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São Francisco de Assis: alguns fatos de uma grande vida

 

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Redação (Sexta-feira, 04-10-2019, Gaudium Press) Em plena Idade Média, no início do décimo-terceiro século, havia na cidade de Assis, um homem oriundo de estirpe nobre, mas que se fizera mercador e dispunha de avultada fortuna.

Ele tinha um filho, que se chamava João. Como o seu comércio obrigava a constantes contatos com os franceses, fez questão que o filho aprendesse francês.

João chegou a falar tão bem essa língua, que recebeu a alcunha de François (Francisco), sob a qual é conhecido. Unicamente preocupados como os negócios, os pais do jovem Francisco haviam negligenciado a sua educação.

Este, a princípio, mostrava-se muito inclinado aos vãos divertimentos mundanos e a adquirir riquezas. Entretanto, obrigara-se a dar esmola a todo e qualquer pobre que a pedisse pelo amor de Deus.

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Amar ao próximo por amor de Deus

Certa vez em que, muito ocupado, se recusara a atender um mendigo, arrependeu-se, e correu atrás dele para entregar-lhe o óbulo solicitado.

Outra vez, recuperando-se de grave moléstia, mandou fazer roupas luxuosas e montou a cavalo, disposto a divertir-se um pouco. De súbito, porém, no meio de uma planície, apeia-se, despoja-se das vestes, troca-as pelos andrajos de um mendigo, cuja miséria lhe comovera o coração.

Certo dia, ao dar com um leproso que se aproximava, o primeiro impulso de Francisco foi recuar, horrorizado, Recuperando-se, porém, beija o leproso e dá-lhe esmola, Era assim que aquele filho de mercador fazia seu aprendizado na virtude.

Solidão e Vontade de Deus

Finalmente decidido a chegar à perfeição, Francisco só achava prazer na solidão e pedia a Deus, incessantemente, que lhe desse a conhecer à vontade.

Muitas vezes visitava os hospitais, onde carinhosamente se punha a serviço dos enfermos; chegava a beijar-lhes as úlceras, sem dar atenção às fraquezas e repulsas da natureza.

Quando não dispunha de dinheiro para distribuir entre os pobres, dava-lhes suas próprias roupas.

Como enfrentou a irritação do pai

Irritado com as suas prodigalidades, o pai de Francisco o fez comparecer perante o bispo de Assis para que renunciasse aos seus bens.

Francisco devolveu-lhe até mesmo as roupas que usava, e cobriu-se com um surrado capote de camponês, que alguns dias mais tarde, substituiu por um manto de eremita.

Obedecendo um conselho evangélico

Dois anos depois, durante uma missa a que assistia, ficou extremamente impressionado com as palavras do Evangelho:
“Não queirais possuir ouro nem prata, nem tragais dinheiro em vossas cinturas, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão”.

Obedeceu-lhe literalmente e aplicou-as a si mesmo; e, depois de jogar fora seu dinheiro, de tirar os sapatos e abandonar o cajado e o cinto de couro, vestiu um pobre hábito, que amarrou com uma corda.

Era o traje habitual dos pastores e dos pobres camponeses daquele cantão da Itália.

Patriarca dos Irmãos Menores

São Francisco tornou-se o patriarca de uma ordem religiosa que se espalhou pela terra inteira.

Deu a seus monges o nome de “Irmãos Menores”, ou “Irmãozinhos”, para distingui-los dos religiosos de São Domingos, denominados “Irmãos Pregadores”.

No decorrer do tempo, receberam também as alcunhas de “franciscanos”, e de “Cordeleiros”, porque cingiam a cintura com uma corda.

Dividiram-se em várias famílias, das quais a dos Capuchinhos é a que mais estritamente observa a pobreza.

A Dama Pobreza

Francisco dizia que o espírito da pobreza era o fundamento da sua ordem.

Seus religiosos nada possuíam que lhes pertencesse exclusivamente. Também não permitia que recebessem dinheiro, apenas as coisas necessárias à subsistência diária.

