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Dom José e padre Edson falaram à Gaudium Press sobre os trabalhos na diocese de São Gabriel da Cachoeira

São Gabriel da Cachoeira (Quinta, 05-03-2009, Gaudium Press) Antes de exercer uma das mais árduas missões na diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM)- por conta de dificuldades econômicas e geográficas -, dom José Son Sui Wan foi professor de inglês e de português no Ginásio São Manoel e, posteriormente, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena, onde também foi, por 15 anos, professor de Filosofia. Foi Coordenador da pastoral do Seminário Menor de Lavrinhas, coordenador da Pastoral e dos Estudos, Ecônomo e vice-diretor do Instituto Filosófico de Lorena. Depois chegou a vice-diretor no Noviciado Salesiano de São Carlos no Educandário São Carlos e no Educandário Dom Duarte de São Paulo-SP; Diretor do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora de Cruzeiro-SP. Mais experiente, tornou-se diretor do Seminário Menor de Lavrinhas (SP) e diretor do Externato São João de Campinas (SP). Antes de chegar ao episcopado da diocese amazonense, foi diretor do Oratório São Luís em Araras (1994-2002)

Nascido em Xangai (China) em 1942, e formado no seminário salesiano de Hong Kong em 1955, o jovem garoto se destacou no Brasil como um corajoso missionário, uma vez que foi bispo de uma diocese maior do que o estado de São Paulo e onde o principal meio de transporte são barcos – os mais populares são as ágeis voadeiras; a diocese dispõe de um modelo trocado recentemente, agora coberta e com motor mais potente. Com mais de 60 anos de idade, o então bispo chegou a um local onde sobravam dificuldades: as viagens são caras e demoradas – de São Gabriel a Manaus, por exemplo, são três dias de viagem pelo Rio Negro em boas condições, ou seja, quando o nível do rio não está baixo -, a diocese dispõe de pouco dinheiro para aluguéis, reformas e manutenção dos religiosos, que aliás são poucos – no momento há apenas 16 padres e 46 irmãs – e as estruturas são antigas. Mas nada disso desanimou o agora bispo emérito.

No meio do período em que se prepara para a despedida da cidade de 286 mil quilômetros quadrados e 62 mil habitantes – dos quais 91% são católicos, de acordo com levantamento feito em 2004 – dom José Sui Wan arranjou um espaço e nos concedeu a seguinte entrevista:

Quais os principais desafios que o senhor enfrentou durante o episcopado?
São muitos: o primeiro é que em toda a Diocese o transporte principal é via fluvial, por meio de barco ou voadeira (motor de popa). As viagens ficam muito caras, até porque as distâncias entre as paróquias são enormes, o que torna as viagens cansativas. Depois, a diocese depende de aluguel de alguns prédios e recebe uma importância simbólica mensal. O maior apoio vem do Adveniat para combustível, sustento dos missionários, consertos, construções e reformas. Um dos maiores desafios sociais que enfrentamos é o alcoolismo. O índice de suicídio, homicídio e prática de violência é relativamente alto. Há também o fato de que as construções que pertencem à Diocese são muito antigas. Necessitaria de uma boa reforma e construção de novas instalações. E há ainda os problemas para manter o clero. A Diocese não consegue sustentar dignamente os seus presbíteros. Nenhum sacerdote tem plano de saúde ou outros tipos de seguro.

Estes são os desafios e as dificuldades?
Sim, mas as maiores dificuldades da diocese é a parte financeira e a escassez numérica dos padres, que é muito sentida. Em 2002, quando cheguei à diocese, contava com 23 padres. Neste ano de 2009 são apenas 16.

O senhor é bispo há quanto tempo?
Em maio completarei oito anos.

E por que a renúncia?
Algum tempo atrás conversei com Deus: Senhor ofereço minha vida pela santificação dos nossos padres. E a resposta foi rápida: estava naqueles dias com os sintomas do mal de Parkinson.

Nestes anos como bispo de São Gabriel da Cachoeira, teve algum fato ou história muito marcante para o senhor?
Tenho mantido na Diocese, nestes oito anos, um programa diário intitulado “O encontro com o Pastor.”Trata-se de uma mensagem que transmito à população pela rádio e pela TV. O programa é reprisado três vezes ao dia. Um dia, saindo de uma missa, encontrei um garoto de uns sete anos de idade, que griou:”Conheço você!”
Eu respondi: “Quem sou eu?”. “Você é o homem da televisão”, disse ele. Perguntei a ele, então, em um teste de sondagem, o que ele costumava fazer ao me ver na televisão. “Ah, eu mudo o canal”, disse ele. Parabenizei o menino pela sinceridade. Eu era famoso e não sabia.

Existe algo que o senhor teria feito diferente nestes oito anos?
Deixo para Deus julgar esse ponto.

Qual seu próximo passo na vida religiosa?
Devido ao tratamento de saúde, devo permanecer na Inspetoria Salesiana de São Paulo prestando serviço de confissões e direção espiritual na cidade de Araras.

