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Casa construída sobre areia

Redação (Terça-feira, 02-10-2018, Gaudium Press) Concluiremos os comentários a respeito do Sermão da Montanha, que é uma síntese de toda a doutrina ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

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A porta estreita e a larga

Disse o Divino Mestre:
“Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e poucos são os que o encontram!” (Mt 7, 13-14).

Comenta Fillion:
“Em nossos dias [fins do século XIX], como no tempo de Jesus e em todas as épocas, a humanidade se divide em duas categorias: a multidão segue a via larga, sem se preocupar com o abismo que é seu termo; um pequeno número sobe penosamente o caminho estreito, consolando-se em pensar nas alegrias futuras.”

A partir da decadência da Idade Média, essa “multidão” que desce a via larga foi aumentando, e o “pequeno número” dos que sobem o caminho estreito, diminuindo.

A via larga é trilhada por aqueles que só pensam em vantagens terrenas, são ávidos de prazer e fogem de tudo quanto lhes acarrete sofrimento. Ela é descendente e termina na eterna desgraça, ou seja, no Inferno.

Os que caminham pela via estreita rezam, se esforçam, e levam uma vida de “seriedade, temperança, renúncia, mortificação”. É uma via ascendente, que apresenta inúmeras dificuldades, mas cujo topo é o Paraíso celeste. Para galgá-la eficazmente é necessário crescer continuamente no amor a Deus, no ódio ao mal e na devoção a Nossa Senhora.

É preciso construir sobre a rocha

Continuou o Redentor:
“Cuidado com os falsos profetas: eles vêm até vós vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes. Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7, 15-16).

Em nossos dias, muitos desses falsos profetas falam abertamente contra a Doutrina Católica. Entretanto os mais perigosos – os lobos vestidos de ovelhas – atuam ardilosamente “nos costumes, nas mentalidades, nos modos de ser, de sentir e de viver” para a perdição das almas.

E Nosso Senhor concluiu o Sermão da Montanha, dizendo:
“Quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha” (Mt 7, 24).

Explica Monsenhor João Clá que construir “sobre a rocha” significa “alicerçar todos os nossos atos numa piedade profunda e sincera, numa vida interior bem levada, numa confiança inabalável na ajuda da graça, e no amor ao próximo, de que é Ele o exemplo vivo.

Construir sobre a rocha é basear o edifício de nossa vida espiritual em Deus, que é a Rocha eterna.
“Quem põe isso em prática adquire o hábito da virtude a ponto de chegar a realizar as boas obras quase que por segunda natureza, conforme atesta a vida dos Santos. Mas, para alcançar tal grau de perfeição, é preciso se esforçar por ‘fazer a vontade do Pai’ todos os dias, a todo momento.”

Continuou o Divino Mestre:
“Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha” (Mt 7, 25).

As chuvas e os ventos simbolizam as provações pelas quais todos nós passamos, e às vezes elas são terríveis. Devemos sempre nos lembrar da advertência de São Beda:

“Quando os homens confiam em suas próprias forças, sucumbem; mas quando se prendem à pedra firmíssima, não podem ser arrastados.”

Essa “pedra firmíssima” é Nosso Senhor Jesus Cristo e também Maria Santíssima, que nos une ao seu Divino Filho.

O homem tem uma natureza inclinada ao mal

Acrescentou o Redentor:
“Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!” (Mt 7, 26-27).

Explica Monsenhor João Clá:
“A casa edificada sobre areia representa a fragilidade daquele cujas ações são estéreis, por não estarem orientadas para a eternidade.

“Ora, há pessoas que constroem sua vida espiritual não sobre a rocha, mas sobre outros materiais. São aquelas que fazem racionalizações para poderem pecar, isto é, recorrem a falsos argumentos com os quais revestem suas más ações de uma aparência de bem, porque é impossível à criatura humana praticar o mal pelo mal.

“Acabam elas por arquitetar doutrinas que abrem campo para a plena satisfação das suas más inclinações. Um exemplo infelizmente muito frequente: racionalizam de modo a concluir que seria uma contradição o Decálogo proibir ao homem dar livre curso aos instintos, postos na natureza humana pelo próprio Deus; e com isso ocultam à própria consciência o desequilíbrio interior, consequência do pecado original. ‘Ignorar que o homem tem uma natureza lesada, inclinada ao mal, dá lugar a graves erros no campo da educação, da política, da ação social e dos costumes’, ensina o Catecismo” da Igreja Católica (n. 407).

Evidentemente, os instintos humanos não são um mal em si. “Desde que se deixem governar pela razão esclarecida pela Fé e pela vontade confirmada e fortalecida pela graça, os instintos são auxiliares preciosos do homem.” Mas quando desgovernados, arrastam-no ao pecado.

“Ai daqueles que engendram racionalizações para praticar o mal! Sua casa, adverte Jesus, está construída sobre areia e, quando vierem as dificuldades e provações, a ruína será completa.”

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 166)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p. 146.

2 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Virtude da pureza e vida eucarística. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXI, n. 242 (maio 2018), p. 10.

3 – Idem. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 217.

4 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. II, p. 125.

5 – SÃO BEDA, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.VI, v. 46-49.

6 – CLÁ DIAS, op. cit., p. 127-128.

7 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A maior tentação da História. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXI, n. 242 (maio 2018), p. 31.

8 – CLÁ DIAS, op. cit., p. 129.

 

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