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Na sinagoga de Nazaré

Redação (Segunda-feira, 18-06-2018, Gaudium Press) A pequena Nazaré, onde Jesus vivera por mais de vinte anos com sua Mãe Santíssima e seu pai virginal, ficou estupefata ao saber que Ele para lá voltara.

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Os nazarenos quiseram matar Jesus

Durante o tempo em que residiu nessa cidade, Ele não permaneceu num completo isolamento, fechado entre quatro paredes, mas teve contato com muitas pessoas; não consta que tenha feito milagres, porém sua Pessoa causava grande bem a todos.

Eis que agora Ele comparece à sinagoga; era um sábado. No momento oportuno, Jesus se levantou e fez a leitura de um trecho do livro do Profeta Isaías, que fala do Messias.

“Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos n’Ele. Então, começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura'” (Lc 4, 20-21). Ou seja, Eu mesmo sou o Messias.

Inicialmente, os assistentes ficaram admirados por suas palavras, mas logo depois passaram a questionar: “De onde Lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é Ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 54-55).

Jesus, então, censurou-os dizendo que os profetas são rejeitados pelos seus conterrâneos, como sucedeu com Elias e Eliseu.

“Todos os que estavam na sinagoga, ouvindo isto, encheram-se de ira. Levantaram-se, lançaram-No fora da cidade, e conduziram-No até ao cume do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para O precipitarem. Mas, passando no meio deles, retirou-Se” (Lc 28-30).

Belo, nobre e distinto no mais alto grau

Entre as muitas lições que esse episódio nos proporciona, consideremos apenas as seguintes.

“Nosso Senhor deveria ser a perfeição nos gestos, nas atitudes e até no caminhar. E o que dizer de sua voz incomparável? A beleza de sua Alma espelhava-se maravilhosamente em sua face e, sobretudo, em seu olhar. Dotado de todas as qualidades humanas possíveis, Ele era belo, nobre e distinto no mais alto grau. Tudo n’Ele transluzia uma misteriosa e inefável superioridade.”

A primeira reação que os assistentes tiveram diante de Nosso Senhor foi de admiração. Logo depois fizeram a comparação de Jesus com eles próprios, e se deixaram levar pela inveja. E da inveja ao ódio, querendo até matar o Divino Mestre.

Vendo um Varão sábio, virtuoso, muitíssimo superior a eles, os nazarenos deveriam amá-Lo.

Admiração: limite que separa o Céu do Inferno

“O papel da admiração e do amor é ressaltado por São Tomás ao afirmar que quem orienta a sua vida segundo o seu verdadeiro fim, amando um bem honesto mais do que a si mesmo, ainda que não batizado, obtém pela graça a remissão do pecado original. E comenta sobre este particular Garrigou-Lagrange: ‘Está justificado pelo Batismo de desejo, porque esse amor, que já é o amor eficaz a Deus, não é possível no estado atual da humanidade sem a graça regeneradora.’

“Poderíamos então inverter a afirmação do Doutor Angélico e dizer que quando uma pessoa ama a si mesma mais do que a um bem, torna-se medíocre e egoísta, e, portanto, abre-se a toda forma de mal, passando a ser cega de Deus. Assim como se une a Deus aquele que ama um bem superior mais do que a si mesmo, quem se ama a si mesmo acima de todas as coisas, e mais do que a Deus, se liga ao demônio.

“Por conseguinte, neste sentido, o limite que separa o Céu do Inferno é traçado por uma palavra: admiração. A admiração por algo mais elevado me aproxima do Céu; e a admiração a mim mesmo me aproxima do Inferno.”

O vício da inveja

Entretanto, os nazarenos ao invés de amarem o Redentor tiveram inveja d’Ele. São Basílio invectiva este defeito de alma: “A inveja é um gênero de ódio, o mais feroz, porque os benefícios aplacam quem por alguma outra causa é inimigo nosso; o bem que se faz ao invejoso, todavia, o irrita mais; e quanto mais ele recebe, mais se indigna, se entristece e se exacerba.

“Isso porque o desgosto que sente pelo poder do benfeitor é maior que a gratidão pelos bens que dele recebe […] Os cães tornam-se mansos se alguém lhes dá de comer; os leões se domesticam, quando se cuida deles; mas os invejosos se enfurecem mais com os benefícios.”

A respeito do fato de os nazarenos terem levado Jesus até os bordos de um precipício para matá-Lo, tendo Ele se retirado tranquilamente passando pelo meio deles, o Padre Fillion comenta:

“Houve um verdadeiro milagre, um milagre de ordem moral, que consistia na vitória obtida pela vontade de Jesus sobre a de seus inimigos, reduzindo-os à impotência. A esta categoria de prodígios pertenceu também a expulsão dos vendedores do Templo.”

Peçamos a Nossa Senhora que nos obtenha a graça de termos admiração humilde e desinteressada por tudo quanto é mais elevado e nos conduz a Deus.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – Nº153)

 

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. IV, p. 218.

2 – Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.89, a.6.

3 – GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. El Salvador y su amor por nosotros. Madrid: Rialp, 1977, p.34.

4 – CLÁ DIAS, op. cit., p. 219.

 

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