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Paz e força interior

Belo Horizonte – (Sexta-feira, 08-05-2015, Gaudium Press) Somos da paz, força interior, paz interior, indiferença, imposições, mediocridade e paz, perda da paz… Publicamos abaixo a opinião de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte sobre o conjunto desses temas:walmor_Dom.jpg

– O dom da paz é um bem a ser conquistado e cultivado permanentemente. Dizer “somos da paz”, não apenas como simples “slogan”, mas a partir da força própria da linguagem, produz efeitos sobre a consciência coletiva e no interior de cada pessoa. Para cultivar a prática de dizer e viver a expressão “somos da paz”, é preciso mobilizar esforços de toda ordem. Torna-se imprescindível investir na educação para a paz. Esse exercício urge e requer o envolvimento permanente de famílias, igrejas, escolas, governos e os mais variados segmentos da sociedade. Um grande mutirão sem o qual o avanço em direção à conquista desse dom estará comprometido. A meta e a dinâmica para o cultivo do dom da paz têm uma inteligente indicação do apóstolo Paulo que, escrevendo aos Romanos, diz: “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem” (Rm 12,21). Trata-se de um exercício existencial que produz resultados imediatos. Afasta os riscos e prejuízos que fatalmente surgem quando a fúria, a intolerância, o revide e a vingança tomam conta do coração humano.

Perder a paz interior tem se tornado cada vez mais comum porque não se respeita o compromisso com a verdade e com a justiça. Multiplicam-se fatos e ocorrências que revelam os absurdos praticados nas ruas, com confrontos que ferem não só a dignidade humana, mas também têm provocado outras modalidades vergonhosas de lesões – morais e corporais. As estatísticas da violência, de variados tipos, os confrontos entre pessoas, grupos e diferentes segmentos da sociedade brasileira comprovam o tamanho do problema. Talvez por ser uma nação continente, com regiões separadas por grandes distâncias, aqui tudo se dilui sem produzir impactos proporcionais aos acontecimentos. As reações concentram-se nos territórios em que determinada ocorrência grave se desenvolveu e tornam-se mais pontuais nas regiões mais distantes.

Porém, basta olhar para o conjunto da sociedade e perceber os prejuízos generalizados que surgem a partir da ausência de diálogo, das imposições e da indiferença em relação à dor dos mais sofridos e pobres. A sociedade está, cada vez mais, envolvida em um campo de batalha homicida e algoz. É preciso um esforço social dos grupos e segmentos, com a indispensável parcela da contribuição de cada pessoa a partir de elaborada e educada consciência social e política, para que se possa sair desse círculo vicioso da violência. Deve-se buscar a justiça que, infelizmente, muitas vezes, não é meta de instâncias governamentais, religiosas, organizações e líderes diversos.

Distorcida a verdade e desfigurado o compromisso com a justiça instala-se a tirania dos conchavos, acirra-se a busca sem limites pelo poder, a presença de medíocres, que não são capazes de fazer a sociedade alcançar respostas novas, em postos estratégicos. Urgente e prioritário é o investimento na recomposição da gramática da lei moral na consciência de todos. As manifestações sociais e políticas do mal, nos cenários da sociedade, indicam estado de emergência. Afrontar essa realidade complexa e abrangente que vem comprometendo a paz depende de políticas públicas, de ações governamentais, de protagonismos dos segmentos da sociedade e de contribuições religiosas mais significativas.

Vale, no entanto, tomar em consideração o princípio fundamental, com efeito imediato sobre a realidade, qualificador das relações: cada pessoa compreender-se como coração da paz. Ser coração da paz é um projeto pessoal que prioriza o cultivo da força interior. Fala-se hoje de todo tipo de força. Entre outras, comenta-se sobre a força política para se ganhar eleições, fazer “passar” projetos, inclusive os que não respeitam os interesses sociais. Há também a força econômica – relacionada ao poder sustentado pelo dinheiro, muitas vezes alicerçada no sofrimento de quem vive na miséria e na fome.

Pouco se comenta, no entanto, sobre a força interior, verdadeira espiritualidade, que é a indispensável competência para uma leitura humanística da realidade, com desdobramentos incidentes de escolhas e decisões que favoreçam mudanças mais rápidas em resposta aos problemas e clamores do povo. A força interior, cultivada na espiritualidade, meditação, silêncio, é que salvará pessoas e segmentos da mediocridade. Sustentará a audácia que leva à construção da paz. Sem força interior impera a mediocridade. A mediocridade compromete a paz.

Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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