Há alguma mensagem para aqueles com quem conviveste nestes anos como bispo de São Gabriel da Cachoeira?
Meus amigos, nossa vida é uma caminhada:alguns partem, outros chegam. Nós bispos constituímos uma sucessão. Sim, sucessão apostólica.É como na corrida de revezamento (modalidade do atletismo em que equipes de quatro atletas disputam uma corrida):Um bispo passa seu bastão para o próximo. Com alegria eu recebi o bastão do meu irmão e amigo dom Walter Ivan de Azevedo e, com a mesma alegria, eu entrego o mesmo bastão ao meu digníssimo sucessor: dom Edson Taschetto Damian.
É verdade que não sou tão velho para renunciar, mas a saúde precária
me obrigou a fazer esta mudança.Vou torcer muito pelo meu “time”.
Na história da Igreja do Brasil, sou o primeiro bispo chinês e me orgulho de fazer parte de uma plêiade de pastores.
Viva a Igreja Católica!Viva o Povo de Deus!Viva a Juventude!

O senhor faria uma recomendação ao novo bispo da cidade?
Não, porque julgo que o futuro bispo dom Edson, revestido do Espírito Santo e acompanhado pela Virgem Auxiliadora, terá competência e sabedoria de governar, ensinar e santificar o povo de Deus rionegrino.

Boa Vista Nomeado bispo de São Gabriel da Cachoeira no dia em que completa 61 anos, o padre Edson pretende encarar o novo desafio com “a graça de poder viver até o fim dos dias como padre”, sem contar o apoio dado por dom José. Natural de Fontana Freda, município de Jaguari (Rio Grande do Sul), iniciou seus estudos em 1961 no seminário de Santa Maria (RS). Cursou filosofia no seminário de Viamão (RS), teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e mestrado em Teologia Dogmática na Faculdade de Teologia da Assunção (São Paulo).
Ordenado padre no dia 20 de dezembro de 1975, padre Edson foi vigário paroquial em Cachoeira do Sul de 1977 a 1979. Membro da Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas de Charles de Foucault, conviveu com os Irmãos do Evangelho em Salvador (BA), em 1980, onde trabalhou como gari. No ano seguinte, acompanhou os Irmãos do Evangelho de Titichi, na Bolívia, junto aos povos indígenas Quéchuas.

O futuro bispo foi ainda professor de teologia no Instituto de Teologia Paulo VI e na Universidade Católica de Pelotas. Na CNBB foi o assessor do Setor de Vocações e Ministérios de 1993 a 99. Há dez anos trabalha na diocese de Roraima onde, atualmente, é coordenador de evangelização.

Pouco tempo depois da decisão de aceitar o novo desafio – padre Edson pediu uma semana para pensar e conversar com outros religiosos antes de optar pela mudança -, o religioso nos concedeu a seguinte entrevista:

O que sentiu ao saber da nomeação?
Eu já com 61 anos, só pedi a Deus a graça de poder viver até o fim dos meus dias como padre. Estou na diocese de Boa Vista há 10 anos como coordenador de Evangelização e feliz com o trabalho de levar a palavra de Deus. Quando soube da nomeação, pedi uma semana para poder pensar e conversar com outros bispos, amigos e saber se eu deveria ou não assumir a diocese de São Gabriel. Como todos me aconselharam a aceitar, aceito e sigo com o lema “Com Jesus, amar e servir”.

Quais serão as linhas mestras do seu episcopado à frente da diocese de São Gabriel da Cachoeira?
Os indígenas têm e sempre tiveram um espaço especial no coração dos missionários. No tempo em que estou em Roraima, aprendi muito sobre a organização dos povos, sua luta pelo direito às terras, a questão da reserva Raposa Serra do Sol (território garantido por lei a moradia exclusiva de índios, mas que desde o início do século passado é alvo de invasores e disputas com não-índios). Então a evangelização se dará com respeito aos índios e seguindo a linha da CNBB, a linha já definida pela Igreja. O Evangelho não pode ser uma camisa de força. Precisa respeitar a cultura de um povo.

Levará alguma experiência ou projeto específico para usar na diocese de São Gabriel da Cachoeira?
Não, já temos a caminhada definida pela Igreja.

Quais serão os maiores desafios? E as dificuldades?
As comunidades abrangidas pela diocese envolvem cerca de 22etnias indígenas, que pertencem a quatro famílias lingüísticas (yanomamy, tucano oriental, aruak, maku). Nisso seremos ajudados pelos padres e irmãs indígenas que estão na região e falam as línguas dos demais indígenas. Mas o maior desafio talvez seja as distâncias a serem percorridas para chegar às comunidades.

Alguma mensagem para os fiéis e amigos de Boa Vista, que precisarão se acostumar com sua ausência?
Saio de Roraima com muitas lágrimas e muita saudade de amigos e amigas que fiz por aqui.

 

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