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“Convertei-vos e crede no Evangelho”

“Naquele tempo, 12 o Espírito levou Jesus para o deserto. 13 E Ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre animais selvagens, e os anjos O serviam. 14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 ‘O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!'” (Mc 1, 12-15).

I – Um amor levado ao extremo limite

É insondável o amor do Criador em relação a cada um de nós em particular. Por isso, às vezes, nos confunde a consideração de todos os benefícios que d’Ele recebemos.

Podendo simplesmente permanecer em sua plena e eterna felicidade, quis Deus criar o universo, com o objetivo de manifestar sua infinita bondade: “Ele criou por bondade. Não necessitava de coisa alguma daquilo que fez”1 – ensina Santo Agostinho.

A todos os homens e mulheres, Ele deu o ser, escolhendo-os um a um dentre as infinitas criaturas racionais que poderia criar. Ademais, nos redimiu do pecado, nos sustenta e favorece com seus dons, nas mais variadas circunstâncias. Mas, sobretudo, dá-nos a oportunidade de participar de sua vida divina já nesta Terra, como primícias da felicidade sem fim que nos está reservada no Céu, em inefável convívio com a Santíssima Trindade.

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Deus faz aliança com os homens

Em contrapartida a tanta bondade, repete-se invariavelmente uma constante no comportamento dos homens: em determinado momento, eles se desviam dos caminhos traçados pelo Criador; a Providência, então, intervém a fim de evitar sua perdição, proporcionando-lhes os meios necessários para a salvação. Assim, quando Adão e Eva cometeram o primeiro pecado, Deus os castigou com a expulsão do Paraíso, mas fez ao mesmo tempo uma aliança com o gênero humano, prometendo-lhe a Redenção e o restabelecimento do estado de graça perdido.2

Contudo, não tardaram os homens a recair no pecado. Logo depois de nossos primeiros pais começarem a povoar o orbe com sua descendência, o Senhor constatou “o quanto havia crescido a maldade das pessoas na Terra e como todos os projetos dos seus corações tendiam para o mal” (Gn 6, 5). Arrependido, então, de ter criado o gênero humano, o Senhor o teria extirpado por completo da face da Terra se Noé não encontrasse graça diante de seus olhos (cf. Gn 6, 8).

Assim, conforme narra a primeira leitura deste domingo (Gn 9, 8-15), terminado o terrível castigo do Dilúvio, Deus abençoou Noé e seus filhos, e estabeleceu com eles e com sua descendência uma aliança que “permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até a proclamação universal do Evangelho”.3

Essa aliança será mais tarde renovada com Abraão, em quem “serão abençoadas todas as famílias da Terra” (Gn 12, 3); através da Lei de Moisés, no Sinai (cf. Ex 19, 5-6); ou na promessa messiânica feita a Davi (cf. II Sm 8, 16), para citar apenas alguns dos principais episódios da história da Salvação.

Cristo, auge da história da Salvação

Passam-se os séculos e a humanidade atinge um auge de decadência que marca simultaneamente o fim do Antigo Testamento e a “plenitude dos tempos” de que nos fala o Apóstolo (Gal 4, 4). Jesus cumpre de maneira superabundante as promessas feitas aos patriarcas e profetas, assumindo a humana natureza sem deixar de ser Deus. Culmina, assim, com uma perfeição toda divina, a história da Salvação.

A Encarnação do Verbo é um mistério que ultrapassa por completo nossa capacidade intelectiva. Para tentar compreendê-lo em alguma medida, imaginemos um anjo nos propondo assumir a natureza de uma minhoca, sem deixarmos a condição humana, com a missão de salvar da morte todas as minhocas do mundo. Qual seria nossa resposta?

Ora, a diferença entre um homem e uma minhoca é insondavelmente menor do que a existente entre Deus e as criaturas racionais. No primeiro caso, há uma desproporção enorme; no segundo, nem sequer se pode falar de desproporção, porque a distância é infinita. Entretanto, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade assumiu a natureza humana para nos salvar, manifestando por nós um amor extraordinário, fora de toda medida.

