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Um estouro harmônico e perfumado

Redação (Terça-feira, 04-02-2020, Gaudium Press) A Igreja Católica Apostólica Romana foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. E o ponto de partida de sua História pública foi a vinda do Espírito Santo sobre Maria Santíssima, os Apóstolos e discípulos, no dia de Pentecostes.

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O ponto de partida da História pública da Igreja foi
a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes.
Foto: Salterio de Ingemborg

Toda a Criação se rejubilou

Quando Jesus morreu na Cruz, os membros da Igreja “se reduziam a umas 500 pessoas na Galileia e umas 120 em Jerusalém”. Com a descida do Paráclito, o número de cristãos aumentou prodigiosamente.

A palavra “Pentecostes” provém do grego pentekosté – quinquagésimo dia. De fato, a vinda do Espírito Santo ocorreu cinquenta dias após a Ressurreição de Nosso Senhor.

Maria Santíssima, os doze Apóstolos, os discípulos e as Santas Mulheres, num total de 120 pessoas, estavam no Cenáculo, em recolhimento e oração, “como guerreiros que esperam um general para se lançarem ao combate”.

“De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2, 2-4).

Essa “forte ventania” não produzia ruídos cacofônicos, mas, segundo afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, sons “angelicamente belos e concatenados, à semelhança de certas músicas iniciadas com uma retumbante abertura.

“Podemos também imaginar que perfumes deliciosos se difundiram pelo ambiente! Nada ou muito pouco teriam a ver com o conceito comum de fragrância vendida em lojas comercias. Seriam odores mais espirituais que materiais, espalhando-se por todo o universo palpável daqueles arredores, partindo do lugar onde se situava o Cenáculo.

“Além dos sons harmoniosos e dos aromas, terão havido lindas reações da natureza como, por exemplo, pássaros que se reuniram e se puseram a entoar seus mais belos trinados. Enfim, pode-se supor que toda a Criação se rejubilou com a descida do Espírito Santo. […]

A Igreja repousava, como criança, nas mãos da Santíssima Virgem

“Podemos imaginar que, naquela ocasião, estava Nossa Senhora sentada numa cadeira de braços como se fosse um trono, colocado num estrado, tendo diante d’Ela os doze Apóstolos sentados em tronos menores, dispostos mais ou menos em semicírculo.

“Todos rezavam, pois haviam feito um longo recolhimento espiritual e suplicaram graças, as quais desceram sobre cada um deles em torrentes, a rogos de Maria Santíssima, Medianeira de todos os dons divinos. […]

“O espírito de Nossa Senhora paira a uma altura inimaginável, sem perder contato com os filhos d’Ela. Em certa hora, uma luz começa a aparecer. Quando ela se torna mais intensa e se generaliza, há um estouro harmônico e perfumado. Os Anjos cantam,

Nossa Senhora está recolhidíssima, como no instante em que se deu a Encarnação do Verbo em seu seio puríssimo, ou quando Ela segurou em suas mãos o Menino Jesus, logo após Lhe ter dado à luz, e seus olhares pela primeira vez se cruzaram.”

Todos “estão ali reunidos, recolhidos em oração e recordações dos ensinamentos do Mestre. Sentem que algo de extraordinário está por acontecer. Seus corações se inflamam a cada nova oração, a cada nova lembrança das palavras de Jesus.

“O ambiente se reveste de grandeza, e os discípulos se tomam de um
encantamento crescente pela pessoa de Maria Santíssima, vendo n’Ela a imagem do Filho. Tudo reluz.

“Subitamente, quando pensam que atingiram o auge de suas cogitações, tudo ainda estava por vir: o Divino Espírito Santo aparece em forma de línguas de fogo e deita sobre cada um deles a plenitude de seus dons.”

“O fogo pousou sobre a cabeça [de Nossa Senhora] para depois se dispersar sobre todos os outros, a fim de dar a entender que a Virgem Maria é a Medianeira de todas as graças, tudo nos vem por meio d’Ela.”

Monsenhor João Clá escreve:
“Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.”

embraram-se de tudo o que o Mestre lhes ensinara

“‘Uma forte ventania’ (At 2, 2) pode ser vista como a chegada da torrente de graças que estavam sendo derramadas sobre todos os presentes. Eram graças místicas eficazes e superabundantes que ‘encheram’ o Cenáculo. […]

“O fogo, feito de luz e calor, era o melhor elemento para simbolizar o ardor próprio à ação restauradora e entusiasmante do Espírito Santo. Ao pairarem sobre as cabeças de Maria e dos demais presentes, as chamas se apresentavam sob a forma de línguas de fogo. Nelas podemos ver simbolizadas as labaredas que a pregação daqueles varões suscitaria.

“‘Todos ficaram cheios do Espírito Santo’ (At 2, 4). De Maria a Igreja exclama: ‘cheia de graça’ (Lc 1, 28), e de fato Ela o foi desde o primeiro instante de sua Imaculada Conceição. No Cenáculo recebe uma plenitude ainda maior.

“Nessa passagem vemos também os Apóstolos, de acordo com suas respectivas missões, serem inundados dos mais especiais dons. Lembraram-se, então, com amor e compreensão, de tudo o que o Mestre lhes ensinara, estando prontos para percorrer o mundo pregando a Boa-nova.”

Cumpre observar que não só os Apóstolos, mas também “os discípulos e as Santas Mulheres começaram a falar várias línguas”.

Nessa ocasião, devido à festa judaica de pentecostes, encontravam-se em Jerusalém israelitas provenientes de diversas regiões, que falavam diferentes idiomas.

Quando ouviram o grande estrondo belo e harmonioso, muitos correram até o Cenáculo. E, deveras surpresos, começaram a ouvir as pregações nas línguas deles.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 1)

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1- LLORCA, Bernardino. Historia de la Iglesia Católica – Edad Antigua. 6. ed. Madri: BAC, 1990, v. I, p. 64.

2- DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours. Paris : Louis Vivès. 1869. v. V, p. 296.

3- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Reflexões na festa de Pentecostes. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano VIII, n. 86 (maio 2005), p. 20.22.24.

4- Idem. Reflexões em torno da festa de Cristo Rei. In revista Dr. Plinio, Ano XI, n. 128 (novembro 2008), p. 28.

5- Idem. O início de uma epopeia! In revista Dr. Plinio, Ano XV, n. 170 (maio 2012), p. 8.

6- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 393.

7- Idem. Op. cit. 2013, v. I, p. 401-402.

 

 

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