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O padroeiro dos estudantes em apuros

Redação (Quarta-feira, 18-09-2019, Gaudium Press) Deus criador chama todos e cada um dos homens à santidade, porém, em sua sabedoria infinita, o faz pelas mais diversas vias. A uns pede que se isolem como eremitas nos desertos, a outros manda pregar às multidões. Conserva por toda a vida a inocência imaculada de uns, enquanto a outros faz emergir de uma situação de terríveis pecados para, arrependidos, atingirem a perfeição.

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Há, porém, um contraste que desperta especialmente a atenção: quando a excelência das virtudes floresce numa alma pouco favorecida pelas capacidades intelectuais. Deus suscitou inteligências luminares, como São Tomás de Aquino ou Santo Agostinho, mas, para demonstrar sua onipotência, elevou a alto grau de santidade também homens os mais desprovidos de capacidades naturais. Um destes últimos é São José de Cupertino.

Uma vocação difícil de realizar-se

O pequeno José veio ao mundo em 17 de junho de 1603, na aldeia de Cupertino, não longe de Otranto, Itália. Seu pai, umpobre carpinteiro, morreu antes que o bebê nascesse, deixando a infeliz viúva com seis filhos e carregada de dívidas. Insensíveis à sua dor, os credores a despejaram da casa, pois ela não tinha condições de pagar o aluguel. A triste senhora ficou reduzida à situação de dar à luz em um estábulo. Assim, já em seu nascimento, a vida de José se assemelhava à do Salvador, cujos passos viria resolutamente a seguir.

Apesar de sua pobreza, a mãe conseguiu colocá-lo em uma escola, e foi nela que, aos oito anos, ele teve o primeiro de seus numerosos êxtases. Seus colegas, não compreendendo a razão de vê-lo parado e com o olhar perdido, deram-lhe o jocoso apelido de “Boccaperta” (boca aberta).

Quando estava um pouco mais crescido, começou a trabalhar como aprendiz de sapateiro. No entanto, já sentia a vocação religiosa, e ao completar 17 anos tentou ser admitido num convento dos capuchinhos. Para sua tristeza, foi recusado por conta de sua ignorância. Não se deixou esmorecer e, à custa de grande insistência, conseguiu ser recebido como irmão leigo, em 1620, pelos capuchinhos de Martino, que o experimentaram em diversos ofícios, mas os seus êxtases contínuos sujeitavam a louça e outros objetos do convento a uma prova não pouco custosa! Dizem que chegaram a colar em seu hábito os cacos da louça que quebrara. Foi preciso mandá-lo embora. Na terrível provação de ter que despir-se do hábito franciscano, comentou que era como se lhe arrancassem a própria pele.

José procurou abrigo na casa de um tio que tinha certas posses, mas, após algum tempo, este o declarou “completamente inútil” e o pôs na rua. Após tantas desventuras, voltou para a casa materna. Sua mãe recorreu a um parente que era franciscano, por cujo intermédio o jovem acabou sendo aceito no convento de La Grotella, como ajudante leigo, nos trabalhos do estábulo.

Embora sempre distraído e desastrado, sua humildade e espírito de oração e penitência o tornaram estimado por todos, e em 1625, por votação unânime dos frades, ele foi por fim admitido como religioso franciscano. Os frades conventuais concordaram em aceitá-lo para cuidar da mula do convento de Grottella. Depois, sua piedade, austeridade, obediência e dons sobrenaturais levaram os frades a admitirem-no no convento.

Pregação feita por meio do bom exemplo

Entretanto, seu amor a Deus levava-o a almejar o sacerdócio. Embora alguns duvidassem que ele fosse capaz de tanto, os superiores permitiram- lhe começar os estudos. Atravessou os anos de filosofia a duras penas. Nas horas de exame, ficava tão inseguro que, muitas vezes, era incapaz de responder. Mas a Providência não o desamparava. Quando seu mestre começava a impacientar-se, o nosso santo lhe dizia: “Tenha paciência, assim será mais meritório”.

