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O sempre presente assunto da Felicidade

Redação (Terça-feira, 19-05-2015, Gaudium Press) A Felicidade sempre será o tema de fundo. Afinal, tudo girará em torno do assunto “Felicidade”. O homem não é livre com relação à felicidade, ele sempre está em busca da felicidade.

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É buscar uma realidade por cima da realidade…

Já dizia o doutor Padre Royo Marín em uma de suas imortais obras de síntese teológica. Após definir a felicidade -com essa capacidade tomista de síntese magnífica- como “o estado de ânimo que se compraz na posse de um bem que enche de alegria e de paz”, e depois de recordar que “todo ser racional tende à sua própria felicidade de uma maneira necessária, sempre e em todas as partes, sem que seja livre para rejeitá-la ou renunciar a ela”, o recordado dominicano expressa que “todo agente racional obra por um fim, que coincide com um bem (aparente ou real), e por isso conduz a felicidade”. 1 O fim do homem é a felicidade.

Nas últimas palavras está o ‘quid’ da questão. Qual é tal bem, real e não aparente, cuja posse dessa dita alegria e paz que chamamos felicidade? Demos já a resposta clássica: esse bem não pode ser algo diferente de Deus, pois só Deus preenche nossas ânsias infinitas, só Deus é infinito, só Deus nos satisfaz por inteiro. Pelo contrário as criaturas não possuem as características para encher as profundas e amplíssimas ânsias de nossas almas.

No entanto, são legiões e legiões os homens que estão colados às criaturas buscando ali a felicidade, certamente não encontrando-a. São todos esses uns loucos? A resposta rápida (e verdadeira) é sim; mas essa resposta merece matizes.

As criaturas dão algo de felicidade, e esse é seu gancho, seu atrativo. O homem com frequência diante da beleza ou da mera capacidade de dar prazer às criaturas, se engana, pois acredita ali encontrar a felicidade infinita que tanto anseia. Cedo ou tarde vem as desilusões, os vícios, a maldade, a corrida louca de criatura em criatura tratando de encontrar aquilo que apague aquele fogo que queima a alma por dentro, aquele que não lhe permite repousar, descansar. No entanto o chamado das criaturas segue sendo tão forte, que aí vai o homem, na roleta louca, de engano em engano.

Entretanto -e o que segue não é tão frequente encontrá-lo nas abundantes considerações sobre o tema- as criaturas não são entes maus ‘per se’, quando se considera que são vestígios de Deus, reflexos de Deus. E ver a Deus nas criaturas, vai dando certa e profunda felicidade. Entretanto, já colocamos aqui um reforço: depois da queda original a tendência do homem é apegar-se às criaturas, e não subir dali ao infinito Autor das criaturas. Para evitar este estancamento, está os auxílios deixados por Deus, os sacramentos, e o sempre infalível recurso à oração.

Mas, se com o auxílio da graça, as criaturas pudessem servir de ponte até a Divindade? Esta pergunta respondida positivamente nos abre muitos panoramas novos e de comprovada eficácia atual. É algo assim como usar o encanto natural das criaturas, aproveitá-lo, para caminhar daí até a divindade. Como fazê-lo?

Por exemplo, a partir da consideração de uma criatura, pedir a graça de Deus para imaginá-la mais perfeita, e por isso mais próxima à ordem celestial. Neste sentido, não é só contemplar a Deus na maravilha da criatura, mas que com a ajuda da graça de Deus, imaginar a essa criatura na máxima perfeição que a possamos conceber, e desta maneira adentrar-nos na ideia divina perfeita acerca desta criatura. E com isso ir-nos adentrando em Deus.

É uma espécie de viver em meio da realidade, mas saindo desta realidade até uma realidade mais elevada. É buscar a Deus nessa realidade mais elevada, onde certamente está mais presente, a partir da bela realidade terrena. É como ter 10% da atenção nesta terra, e 90% naquilo que Deus quer que seja esta terra. É como usar um dedo pequeno para tratar as coisas desta terra, e o resto das mãos para escalar a montanha das ideias de Deus sobre esta terra.

É esta a via do pulchrum, da busca da beleza divina, aquela que está por cima mas também a partir da beleza criada. Este exercício, transformado em hábito, com a ajuda da graça, da profunda felicidade.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

1 Royo Marín, Antonio. Teología Moral para Seglares I – Moral fundamental y especial. Biblioteca de Autores Cristianos. Madrid. 1996. p. 22

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