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Papa chega a Angola, segunda etapa de sua visita à África

Angola (Sexta, 20-03-2009, Gaudium Press) Após deixar Camarões, o Papa Bento XVI chegou no fim da manhã desta sexta-feira a Luanda, capital de Angola, no início da segunda etapa de sua primeira viagem pela África. Bento XVI foi recebido pelo presidente Eduardo Dos Santos e por autoridades religiosas e políticas locais.

Logo após desembarcar, o papa discursou à multidão que o aguardava no aeroporto. Diante dos fiéis, o exortou a população angolana a fomentar paz e o entendimento entre os povos

“Infelizmente, dentro das fronteiras de Angola ainda há muitas pessoas pobres que reivindicam o respeito por seus direitos. Não deve ser esquecida a multidão de angolanos que vive abaixo do limiar de pobreza absoluta”, disse o papa, ao lado do presidente angolano. “Para isso, peço a vocês que não cedam à lei do mais forte. Deus capacitou os seres humanos a passar por cima de suas tendências naturais, voando nas asas da razão e da fé.”

o presidente José Eduardo dos Santos, cujo governo vem gastando bilhões de dólares nos últimos anos para reconstruir o país, concordou.

“Isto é apenas o começo. Sabemos que a estrada até o bem-estar do povo e a reconstrução nacional é longa”, disse.
O Papa permanecerá três dias em Angola, um país em que é crescente o fervor pelas seitas e igrejas evangélicas, entre elas a brasileira Igreja Universal do Reino de Deus.

Segundo dados oficiais, 55% dos angolanos são católicos e 25% praticam crenças tradicionais. A previsão é que milhões de pessoas compareçam para ver o Papa na capital angolana, principalmente durante a missa ao ar livre que
Bento XVI celebrará no domingo.

Veja, a seguir, a íntegra da primeira alocução de Bento XVI em Angola:

“Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Ilustríssimas Autoridades civis e militares,

Venerados Irmãos no Episcopado,

Queridos amigos angolanos!

Com um profundo sentimento de respeito e simpatia, piso o solo desta nobre e jovem Nação no âmbito de uma visita pastoral, que, no meu espírito, tem por horizonte o continente africano, mas os passos tive de limitar a Yaoundé e Luanda. Saibam, porém, que no meu coração e oração tenho presentes a África em geral e o povo de Angola em particular, a quem desejo oferecer o meu cordial encorajamento a prosseguir no caminho da pacificação e da reconstrução do país e das instituições.

Senhor Presidente, começo por lhe agradecer o amável convite que me fez para visitar Angola e as cordiais expressões de boas-vindas que acaba de me dirigir. Aceite a minha deferente saudação e venturosos votos, que estendo às demais autoridades que gentilmente vieram receber-me. Saúdo toda a Igreja Católica em Angola na pessoa dos seus Bispos aqui presentes e agradeço a todos os amigos angolanos o caloroso acolhimento que me reservaram. A todos que me acompanham pela rádio e televisão chegue a expressão da minha amizade, com a certeza da benevolência do Céu sobre a missão comum que nos está confiada: construirmos juntos uma sociedade mais livre, mais pacífica e mais solidária.

Como não recordar aquele ilustre visitante que abençoou Angola no mês de Junho de 1992: o meu amado antecessor João Paulo II?! Incansável missionário de Jesus Cristo até aos confins da terra, mostrou o caminho para Deus, convidando todos os homens de boa vontade a escutarem a própria consciência retamente formada e a edificarem uma sociedade de justiça, paz e solidariedade, na caridade e no perdão recíproco. Quanto a mim, venho de um país onde a paz e a fraternidade são caras aos corações de todos os habitantes, em particular de quantos – como eu – conheceram a guerra e a separação entre irmãos pertencentes à mesma nação, por causa de ideologias devastadoras e desumanas que, sob a falsa aparência de sonhos e ilusões, faziam pesar sobre os homens o jugo da opressão. Compreendeis por isso como sou sensível ao diálogo entre os homens para superar qualquer forma de conflito e de tensão e fazer de cada nação – e, por conseguinte, também da vossa Pátria – uma casa de paz e fraternidade. Com tal finalidade, deveis tirar do vosso patrimônio espiritual e cultural os valores melhores de que Angola é portadora, para irdes ao encontro uns dos outros sem medo, aceitando partilhar as próprias riquezas espirituais e materiais em benefício de todos.

Como não pensar aqui nas populações da província do Kunene flageladas por chuvas intensas e aluviões que provocaram numerosos mortos e deixaram tantas famílias desalojadas pela destruição das suas casas? Àquelas provadas populações desejo neste momento fazer chegar a certeza da minha solidariedade juntamente com um particular encorajamento à confiança para recomeçarem com a ajuda de todos.

Queridos amigos angolanos, o vosso território é rico; a vossa nação é forte. Usai, porém, estes vossos créditos para favorecer a paz e o entendimento entre os povos, numa base de lealdade e igualdade que promova na África aquele futuro pacífico e solidário a que todos aspiram e têm direito. Para isso, vos peço: Não vos rendais à lei do mais forte! Porque Deus concedeu aos seres humanos voar, sobre as suas tendências naturais, com as asas da razão e da fé. Se vos deixardes levar por elas, não será difícil reconhecer no outro um irmão que nasceu com os mesmos direitos humanos fundamentais. Infelizmente, dentro das vossas fronteiras angolanas, há ainda tantos pobres que reclamam o respeito dos seus direitos. Não se pode esquecer a multidão de angolanos que vive abaixo da linha de pobreza absoluta. Não desiludam as suas expectativas!

Trata-se de uma obra imensa, que requer uma maior participação cívica de todos. É necessário envolver nela a sociedade civil angolana inteira, mas esta precisa de apresentar-se mais forte e articulada tanto entre as forças que a compõem como também no diálogo com o Governo. Para dar vida a uma sociedade verdadeiramente atenta ao bem comum, são necessários valores compartilhados por todos.

Estou convencido de que Angola poderá encontrá-los também hoje no Evangelho de Jesus Cristo, como sucedeu tempos atrás com um vosso ilustre antepassado, Dom Afonso I Mbemba-a-Nzinga; há quinhentos anos, deu ele início em Mbanza Congo a um reino cristão que sobreviveu até ao século XVIII. Das suas cinzas pôde depois surgir, já na passagem do século XIX para o XX, uma Igreja renovada que não pára de crescer até aos dias de hoje, graças a Deus! Eis o motivo imediato que me trouxe a Angola: encontrar-me com uma das mais antigas comunidades católicas da África subequatorial, para confirmá-la na sua fé em Jesus ressuscitado e unir-me às preces de seus filhos e filhas para que o tempo da paz, na justiça e na fraternidade, não conheça ocaso em Angola, permitindo-lhe cumprir a missão que Deus lhe confiou em favor do seu povo e no concerto das nações. Deus abençoe Angola!”

 

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