De uma “loucura” de amor nasce a Santa Igreja

No alto do Calvário, a bondade e a misericórdia do Verbo Encarnado pelos pecadores são levadas, por assim dizer, até à loucura (cf. I Cor 1, 18). E São Pedro nos lembra, na segunda leitura deste domingo: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte na sua existência humana, mas recebeu nova vida pelo Espírito. No Espírito, Ele foi também pregar aos espíritos na prisão, aos que haviam sido desobedientes outrora, como nos dias em que Noé construía a arca” (I Pd 3, 18-20a).

Na Aliança estabelecida por Deus com a humanidade após o Dilúvio, Ele prometeu não mais castigar a Terra por meio das águas (Gn 9, 11). Ora, bem se poderia dizer que a história da Salvação culmina num “dilúvio de Sangue”, de acordo com a expressiva fórmula de São Luís Maria Grignion de Montfort.4 Porque – se não bastassem a flagelação, a coroação de espinhos e todos os sofrimentos ao caminho do Calvário – Ele permitiu que, na Cruz, uma lança Lhe perfurasse o peito sagrado.

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Verteram-se nessa hora as últimas gotas de sangue e linfa que ainda restavam no seu Sacratíssimo Coração. Nasceu assim o Corpo Místico do qual Cristo é a Cabeça. “No Calvário, Ele completa sua imolação e faz nascer, em meio às mais espantosas torturas físicas e morais, a Igreja que Ele havia tão laboriosamente preparado e instituído. […] É, pois, a Igreja que, segundo a doutrina dos Padres, sai do Lado aberto do Salvador e, por assim dizer, é dada à luz por Ele”.5 No mesmo sentido comenta São João Crisóstomo: “Aquele sangue e aquela água são símbolos do Batismo e dos mistérios.

De um e de outra nasce a Igreja, ‘pelo banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo’ (Tt 3, 5), pelo Batismo e pelos mistérios”.6 E o Concílio Vaticano II afirma serem o começo e o crescimento da Igreja “significados pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus crucificado”7; e que “do lado de Cristo dormindo na Cruz é que nasceu o admirável Sacramento de toda a Igreja”.8

II – O prólogo da pregação da Boa Nova

O Evangelho deste primeiro domingo reporta-nos ao momento no qual dispunha-Se Cristo a iniciar sua missão de pregar a Boa Nova. Ao sair das águas do Jordão, logo após ser batizado por João, o Céu se abriu, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de uma pomba e ouviu-se uma voz vinda do Alto: “Tu és o meu Filho bem-amado; em Ti ponho minha afeição” (Lc 3, 22).

Nesse instante, comenta Bento XVI, deu-se uma como que investidura do encargo messiânico do Filho do Homem. Foram-Lhe conferidas ali, para a História e perante Israel, a dignidade real e a sacerdotal. A partir desse momento a vida de Jesus está subordinada à missão para a qual Ele havia Se encarnado.9

O recolhimento precede a ação

“Naquele tempo, 12 o Espírito levou Jesus para o deserto”.

Após o Batismo, a primeira disposição do Espírito Santo foi de conduzir Jesus ao deserto, onde Ele permaneceu quarenta dias em regime de penitência, isolamento e oração. Mostra-nos assim o Divino Mestre que, antes de lançar-se a santas e grandes empresas, é indispensável preparar-se pela oração e pela contemplação, pois a vida interior é a alma de toda ação missionária. Se o próprio Deus humanado deu esse sublime exemplo, qual lição devem dele tirar todos quantos, em nossos dias, consagram a vida ao apostolado?

Forças superabundantes para os que haveriam de segui-Lo

13a “E Ele ficou no deserto durante quarenta dias…”.

O primeiro dos sinóticos especifica que “Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites” (Mt 4, 2). Não pensemos, entretanto, que esse jejum de Jesus foi “o jejum habitual dos judeus renovado por quarenta dias consecutivos; o jejum judaico obrigava até o pôr do sol, mas ao cair da noite eles tomavam alimentos, […] enquanto Jesus jejuou quarenta dias e quarenta noites sem interrupção”.10

Nesse período, quis o Redentor contemplar o panorama completo da sua missão e como a Santa Igreja haveria de manter os efeitos da Redenção até os últimos tempos, através dos Sacramentos.

