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Respeito, acolhimento e comoção na visita do Papa à Penitenciária de Rebibbia, em Roma

Roma (Segunda-feira, 19-12-2011, Gaudium Press) Foi uma visita muito tocante e comovente, tanto para os detentos quanto para os funcionários da penitenciária, para os que lá estiveram, mas, também para Bento XVI. 

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Detento pede a Papa Bento XVI que abençoe uma foto de sua filha

As pessoas sobre as quais geralmente se pensa de um modo “feroz”, como disse um dos presos, ofereceram ao Papa uma calorosa recepção com um aplauso que se prolongou por cerca de 10 minutos, de pé. Sentia-se respeito, acolhimento e comoção. Tantas mãos levantadas em direção do Santo Padre para um simples gesto de saudação e de beija-mão em respeito pela sua pessoa.

Bento XVI, sorridente e tranquilo se deixava tocar e cumprimentar. Até mesmo a segurança que geralmente reage de maneira mais severa, desta vez estava mais compreensiva.
O Papa referiu-se aos presos como a todos os fiéis: “queridos amigos”. Ele foi com “grande alegria e comoção” para falar de justiça e misericórdia divina e para assegurar que segue a situação dos detentos mesmo que não se fale tanto sobre este problema.

O primeiro pontífice a visitar a prisão foi João XXIII no dia 26 de dezembro de 1958 quando foi à penitenciária romana de “Regina Caeli”. O gesto de proximidade cristã e pastoral foi repetido pelo Papas sucessivos: Paulo VI, João Paulo II e hoje Bento XVI.

As palavras do Evangelho de Mateus “Estava na prisão e viestes a mim” (Mt 25,36), foram o motivo e o centro de sua visita à prisão. Onde quer que haja um faminto, um estrangeiro, um doente, um prisioneiro, ali está o Cristo mesmo, que espera a nossa visita e o nosso auxílio. É essa a razão principal que me deixa feliz por estar aqui, para rezar, dialogar e escutar. A Igreja sempre incluiu, entre as obras de misericórdia corporal, a visita aos prisioneiros”, explicou o Santo Padre.

Justiça divina e justiça humana
Em seu discurso antes de responder às perguntas, o Papa afirmou que “a justiça humana e aquela divina são muito distintas”, e “os homens não são capazes de aplicar a justiça divina, mas devem, ao menos, olhar para ela”, porque “Deus, de fato, é Aquele que proclama a justiça com força, mas que, ao mesmo tempo, cura as feridas com o bálsamo da misericórdia”. Para Ele, a justiça e a misericórdia, a justiça e a caridade são os valores que coincidem. “Como é distante a lógica de Deus da nossa! E como é diferente do nosso o seu modo de agir!”. “A vida humana pertence a Deus somente – continuou – que no-la deu, e não está abandonada à mercê de ninguém, nem mesmo ao nosso livre arbítrio! Nós somos chamados a proteger a pérola preciosa da nossa vida e da dos outros”.

Superlotação
Mas Bento XVI não foi somente consolar os detentos, sentiu-se obrigado também para renovar o apelo já lançado em várias ocasiões, assim como na última exortação apostólica “Africae munus” às autoridades responsáveis para melhorar a situação nas prisões. “Sei que a superlotação e a degradação dos cárceres – disse – podem tornar ainda mais amarga a detenção: chegam-me várias cartas de prisioneiros que sublinham esses aspectos. É importante que as instituições promovam uma atenta análise da situação carcerária hoje, verifiquem as estruturas, os meios, os funcionários, de modo que os prisioneiros não recebam nunca uma “dupla pena”. O pontífice pediu para que o desenvolvimento do sistema carcerário “seja cada vez mais adequado às exigências da pessoa humana, com o recurso também das penas não detentivas ou de modalidades diferentes de detenção”.

Perguntas e pedidos
Depois do discurso do Santo Padre aconteceu a parte mais tocante da visita – o diálogo do Santo Padre com alguns detentos, homens e mulheres, italianos e estrangeiros. “Eu vim principalmente – afirmou o pontífice após a primeira pergunta- para lhes mostrar esta minha proximidade pessoal e íntima, na comunhão com Cristo que lhes ama, como disse. Mas certamente esta visita, que quer ser pessoal para vocês, é também um gesto público que recorda aos nossos concidadãos, ao nosso governo o fato de que há grandes problemas e dificuldades nas prisões italianas”.

Com grande afeto o Papa respondeu a seis perguntas. De novo se falou sobre as péssimas condições das prisões, sobre o sentido do perdão e da conversão do pecado, mas também houve momentos mais pessoais.
Um dos presos mostrou a foto de sua filha e pediu a benção do Papa. Foi um momento de consolo e de fortíssima emoção, onde não faltaram lágrimas de comoção.

Oração atrás das grades e despedida
O encontro se concluiu com uma tocante “Oração atrás das grades” escrita por Stefano, um dos presos. “Tu não esqueceste de mim – rezava o detento – mesmo que eu viva frequentemente distante da luz de seu rosto. Faz com que eu sinta que estás próximo, apesar de tudo, apesar de meu pecado, seja ele grande ou pequeno, secreto ou público. Dá-me a paz interior, aquela que só tu sabes dar. Dá-me a força de ser verdadeiro; arrancas do meu rosto as máscaras que escurecem a consciência de que eu valho alguma coisa somente porque sou teu filho. Perdoas as minhas culpas e dá-me também a possibilidade de fazer o bem”.

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Papa é aplaudido por detentos ao final da visita

Ao sair o Papa se fez tocar e cumprimentar novamente por muitos detentos que não haviam podido fazê-lo antes, sozinho deu as duas mãos, sempre sorridente e cordial. Os presos ofereceram um longo aplauso e cantaram hinos natalinos. A Igreja do Pai Nosso estava cheia para a visita, mas pôde conter somente 300 pessoas, outras que podiam sair, ficaram olhando das barreiras enquanto o Papa saía lentamente em seu carro preto, outros tiveram que assistir ao vivo das próprias celas. Alegria, silêncio e lágrimas – estas três palavras podem ser a definição da resposta dos detentos às palavras do Papa. Foi bem-vindo e escutou e respondeu a isso com a sua grande sensibilidade e cordialidade.

Não foi a primeira vez que Bento XVI foi a uma prisão. Em 18 de março de 2007 visitou o presídio para menores de Casal del Marmo, depois, em 7 de setembro de 2008, na sua visita a Cagliari fez uma parada na penitenciária de Buoncammino, e no ano passado, no verão, em julho, visitou a prisão de Sulmona. (AA/JSG)

 

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