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Hospital psiquiátrico de Porto Alegre reúne vasto material após investir na expressão artística de internos

Porto Alegre (Quinta, 08-10-2009, Gaudium Press) O Hospital São Pedro de Porto Alegre, no bairro Partenon, tido como centro geográfico da Capital, é o mais antigo hospital psiquiátrico em atividade no Estado, inaugurado há 125 anos. Ali funciona, há quase duas décadas, a Oficina de Criatividade, em que se exercitam tanto pacientes temporários quanto aqueles internados em caráter definitivo – já sem família e sem lugar para onde ir.

Na oficina, com acompanhamento de professores de arte, psicólogos e estudantes, os internos são convidados a dar vazão, de forma criativa, a tudo aquilo que atormenta suas mentes, conforme afirma uma das fundadoras da oficina, a psicóloga Bárbara Neubarth.

Bárbara tomou como modelo para instalar a oficina o que era feito no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. “Eu anotava em um diário os avanços e recuos de cada paciente, buscava-se a livre expressão de cada um, como apoio terapêutico”, destaca a psicóloga.

Tudo que se produz na Oficina do São Pedro é preservado. Nada se descarta. Ao longo de anos, um vasto material se formou ali com cerca de cem mil itens, na maioria desenhos. A novidade é que esse acervo vem sendo cuidadosamente catalogado. A coordenadora do projeto de pesquisa que cataloga a produção da oficina, Tânia Galli da Fonseca diz que durante anos o acervo foi apenas acumulado, agora pouco a pouco é revisado, separado e fichado.

“O objetivo é sensibilizar a sociedade, pois os desenhos, muitas vezes, são a expressão de quem não fala, e nos oferecem enigmas, nos fazem pensar como nos relacionamos com essas sensibilidades extraviadas”, salienta Tânia.

Outro aspecto a ser mencionado são as instalações que abrigam o acervo da Instituição, velhas salas de cirurgia, há muito desativadas, mas ainda sob as luminárias que se usava em exames e operações. “Há um certo improviso e precariedade no ambiente, mas o apuro museológico com que a equipe de catalogação trata o material é bonito de se ver”, afirma Neubarth.

A catalogação, segundo Tânia, quer de alguma forma reconstituir a biografia dos pacientes, de quem, frequentemente, não se tem nem o nome completo ou a data de nascimento. E ela continua dizendo que a oficina de criatividade é uma operação para extrair das pessoas outras expressões que não a letargia, e a catalogação é pensar sobre isso, para que tudo não vire um museu vazio.

“Entre os mais de cem mil trabalhos que estão sendo fichados, percebe-se, por exemplo, que um mesmo paciente costuma abraçar os mesmos temas e os mesmos gestos anos a fio, e é nesse processo repetitivo que aparece a diferença”, conclui Tânia.

Em junho de 2010, quando a oficina completar 20 anos, quatro pacientes vão ganhar uma exposição, com catálogo, no Museu Universitário, no campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.

 

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