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Artigo: Será que você padece de neofilia?

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O desejo exagerado de conhecer tudo é denominado “Síndrome de Fausto”

São Paulo (Quarta-feira, 14-07-2010, Gaudium Press) Neste novo artigo, nossos colaboradores discorrem sobre uma das maiores “enfermidades psicológicas” do século XXI: a neofilia ou o desejo incontrolável pelo Novo.

Vivemos na era da informação e nunca foi tão fácil o acesso ao conhecimento. Todos os dias somos constantemente bombardeados por notícias oriundas dos quatro cantos do mundo. Hoje tomamos conhecimento de um furacão que assola o Golfo do México, de um terremoto nas ilhas do Pacífico, de uma leve queda da bolsa de Nova York. A preocupação de nos mantermos informados é cada vez maior.

Por outro lado, parece que o homem nunca foi tão desconhecedor da essência das coisas, e de modo especial, daquelas que passam em seu próprio interior (…). Tal a facilidade de acesso à informação acabou também por gerar uma certa banalização do saber. O tempo se tornou cada vez menor e, entretanto, muitas são as coisas que se deseja conhecer.

Seguindo esta tendência, a imprensa passou a narrar, então, os fatos de um modo cada vez mais sucinto, rápido e simplista. São as denominadas pílulas da informação. Sobre a razão disto, os publicitários argumentam que qualquer informação, um pouco mais profunda ou que apresente maior riqueza de detalhes, pode cansar o leitor. Sendo assim, quanto menor for a notícia, maior é a probabilidade de que ela seja lida.

Esta hipertrofia da informação também se encontra nos ambientes acadêmicos. Os professores que precisam ensinar a geração da imagem devem sempre fazer uso de novo métodos, de novas ferramentas didáticas, para tentar atrair a atenção dos alunos. ‘Parece que o culto à magreza também afetou aos meios acadêmicos. Os livros, os artigos, as conferências devem ser curtas, ninguém dispõe de muito tempo para ler ou escutar. O único modo de sobreviver está em ser rápido, curto’.

Todavia, para que a informação possa realmente alcançar o grande público, não basta que ela seja breve ou simples. Ela também deve vir acompanhada de outro elemento, que, para as atuais gerações, converteu-se em algo verdadeiramente indispensável. Tal elemento é o que comumente chamamos de “novidade”.

Há muito tempo a indústria de entretenimento está atenta a este fenômeno, pois sabe que existe um público que sempre está atrás de um novo computador, um novo celular, um novo aparelho de mp3. O principal problema é que aquele que busca a mais recente novidade ainda não foi capaz de utilizar todos os recursos oferecidos pelo equipamento anterior. É o desejo do novo pelo simples fato de ser novo. Enquanto para alguns este desejo de possuir o último lançamento não oferece consequências mais profundas, para outros, a ânsia por novidades se transforma em uma verdadeira obsessão.

De acordo com a Associação Psiquiátrica Americana, este problema já tem um nome e pode ser considerado como uma das maiores “enfermidades psicológicas” do século XXI. Chama-se neofilia, um neologismo latino que significa “amor à novidade”. Seu principal “sintoma” consiste neste desejo sem freio de possuir tudo o que é novo, principalmente aquilo que se refere ao campo da cibernética.

Para saber se você padece de neofilia, veja alguns exemplos:
– Comprou um celular e ainda sem usar todos os seus recursos já está pensando em comprar outro.

– Quando vai ao supermercado, sempre passa no setor dos eletrônicos para ver a “última novidade”.

– Busca assistir, pela mídia, a todos os “lançamentos cibernéticos” e, ao saber que algum amigo vai realizar uma viagem ao exterior sempre pede que ele lhe compre alguma coisa.

– Deseja trocar de computador a cada seis meses.

– Acessa sua caixa de e-mails diversas vezes ao dia e se entristece quando não encontra nenhuma mensagem.

– Ao possuir qualquer equipamento eletrônico, em pouco tempo se decepciona com o que tem e sente uma frustração interior. Em seguida, deposita toda a sua esperança em um novo lançamento.

– Acredita que tudo aquilo que vem escrito “novo” ou “último lançamento” deve ser necessariamente considerado melhor.

– Não resiste ao ver um amigo com algum equipamento que você ainda não possui.

– Armazena milhares de músicas sem jamais ter tempo de escutar todas. Sua alegria está em dizer somente que possui um grande arquivo musical.

– Costuma criticar aqueles amigos que não sabem usar estas novas tecnologias.

– Sempre está baixando novos programas na internet que prometem a “solução para todos os seus problemas”.

Bulimia intelectual ou Síndrome de Fausto
Ainda que a neofilia se identifique com o consumismo ou com o desejo incontrolável por novidades, existe também outra “enfermidade” que, mesmo sendo menos recorrente, também representa um dos traços que marcam nossa época. Ela é conhecida como “bulimia intelectual” e está associada ao desejo exagerado de conhecer tudo.

Por esta razão, alguns autores também a denominaram “Síndrome de Fausto”. Tal patologia recebeu este nome em função da amarga lamentação do personagem Fausto, na obra homônima de Goethe. Nela, o escritor alemão descreve muito bem o percurso final daquele que se entrega ao incontrolável desejo de conhecer tudo.

“(…) Ah! Já estudei filosofia, jurisprudência, medicina e também, por desgraça, teologia. Tudo isto com profundidade extrema e grande esforço. E agora me vejo, pobre louco, sem saber mais do que sabia no princípio. Tenho os títulos de mestre e doutor e há 10 anos que arrasto meus discípulos para cima e para baixo, em direção reta ou curva e vejo que não sabemos nada. Isto consome meu coração. Claro está que sou mais sábio do que todos estes néscios doutores, mestre, escritores e frades; não me atormentam nem os escrúpulos, nem as dúvidas. Não temo o inferno, nem o demônio.

Entretanto, sinto-me privado de toda a alegria; não creio saber nada com sentido, nem me dá orgulho poder ensinar algo que melhore a vida dos homens e mude seu rumo. Não tenho bens, nem dinheiro, nem honra, nem distinções perante o mundo. Nem sequer um cachorro quererá viver nestas circunstâncias. Por esta razão, entreguei-me à magia: para ver se, pela força e pela palavra do espírito, são revelados a mim certos mistérios; para não ter que dizer com suor amargo o que não sei; para conseguir reconhecer o que o mundo contém em seu interior (…)”.

Queridíssimo leitor, se você não padece de neofilia ou Síndrome de Fausto, uma coisa é certa: você certamente conhece alguém assim.

Por Inácio Almeida

 

 

 

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