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Nem uma só letra ou vírgula

Redação (Terça-feira, 07-08-2018, Gaudium Press) – Falando ao povo, no Sermão da Montanha, o Divino Mestre transmite ensinamentos que se opõem categoricamente ao relativismo.

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Lei natural e Dez Mandamentos

Para que possamos entender bem as afirmações de Nosso Senhor a respeito da Lei, vejamos o que escreve Monsenhor João Clá:
“Deus implantou na alma humana uma luz intelectual pela qual o homem conhece que o bem deve ser praticado e o mal, evitado.

Essa luz – denominada sindérese pela Escolástica – não se apagou com o primeiro pecado, mas permanece em nossa alma. Conforme afirma o Concílio Vaticano II, o homem ‘tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus’, a lei natural.

“E como nosso espírito é governado por uma lógica monolítica, não conseguimos praticar qualquer ação má sem procurar justificá-la de alguma maneira. Por isso, para poder pecar, o homem recorre a falsas razões que sufocam sua reta consciência e levam o entendimento a apresentar à vontade o objeto desejado como um bem. É essa a origem dos sofismas e doutrinas errôneas com os quais procuramos dissimular nossas más ações.

“À vista disso, tornou-se indispensável – além do selo impresso por Deus no mais íntimo das nossas almas – a existência de preceitos concretos a lembrar-nos de forma clara e insofismável o conteúdo da lei natural. São eles os Dez Mandamentos entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai.

“Com efeito, de modo muito sintético, compendia o Decálogo as regras postas por Deus na alma humana. Deus ‘escreveu em tábuas’ o que os homens ‘não conseguiam ler em seus corações’, afirma Santo Agostinho. E o fato de ter sido gravado em pedra – elemento firme, estável e duradouro – simboliza o caráter perene da sua vigência.

O Decálogo é essencialmente imutável

Afirmou o Divino Mestre: “Em verdade, Eu vos digo: antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra” (Mt 5, 18).

Continua Monsenhor João Clá:
“Os adeptos da chamada ‘moral de situação’ defendem a mutabilidade dos princípios éticos em função do contexto no qual são eles aplicados. Segundo essa filosofia, se os costumes evoluem ao longo dos tempos, o mesmo deve ocorrer com as normas morais.

“Ou então, mesmo admitindo serem elas universais e perenes, deve-se evitar sua aplicação de forma absoluta nas situações concretas, reduzindo seu valor ao de meras orientações a serem ponderadas em função das circunstâncias do momento.

“Ora, a Lei sintetizada nos preceitos do Decálogo é absoluta e permanente, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica: ‘Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles.'”.

E Jesus acrescentou: “Portanto, quem desobedecer a um só destes Mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5, 19).

Pior que desobedecer aos preceitos da Lei divina é criar ou propagar uma doutrina, modas, que incitem as pessoas a transgredi-los.
“Quem assim procede perde, sem dúvida, a graça de Deus e, caso não se emendar, ‘será considerado mínimo no momento do Juízo; ou seja, será reprovado, será o último. E o último cairá inexoravelmente no Inferno’.

Perda do senso moral

Afirmou também Jesus, nesse Sermão: “Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do maligno” (Mt 5, 37).

Devo sempre dizer “sim” a tudo quanto Cristo espera de mim. E um firme “não” às propostas e sugestões do demônio, bem como às pessoas e aos ambientes que me induzem ao pecado.

Escreve Plinio Corrêa de Oliveira:
Muitas vezes me deixei levar “pela abominável preguiça de enfrentar os que me rodeiam, de dizer ‘não’ aos que formam meu ambiente, pelo medo de ser ‘diferente dos outros’. Como se me tivésseis criado, Senhor, não para Vos imitar, mas para imitar servilmente os meus companheiros”.

A leitura desses trechos do Evangelho nos reporta a “um dos problemas mais graves do mundo moderno: a terrível perda do senso moral que assola as almas de tantos dos nossos contemporâneos”.

Devido ao relativismo, as noções de verdade e erro, bem e mal, belo e feio estão se esboroando. Adulterando o próprio conceito de liberdade, propaga-se a ideia de que tudo é permitido e todas regras ou preceitos devem ser abolidos.

“Hoje, mais do que nunca, é preciso lembrar que a Lei de Deus não é um castigo pelo pecado dos nossos primeiros pais, mas sim um precioso meio de nos tornar mais semelhantes a Ele. […] São as faltas praticadas pelo homem – e não os preceitos divinos – que tolhem sua liberdade: ‘todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo’ (Jo 8, 34).

“No Céu, a Lei reluzirá gloriosa para aqueles que a praticaram nesta vida, os Bem-aventurados; enquanto se apresentará como eterna censura aos que se revoltaram contra ela e foram condenados ao fogo eterno. Dessa inexorável alternativa, ninguém escapa: quem não está na Lei da misericórdia divina, cai na Lei da justiça de Deus. Não há uma terceira opção.”

Peçamos a Nossa Senhora a graça da seriedade sacral e da combatividade invencível para nos opormos eficazmente aos erros do mundo atual, a fim de estarmos unidos a seu Divino Filho.

Por Paulo Francisco Martos
(Noções de História Sagrada – 159)

 

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1 – CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et spes, n.16.
2 – SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LVII, n.1. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v. XX, p. 417.

3 – CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 2072.
4 – SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XVI, n.4. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v. I, p.316.
5 – Via Sacra. São Paulo: Campanha Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis! – SBDTFP, 2. ed. 2006, p. 8)

6 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 72.76.84 passim.

 

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