Chamava a pobreza sua dama, sua rainha, sua mãe, sua esposa, reclamava-a insistentemente de Deus, como seu quinhão, seu privilégio:

“Ó Jesus, vós que vos comprouvestes em viver na extrema pobreza, fazei-me a graça de conceder-me o privilégio da pobreza. Meu desejo mais ardente é ser enriquecido com esse tesouro. Peço-o para mim e para os meus, a fim de que para a glória do vosso santo nome nada possuamos, nunca, sob o céu, para que devamos nossa própria subsistência à caridade dos outros e por isso mesmo sejamos muito moderados e muito sóbrios”.

Obedecer: fazer a vontade de Deus

O amor de Francisco pela obediência não era menos digno de admiração.
Com frequência era visto consultando os últimos de seus irmãos, embora fosse dotado de rara prudência e até mesmo do dom da profecia.

Nas suas viagens costumava prometer obediência ao religioso que o acompanhava.

Considerava a propensão que tinha para a obediência uma das maiores graças que Deus lhe concedera, pois com a mesma facilidade e presteza obedecia tanto um simples noviço como ao mais antigo e prudente dos frades; dizia, justificando-se, que devemos considerar não a pessoa a quem obedecemos, mas à vontade de Deus manifestada através da vontade dos superiores.

Pequenos fatos de um grande Santo

Francisco tinha particular afeição pelas cotovias. Comprazia-se em admirar na plumagem desses pássaros o matiz pardo e acinzentado que escolhera para a sua ordem, a fim de dar aos frades frequentes ocasiões para meditarem na morte, na cinza do túmulo.

Ao mostrar aos seus discípulos a cotovia que se erguia nos ares e se punha a cantar, depois de ter apanhado alguns grãozinhos no chão, dizia alegremente:

“Vede, elas nos ensinam a dar graças ao Pai comum que nos proporciona alimento, a comer apenas para a sua glória, a desprezar a terra e a elevar-nos ao céu, onde devemos nos entreter.”

Certa vez, quando pregava no povoado de Alviano e não conseguia ser ouvido por causa da algazarra das andorinhas que tinham construído o ninho naquele lugar, a eles se dirigiu nestes termos: “Irmãs andorinhas, já falastes bastante, chegou agora a minha vez de falar. Escutai a palavra de Deus e ficai em silêncio enquanto eu pregar”.

As avezinhas não soltaram mais um único pio, e não se mexeram do lugar em que se encontravam.
São Boaventura, que narra o fato, acrescenta que, sentindo-se um estudante de Paris incomodado com o chilrear de uma andorinha, disse a seus condiscípulos:

“Devem ser uma das que perturbavam o bem-aventurado Francisco no seu sermão e à qual mandou calar-te”.

Depois disse à andorinha: “Em nome de Francisco, servo de Deus, ordeno-te que te cales e que te chegues a mim”.
Imediatamente o pássaro se calou e pousou-lhe na mão. Surpreso, ele a deixou ir, e não foi mais importunado.

Era assim que Deus se comprazia em honrar o nome do seu servo.

Um dia, quando São Francisco se preparava para tomar a refeição em companhia do irmão Leão, sentiu-se intimamente confortado ao ouvir o canto de um rouxinol. Pediu a Leão que também cantasse os louvores de Deus, alternando sua voz com a do pássaro.

Como o religioso se desculpasse, alegando falta de voz, o santo pôs-se a responder ao rouxinol, e assim continuou até à noite, quando foi obrigado a interromper-se, confessando com santa inveja que o passarinho o derrotara. Fê-lo pousar na sua mão, louvou-o por ter cantado tão bem, deu-lhe de comer, e só depois de ter recebido a sua benção, e com a sua permissão, foi que o rouxinol voou.

Quando, pela primeira vez, visitou o monte Alvergue, viu-se rodeado por uma multidão de pássaros que lhe pousaram na cabeça, nos ombros, no peito e nas mãos, batendo as asas e demonstrando com o movimento de suas cabecinhas o prazer que lhes causava a chegada de seu amigo. “Vejo, disse Francisco a seu companheiro, vejo que devo permanecer aqui, pois meus irmãozinhos estão contentes.”