Um mero ato da vontade divina teria bastado para a fundação da Igreja. Mas, ao longo de sua peregrinação terrena, o Filho do Homem queria conquistar forças superabundantes para todos quantos haveriam de segui-Lo até o fim dos tempos. Por isso Ele nada comeu nem bebeu nesses quarenta dias. Viveu sustentado pela ação angélica e por uma força sobrenatural que não O impedia, entretanto, de sentir fome e sede. Patenteia- se assim, uma vez mais, até que extremos de amor Ele estava disposto a chegar, para nossa salvação.

A Cabeça obtém a vitória para todo o Corpo

13a “…e aí foi tentado por Satanás”.

Cristo era Deus e, enquanto tal, não foi ao deserto visando preparar-Se na solidão para a luta que estava por vir, mas sim para iniciá-la. Longe de buscar refúgio contra o mal, começava sua vida pública enfrentando e vencendo os ataques do inimigo.

Entretanto, não tinha o demônio ainda consciência da divindade de Jesus. Julgando-O passível de pecar, quis de todas as maneiras induzi-Lo a cometer diversas faltas. Terá ele tentado o Filho de Deus durante os quarenta dias e quarenta noites, como parece desprender- se deste versículo de São Marcos e é opinião de São Beda? Ou terá aguardado até o fim do jejum para tentá-Lo, como afirma São Tomás?

O problema não nos parece especialmente relevante diante do fato de o Divino Mestre ter querido assumir sobre Si as nossas tentações para vencê-las.11 Com a derrota infligida ao demônio no deserto, Cristo, Cabeça do Corpo Místico, obteve a vitória para todos os seus membros, conforme afirma São Gregório Magno: “Não era indigno de nosso Redentor querer ser tentado, Ele que veio para ser morto; quis Ele vencer com as suas as nossas tentações, assim como venceu com a sua a nossa morte”.12

“Não nos deixeis cair em tentação”

Ora, segundo São Tomás, não foi essa a única razão pela qual quis Cristo ser tentado; ele acrescenta mais três: para ninguém, por mais santo que seja, sentir-se seguro e imune à tentação; para nos mostrar como vencer as tentações; e para incutir-nos a confiança em sua misericórdia.13

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Por isso, explica o mesmo Doutor Angélico: “Deve-se notar que Cristo não nos ensina a pedir para não sermos tentados, mas sim para não cairmos em tentação. Pois se o homem vence a tentação, merece a coroa”.14 Deus permite ao demônio atuar, deixa as más inclinações de nossa natureza decaída nos atormentarem, para dessa forma podermos obter méritos.

Observa, a este propósito, o padre Royo Marín: “Inumeráveis são as vantagens de vencer a tentação, com a graça e ajuda de Deus. Porque humilha Satanás; faz resplandecer a glória de Deus; purifica nossa alma, enchendo-nos de humildade, arrependimento e confiança no auxílio divino; obriga-nos a estarmos sempre vigilantes e alertas, a desconfiarmos de nós mesmos, esperando tudo de Deus, a mortificar nossos gostos e caprichos; aumenta nossa experiência e nos torna mais circunspectos e precavidos na luta contra nossos inimigos”.15

Da mesma forma como não se pode premiar um corredor que nem sequer saiu da cama, ou um intelectual que nada escreveu nem disse, assim também na vida espiritual: para receber a recompensa na eternidade, precisamos ser provados nesta vida.

Nada alegra tanto nosso inimigo quanto o desânimo

Portanto, a tentação não nos deve entristecer, pois representa a hora do heroísmo e da alegria: é o momento de mostrarmos nosso amor a Deus. Cristo nos deu o exemplo! Nesses quarenta dias de orações e padecimentos no deserto, Ele conquistou as graças necessárias para a nossa perseverança, inclusive as graças específicas para fazermos bem os exercícios quaresmais, preparatórios para a Páscoa. E mesmo que sucumbamos ante alguma tentação, Ele nos obteve forças para levantar e prosseguir no caminho da santificação.