Em uma das provas mais importantes, o examinador lhe disse: “Vou abrir a esmo o Evangelho, e a primeira frase que me cair sob os olhos, essa terás de me explicar”. Em seguida, abriu o livro santo na página da visita a Santa Isabel, e mandou Frei José dissertar sobre a frase: “Bendito é o fruto de teu ventre”. Era justamente este o único ponto que ele sabia explanar.

Chegou, por fim, o dia do exame definitivo, no qual se decidiria quem seria ordenado. José
recomendou-se à sua Santa Mãe, Nossa Senhora de Grottella. Apresentou- se o grupo de seminaristas diante do bispo, e este logo começou o exame oral. Os dez primeiros a serem interrogados saíram-se tão bem que o prelado, muito satisfeito com o nível de preparação daquele conjunto, dispensou da prova os demais. Frei José era o 11º da lista… Assim, com razão, Frei José de Cupertino viria a ser declarado padroeiro dos estudantes, especialmente daqueles que se encontram no período de exames.

Foi ordenado sacerdote em março de 1628. Sempre teve muita dificuldade de pregar e ensinar. No entanto, supria essa deficiência e ganhava as almas por meio da oração, da penitência e do poderoso meio do bom exemplo.

“Frei Burro”… e hábil teólogo

Na verdade, era pouco versado nos conhecimentos humanos, tanto que se chamava a si mesmo de “Frei Burro”. Contudo, a graça divina lhe concedia muita sabedoria e luzes sobrenaturais, e desse modo ele não somente ultrapassava o comum dos homens no aprendizado das doutrinas, como se mostrava hábil em resolver as mais intrincadas questões que lhe eram apresentadas. Em certa ocasião, um professor da Universidade Franciscana de São Boaventura disse: “Escutei-o discorrer tão profundamente sobre os mistérios da teologia, como não o poderiam fazer os melhores teólogos do mundo”.

Além disso, nunca deixou de ser místico e grande contemplativo. Tudo aquilo que, de algum modo, tinha relação com Deus ou com as coisas santas – o som do sino, o canto litúrgico, a menção dos nomes de Jesus ou de Maria, alguma passagem dos Evangelhos – facilmente o transportava ao êxtase. E nada o tirava desse estado. Em vão seus irmãos de hábito tentavam empurrá-lo ou arrastá-lo, depois passaram a golpeá-lo, espetá-lo com pregos e, por fim, alguns mais impacientes chegaram a tocar sua pele com brasas. Nada produzia efeito. Por milagre da santa obediência, somente a voz do superior o trazia de volta à vida comum.

Êxtases freqüentes, fonte de transtornos e provações

O êxtase às vezes o surpreendia durante a Missa. Voltando a si, São José retomava o santo sacrifício no ponto preciso em que o havia deixado, sem se
equivocar no cerimonial. Tais eram seus êxtases que certo dia, durante uma levitação, suas mãos ficaram por cima das chamas de dois tocheiros. Atônitos, os espectadores ficaram mudos de temor, mas, passado o êxtase, não havia qualquer sinal de queimadura. Sua Missa durava habitualmente duas horas. Por vezes, Nosso Senhor lhe recomendava que a abreviasse para ir desempenhar seu ofício de esmoler. Aconteceu- lhe mesmo de elevar-se e permanecer suspenso no ar.

Como essas ocorrências causavam não pouco espanto e admiração, além de grande distúrbio na comunidade, os superiores acharam por bem decidir que Frei José não mais celebrasse Missa em público nem participasse dos atos em comum, como cânticos no coro, refeições e procissões. A partir de então, ele devia permanecer em seu quarto, onde uma capela privada foi preparada para seu uso. Tudo o bom frade aceitou, com humilde e obediente resignação.

