-se desfalecer.

Mas transbordava de sua alma a serena confiança do navegante que finalmente avista o porto anelado.

Ele mesmo, numa carta, dá conta de sua derradeira moléstia, pouco antes de partir para a eternidade:

“O sono foge de mim, para que a dor não se mitigue estando os sentidos adormecidos.
Quase tudo o que padeço são dores no estômago.
Para nada ocultar a um amigo que deseja conhecer o estado de seu amigo, e falando não como sábio, segundo o homem interior, digo-vos que o espírito está pronto, na carne fraca.
Rogai ao Salvador, o qual não quer a morte do pecador, que não atrase mais o meu fim, mas o guarde e ampare”.

20 de agosto de 1153

Bispos, abades e monges circundavam o leito onde agonizava aquele profeta do Senhor.

Choravam eles o superior que aconselhava, o doutor que ensinava, o pai que os amava, o varão de Deus que os santificava.
Mas este santo varão, até o último alento, os animou e consolou, e com grande despretensão dizia que já era tempo de um servo inútil passar a outro aquele cargo, e uma árvore estéril ser arrancada…

No dia 20 de agosto de 1153, às nove horas da manhã, entregou sua puríssima alma a seu Criador e Redentor. (ARM)

 

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