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Artigo: Como explicar que Jesus fosse Deus e homem? – Parte 2

 

Como explicar o mistério da encarnação

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Sabemos, segundo nos ensina São Leão Magno, que “o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, sobrepuja toda inteligência e transcende todos os exemplos que poder-se-iam utilizar”. Porém, graças à Divina Revelação e sob a direção do Espírito Santo, a Igreja, se não chega a compreender ou abarcar todo o mistério, tem-no formulado com precisão, longe de todo erro. No início do cristianismo, quando a doutrina dos apóstolos foi recebida no mundo grego, iniciou-se a tentativa de traduzir para as categorias próprias da filosofia o conteúdo da Revelação. Neste processo, alguns desviaram-se da verdade, defendendo doutrinas errôneas, mediante as quais procuravam fazer encaixar dentro dos estreitos limites da razão humana o mistério de Deus humanado. As dificuldades encontradas pelos estudiosos das Escrituras, a respeito da compreensão do mistério se cifravam, principalmente, em duas tendências opostas, descritas a seguir em grandes traços. Alguns, tendo dificuldade em compreender como em uma mesma pessoa pudessem coexistir duas realidades, tal como, Deus e o homem, quiseram propor, como resultado da Encarnação, uma única pessoa, na qual estariam misturadas qualidades divinas e humanas. Outros, distinguindo perfeitamente a humanidade de Cristo e sua Divindade, e não logrando explicar como essas duas naturezas poderiam coincidir na mesma pessoa, propuseram que Cristo era unido a Deus como todos os santos o são, mediante a graça e a inabitação. Concluindo erroneamente tratar-se de duas pessoas distintas, uma divina e outra humana, a qual seria adotada por Deus de forma especial.

A voz da Igreja através dos Papas e dos concílios

A Santa Igreja de Deus, situando-se no centro de ambas posições, através do V Concílio ecumênico, confessa a união de Deus Verbo com a carne, segundo a união de composição, ou seja, segundo a hipóstasis. Hipóstasis é um termo grego que deriva do verbo sustentar, pois toda natureza racional não existe por si mesma senão sustentada por uma pessoa. Ora, a natureza humana de Cristo era sustentada pela segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja convocou os concílios ecumênicos, nos quais foi declarada e explicitada, em termos cada vez mais precisos, a verdade sobre a encarnação do Filho de Deus. O primeiro destes grandes concílios realizou-se em Nicéia (ano 325). Lá os padres compuseram o Credo que, com alguns detalhes acrescidos no Concílio de Constantinopla (ano 381), recita-se nas nossas missas dominicais. Eis um trecho significativo do credo niceno: “… [Cremos] em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai, isto é, da substância do Pai, […] gerado não criado, consubstancial ao Pai, por Quem foram feitas todas as coisas […], que por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus e Se encarnou e Se fez homem, padeceu e ressuscitou …”. Anos mais adiante, no Concílio de Éfeso (ano de 431), ficará ainda mais clara a questão da Encarnação. Os padres conciliares esclarecem que em Cristo há duas naturezas – a divina e a humana – unidas, sem confusão, na Pessoa única e divina do Verbo. Na carta escrita por São Cirilo de Alexandria ao herege Nestório, lida e aprovada pelos padres conciliares, assim explicita o grande patriarca a doutrina cristã: “E embora sejam distintas as naturezas, unidas porém por uma verdadeira união, dessa unidade resulta um só Cristo e Filho; não que se suprima, pela união, a diferença de naturezas, mas porque a divindade e a humanidade, nesta misteriosa e inefável união, constituem para nós, um só Senhor, e Cristo, e Filho”. E o patriarca João de Antioquia, então pastor dessa cidade, assim formulou a mesma Fé em termos aceitos plenamente por São Cirilo e pela Igreja. Confessa ele que Cristo é, ao mesmo tempo, “perfeito Deus e perfeito homem”, gerado pelo Pai desde todos os séculos, isto é, desde a eternidade, antes do tempo, e “nos últimos tempos, por nós e por nossa salvação”, nascido da Virgem Maria segundo a humanidade. Desta confissão de Fé destaca-se uma afirmação belíssima: Jesus é “consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade”. Para o patriarca João, a união da divindade e da humanidade dá-se sem confusão, de forma que a divindade em nada fica diminuída pela humanidade, nem esta última absorvida pela divindade. Mas foi no Concílio de Calcedônia (451), com a assistência de 600 bispos, onde, graças ao gênio do Papa São Leão Magno, a doutrina da Igreja atinge um auge de explicitação a respeito desse mistério, distinguindo ,claramente, na Pessoa do Verbo encarnado, duas naturezas intimamente unidas, mas sem confusão: “Deve-se se reconhecer um só mesmo Cristo Senhor, Filho Unigênito, em duas naturezas, sem confusão, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis, de nenhum modo suprimida a diferença das naturezas por causa de sua união, mas salvaguardada a propriedade de cada natureza e confluindo numa só Pessoa, não separado ou dividido em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus-Verbo …”. Portanto, Cristo é Deus, com o Pai e o Espírito Santo, desde toda a eternidade, e, homem verdadeiro, pois uniu à sua pessoa a natureza humana completa, capaz de conhecer e amar como homem, capaz de sentir e sofrer até a morte .

Encarnação, o amor pede o amor

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Diante de tão grande mistério, os cristãos devem dar infinitas graças a Deus pela sua bondade. O Filho de Deus desceu à terra, no seio puríssimo da sempre Virgem Maria, para salvar e resgatar o homem, abrindo-lhe as portas do paraíso fechado e fazendo-nos partícipes da família de Deus. É uma verdade altamente comovente! Como diria São Tomás: “Cristo assumiu um corpo animado, e dignou-se nascer da Virgem, para nos entregar sua divindade; fez-se homem, para fazer o homem Deus”. Por isso, diante do mistério da Encarnação, devemos ter presente o grandíssimo amor de Deus para o gênero humano. Nesse sentido, nos exorta São Tomás: “… nenhum indício é mais evidente da caridade divina que o de Deus, criador de todas as coisas, fazer-se criatura; o do Senhor nosso, fazer-se nosso irmão; o do Filho de Deus, fazer-se filho de homem. Lê-se em São João (Jo 3, 16): tanto Deus amou o mundo, que lhe deu o Seu Filho. Pela consideração dessa verdade, deve ser reacendido, e de novo em nós afervorado o nosso amor para com Deus”.

Pe. Carlos Werner Benjumea, EP

 

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