Assim, quando chegar a tentação, não podemos tolerar nenhum desânimo, pois quem resiste e quem já venceu é Cristo, Cabeça do Corpo Místico do qual somos membros.

O demônio, quando nos tenta, tem por objetivo primordial tirar-nos o ânimo, porque, se conseguir isso, nos prenderá em suas garras. O ânimo, pelo contrário, nos mantém nas mãos de Deus e de Nossa Senhora.

“O que alegra o inimigo não são tanto as nossas faltas como o abatimento e a perda de confiança na misericórdia divina em que elas nos mergulham”.16 Por isso nos adverte São Francisco de Sales numa carta dirigida a uma filha espiritual: “A desconfiança que sentis de vós mesma é boa, desde que sirva de fundamento à confiança que deveis ter em Deus; mas se ela vos conduzir a qualquer desânimo, inquietude, pesar e melancolia, conjuro-vos a rejeitá-la como a tentação das tentações, e a nunca conceder a vosso espírito oportunidade de disputar e replicar em favor da inquietação e do abatimento do coração a que vos sentirdes inclinada”.17

As feras do deserto e os animais do Paraíso

13b “Vivia entre animais selvagens…”.

Baseando-se nos Padres da Igreja, comentaristas como Fillion e Maldonado, ou o próprio São Tomás, consideram ter feito São Marcos esta afirmação para sublinhar, com a vivacidade própria do discípulo de São Pedro, o caráter selvagem da região onde Jesus Se retirou, e acentuar a completa solidão na qual Ele passou esses quarenta dias e quarenta noites.18 São João Crisóstomo comenta que São Marcos teria dito isso “para mostrar como era o deserto; nele não havia caminho para os homens, e estava cheio de animais ferozes”. 19 Mas essas palavras podem ser analisadas também num sentido mais profundo.

Naquele tempo, não faltavam nas proximidades do Jordão hienas, chacais, leopardos e javalis, segundo informa, entre outros, o mencionado Fillion.20 Ora, se no Paraíso todos os animais obedeciam a Adão inteiramente, naquele deserto eles avançavam sobre os homens, atemorizando-os e obrigando-os a fugir.

Teria querido o Divino Mestre suportar mais essa fraqueza da humanidade decaída? Se Ele quis experimentar o temor provocado pela presença das feras, é certo que o venceu de forma grandiosa, obtendo-nos assim mais forças ainda para superarmos as adversidades, dramas e complicações que a vida nos apresenta.

Servido como Deus pelo ministério dos Anjos

13c “…e os anjos O serviam”.

Misteriosa e cheia de significado é também a presença dos anjos.

Terão eles se afastado de seu Senhor até o fim das tentações, como leva a pensar o relato dos outros sinóticos? Ou terão permanecido servindo-O e sustentando sua vida terrena durante esses quarenta dias e quarenta noites em que nada comeu nem bebeu?

Nada impede, em nossa opinião, imaginar a Corte Celestial descendo até o deserto e retornando ao Céu durante todo esse período, a fim de assistir a natureza humana do seu Criador. Pelo contrário, a isso convida o comentário de São Beda, reproduzido na Catena Áurea por São Tomás: “Considere-se também que Cristo mora entre as feras como homem, e é servido por ministério angélico como Deus”.21

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“Convertei-vos e crede no Evangelho”

14 “Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 ‘O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!'”.

Depois dessa sublime preparação, tudo estava pronto nos relógios da História para o aparecimento do Salvador no cenário da vida pública de Israel. Terminado o seu retiro, e vencidas as tentações, vai Ele entregar-Se ardorosamente ao cumprimento da sua missão. Faltava apenas o sinal indicado pela Sabedoria Divina para o início da pregação da Boa Nova: a prisão de João Batista.