Mas as provas a que Deus submetia este seu servo estavam longe de terminar. Tantas manifestações sobrenaturais chamaram a atenção da Inquisição, perante a qual o bom frade foi acusado de abuso da credulidade popular. Durante um interrogatório no mosteiro napolitano de São Gregório Armeno, ele teve um êxtase diante dos juízes. O longo e complexo processo ocasionou-lhe o transtorno de ser várias vezes transferido de uma casa dos capuchinhos para outra. Mas Frei José de Cupertino sempre manteve sua paciência e espírito alegre, submetendo- se com confiança aos desígnios da Providência. Longe de afligir-se, progredia na via da santificação. Praticava a mortificação e o jejum a tal ponto que fazia sete longos períodos de abstinência por ano, e durante boa parte desse tempo não experimentava nenhuma comida, exceto às terças-feiras e domingos.

Simplicidade e inocência

Comumente via as pessoas em forma de um animal que representava o estado de sua alma. Se encontrava alguém cuja alma não estivesse limpa, sentia o mau odor do pecado e advertia: “Estás cheirando mal, vai te lavar”. E, após uma boa confissão, sentia um aroma agradável de perfume.

Vivia de tal forma em contemplação que, mesmo durante árduos trabalhos, não conseguia distrair-se dela. Não poucas vezes, pensando nas realidades eternas, José se elevava do chão. Realmente, o “Irmão Burro” passou boa parte de sua vida no ar, entre o céu e a terra… Devido talvez à sua simplicidade e inocência, José de Cupertino tinha grande amizade e familiaridade com as mais simples criaturas de Deus.

Certa vez mandou um passarinho ir ensinar às freiras de um mosteiro cantar o Ofício. E todos os dias, à hora das Matinas e da Noa, eis que o pássaro aparecia à janela do coro, animando o cântico das religiosas.

Em outra ocasião, encontrou duas lebres junto ao bosque de Grottella e as preveniu: “Não vos afasteis de Grottella, porque muitos caçadores vos perseguirão”. Tendo desobedecido a essa recomendação, uma delas foi surpreendida e perseguida por cães. Encontrando aberta a porta da capela, o animalzinho atravessou a nave e atirou-se nos braços de José. “Eu não tinha te avisado?”, disse-lhe o santo. Em seguida, chegaram os caçadores, reclamando sua presa. “Esta lebre está sob a proteção de Nossa Senhora, portanto não a tereis”, respondeu ele. E, depois de abençoá-la, a pôs em liberdade.

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Apenas ao pronunciar os santíssimos nomes de Jesus e de Maria, José entrava em levitação. Passeando um dia com outro frade nos jardins do convento, este lhe disse: “Irmão José, como criou Deus um tão belo céu!” Ao ouvir estas palavras, José deu um grito, voou e colocou-se de joelhos sobre uma oliveira. Os galhos balançavam como se estivessem sob o peso de um pássaro.

A santidade atrai

Sua fama de santidade espalhou-se rapidamente por toda a Itália e mesmo por outros países da Europa. Príncipes, reis, cardeais e até o Papa o procuravam.

Todo este movimento em torno do humilde religioso e os fenômenos sobrenaturais pouco comuns inquietaram a Inquisição. Em 1653, por ordem do Santo Ofício, foi transferido de Assis para o convento capuchinho de Petra Rúbia, e depois, para o isolar mais, a Fossombrone. Devia ele viver isolado, inclusive, da comunidade.

Os frades conventuais recorreram ao Papa Alexandre VII. Queriam reconduzir São José a Assis, mas o Papa respondeu: “Não, basta-lhes um São Francisco em Assis”. Que maior elogio para um franciscano?!

Foi enviado a Ósio, perto de Loreto em 1657. Ao chegar, exclamou: “Este é o lugar de meu descanso”. E de fato foi em Ósio que entregou sua virtuosa alma a Deus, em 17 de setembro de 1663. Foi canonizado por Clemente XIII em 1767.

Por Carlos Toniolo.

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