Durante uma estada sua nessas montanhas, um falcão, aninhando nas proximidades, afeiçoou-se ao santo homem; anunciava-lhe com um grito que chegara a hora em que costumava rezar; e, se Francisco se encontrava doente, dava-lhe o aviso uma hora mais tarde a fim de poupá-lo; e quando, ao romper do dia, sua voz, como um sino inteligente, tocava as matinas, tinha o cuidado de atenuá-la e suavizar-lhe a sonoridade.

Era, afirma São Boaventura, o divino presságio dos grandes favores que o santo receberia nesse mesmo lugar.

Antes de morrer recebeu as Chagas de Jesus

A milagrosa impressão dos estigmas de São Francisco, é comemorada no dia 17 de setembro.

Havia já dois anos que São Francisco recebera as cinco chagas de Nosso Senhor em seu corpo. Sua saúde declinava dia a dia; e tendo aumentado os pregos de seus pés, não podia mais caminhar.

Pedia que o levassem às cidades e às aldeias para animar os outros a carregarem a cruz de Jesus Cristo.

Numa dessas excursões, curou uma criancinha de Bagnara que, mais tarde foi São Boaventura.

Francisco tinha um grande desejo de voltar às primeiras práticas de humildade, servir os leprosos, e obrigar o corpo a servir-lhe, como no início da conversão.

O fervor do espírito compensava a fraqueza do corpo; mas as enfermidades de tal modo se agravaram que eram raros os lugares nos quais não sentia dores muito fortes; e, tendo as suas carnes se consumido inteiramente, só lhe restavam pele e ossos.

Os frades acreditavam defrontar outro Job, tanto por causa dos sofrimentos como da paciência com que os suportava.

O santo pediu-lhes que o levassem à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, a fim de entregar a alma a Deus no mesmo lugar onde recebera o espírito da graça.

Nos seus últimos momentos, ditou uma carta dirigida a todos os superiores, sacerdotes e irmãos da ordem, recomendando-lhes respeito para com o santíssimo sacramento do altar.

O Transito dessa vida para a eterna

Sentindo aproximar-se a última hora, mandou que deitassem na terra nua, tirou a túnica, a fim de tornar mais sensível o seu perfeito despojamento; depois, erguendo os olhos ao céu, cobriu com a mão esquerda a chaga do lado direito e disse a seus irmãos:

“Fiz o que me cabia: Nosso Senhor vos ensinará o que deveis fazer”.

Um dos religiosos, adivinhando a intenção do santo, apanhou uma túnica e uma corda e as apresentou ao moribundo dizendo:

“Empresto-vos este hábito como a um mendigo, aceitai-o por obediência.”

O santo homem ergueu as mãos para o céu e bendisse a Deus por ter sido aliviado de todos os cuidados.

Mandou chamar todos os irmãos que se encontravam na casa e exortou-os a perseverarem no amor de Deus, na paciência, na pobreza, na fé da Igreja Romana; depois, estendendo sobre eles os braços colocados um sobre o outro em forma de Cruz, deu sua benção tanto aos ausentes como aos presentes.

Satisfazendo-lhe a um desejo, Frei Leão e Frei Ângelo cantaram em coro o cântico do irmão sol e da irmã morte.

Terminado o cântico, pediu que lhe lessem a Paixão de Nosso Senhor, segundo São João.

No fim dessa leitura, começou a recitar com voz agonizante o salmo de Davi:

“Com minha voz, clamei ao Senhor; com minha voz supliquei ao Senhor…”.

Depois de pronunciar as últimas palavras do Salmo, sua boca fechou-se para sempre!

Era a noite do sábado para domingo, no dia 4 de outubro de 1226; quadragésimo-quinto da sua vida; vigésimo da sua conversão; décimo-oitavo da instituição da sua ordem…

Francisco não mais pertencia a este mundo, chegara ao fim de seu caminho, estava no Céu.
(JSG)

(Fonte: “Vida dos Santos”, Padre Rohrbacher, Volume XVII)

 

 

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