Com ela inicia-se o ocaso do Antigo Testamento. Mas sem dar ensejo à chegada da noite, raia a aurora de uma nova era, mais radiante, iluminada pelo verdadeiro Sol da Salvação. “O tempo já se completou, o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no Evangelho”. Com estas palavras abre o Divino Mestre sua pregação, evocando os termos com que o Precursor anunciara sua chegada (cf. Mt 3, 1-2).

Na liturgia deste domingo, a Igreja quer nos transmitir uma mensagem: Deus nos ama e deseja nos perdoar. Ele está disposto a reconciliar- Se conosco, a fazer conosco uma aliança inquebrantável. Mas é preciso reavivar a Fé e mudar de vida, como nos exorta Jesus: “Convertei- -vos e crede no Evangelho”.

III – Como corresponder a esse amor?

No concernente a essa conversão, é mister nos acautelarmos de um perigoso erro.

Em nossa vida espiritual, falta-nos muitas vezes a compenetração da necessidade de sermos santos. Não raro procuramos ser simplesmente corretos, esquecendo o chamado do Concílio Vaticano II tantas vezes repetido: “Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: ‘sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5, 48)”.22

“Gravíssimo erro comete”, ensina Santo Afonso Maria de Ligório, “quem sustenta que Deus não exige que todos nós sejamos santos, pois São Paulo afirma: ‘Esta é a vontade de Deus, vossa santificação’ (I Tes 4, 3). Quer Ele que sejamos todos santos, cada qual conforme seu estado: o religioso como religioso, o leigo como leigo, o sacerdote como sacerdote, o casado como casado, o comerciante como comerciante, o soldado como soldado, e o mesmo se diga de todos os demais estados e condições de vida”.23

Progredir no amor e no conhecimento

Para o cumprimento dessa obrigação, a Igreja nos orienta maternalmente através da liturgia deste domingo. Já a Oração do dia nos indica de certa maneira o caminho: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.

Com efeito, precisamos “progredir no conhecimento de Jesus Cristo”, porque sendo Ele Deus e Homem verdadeiro é o arquétipo de todo o universo, conforme afirma São Paulo: “N’Ele foram criadas todas as coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis” (Col 1, 16).

Mas basta conhecer? Não. Bem diz São João da Cruz: “No entardecer desta vida sereis julgados segundo o amor”.24 A mais profunda compreensão da doutrina deve servir, sobretudo, para aumentar a caridade em nós, de forma que melhor conhecendo a adorável Pessoa de Nosso Senhor, tenhamos maiores possibilidades de “corresponder a seu amor”.

Deus espera a nossa conversão

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Nada disto obteremos, porém, sem o auxílio da graça. O homem não tem forças por si mesmo para adequar estavelmente conforme Nosso Senhor seus pensamentos, desejos, ações e sentimentos. Para tornar efetiva a conversão a qual Jesus nos convida por meio da liturgia deste domingo, indispensável será juntarmos as mãos em oração e dizer, junto com o profeta: “Converte- me, e converter-me-ei, porque Tu és o Senhor meu Deus” (Jr 31, 18b).

Esse nosso desejo de mudarmos de vida neste período de penitência quaresmal deve estar, portanto, pervadido de muita confiança. O triunfo de Cristo no deserto obteve graças superabundantes a todo seu Corpo Místico para vencer as tentações do demônio. Nossa fortaleza está em Jesus e, desde que não nos divorciemos da Cabeça, nada poderá satanás contra nós.

Mas, se ao fazermos exame de consciência, acharmos uma falta aqui ou outra ali, não desesperemos. “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (I Pd 3, 18). Ele conquistou a vitória sobre as nossas faltas para todo sempre. Basta reconhecermos a nossa miséria e pedirmos perdão.

Como retribuir tanta bondade? Peçamos ardentemente a Maria Santíssima a graça de uma autêntica conversão, isto é a compreensão entusiasmada e admirativa do inefável amor do seu divino Filho por cada um de nós que nos leve a trilhar uma vida santa, a caminho do Céu.

Por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

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