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Espetáculo que deixou os Anjos maravilhados…

Redação (Terça-feira, 16-10-2018, Gaudium Press) Na Galileia, Jesus realizou muitos milagres entre os quais a ressurreição do filho de uma viúva, na cidade de Naim. Logo depois, Ele operou a ressurreição de alma de uma pecadora conhecida em toda a região, que passou da morte do pecado para a vida sobrenatural. O fato ocorreu, provavelmente, em Cafarnaum.

Debaixo da lama imunda havia uma pele de arminho

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Maria Madalena, irmã de Lázaro e Marta, era uma moça bela e bastante rica, mas se deixara levar pela vaidade e chegou a se precipitar nos abismos da impureza. Comenta Monsenhor João Clá:

“Há muito que Maria Madalena havia provado o vazio e a mentira do pecado. Sua alma delicada ansiava uma oportunidade para mudar de vida, mas as circunstâncias a impediam de realizar esse bom intento. Por pura fraqueza caíra naqueles horrores.

“Mas, em seu coração feminino, guardava uma grande admiração pela virtude e – por incrível que pareça – em especial pela pureza.

Sua sensibilidade física a arrastava às enganosas delícias da carne e, portanto, à ofensa grave a Deus; mas a espiritual a convidava à paz de consciência, ao amor ao Criador.

“No auge desse dilema, depois de muito implorar socorro ao Céu, ouviu falar do surgimento de um grande profeta em Israel, taumaturgo em altíssimo grau: os paralíticos andavam, os cegos enxergavam, os surdos ouviam, os mudos falavam e até os mortos ressuscitavam.

“Afinal, pensou ela, chegara o remédio para todos os males que atormentavam seu espírito tão carregado de recriminadoras aflições.

Ela se considerava monstruosa e não via a hora em que pudesse sentir-se purificada de suas manchas. Por debaixo daquela lama imunda havia uma pele de arminho que ardia de anseios de limpeza.

“As primeiríssimas reações de sua alma em relação a Jesus foram da mais entranhada simpatia. Desde o início, ela O amou mais do que a si própria e anelava pela oportunidade de se aproximar d’Ele.”

Utilizou os cabelos como fino linho

Quando soube que o Divino Mestre estava jantando em casa de um fariseu chamado Simão, Madalena para lá se dirigiu levando um frasco de alabastro cheio de perfume. Entrou na sala e ajoelhou-se aos pés de Jesus. Chorando copiosamente, lavou-os com suas lágrimas, beijou-os, enxugou-os com os seus cabelos e os ungiu com o valioso perfume.

“Ela não pronunciou nenhuma palavra, mas que eloquência em toda a sua conduta!” Simão, o fariseu, não havia compreendido um espetáculo diante do qual “os Anjos do Céu estavam maravilhados”.

Então, o Salvador disse a Simão:

“Estás vendo esta mulher? Quando entrei na tua casa, não Me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, lavou meus pés com lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não Me beijaste; ela, porém, desde que cheguei, não parou de beijar meus pés. Não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. Por isso te digo: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, pois ela mostrou muito amor. […]

“Em seguida, disse à mulher: ‘Teus pecados estão perdoados.'” E acrescentou: “Tua fé te salvou. Vai em paz!” (Lc 7, 44-50).
Escreve o fundador dos Arautos do Evangelho:

“Antes, por sua concupiscência, [Madalena] andava irrequieta a atrair a atenção de todos para si; agora se ajoelha para servir. Os olhos com os quais ofendera a Deus por sua curiosidade irrefreada, choravam de dor pelo passado. Seus cabelos, outrora vaidosamente penteados, ela os utilizava nesse momento como fino linho para enxugar os pés do Senhor. Os lábios que tanto proferiram palavras de insensatez consagravam-se em beijar aqueles divinos pés. Por fim, elevava à categoria de instrumento de louvor o perfume usado em outras eras para açular sua vaidade.”

Amplitudes da misericórdia divina

Maria Madalena teve um arrependimento perfeito de seus pecados. Afirma Plinio Corrêa de Oliveira:

“Deus ama singularmente o pecador arrependido. E ao perdoar o pecador verdadeiramente contrito, Ele tem uma razão para amá-lo mais do que antes. É por isso, por exemplo, que Santa Maria Madalena foi mais amada por Nosso Senhor depois de se converter do que antes de pecar. São essas as amplitudes da misericórdia divina.”

Dois dias após o Domingo de Ramos, estava Jesus em Betânia jantando na casa de um outro Simão, chamado o leproso. Veio, então, a Madalena e repetiu seu belo gesto.

Judas Iscariotes se irritou, dizendo que o perfume deveria ser vendido e o dinheiro obtido dado aos pobres. “Falou assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão.” E o Redentor declarou: “Pobres, sempre os tendes convosco. A Mim, no entanto, nem sempre tereis” (Jo 12, 6. 8).

Cumpre observar que não foi apenas Judas Iscariotes que ficou irritado, mas também outros discípulos de Nosso Senhor (cf. Mt 26, 8; Mc 14, 4). O Divino Mestre acrescentou:

“Ela derramou este perfume no meu Corpo em vista do meu sepultamento. Em verdade vos digo: onde for proclamado este Evangelho, no mundo inteiro, será mencionado também, em sua memória, o que ela fez” (Mt 26, 12-13).

Por sua pregação, converteu toda a população de Marselha

Causa-nos também admiração o que aconteceu posteriormente com a Madalena.

Alguns anos após a Ressurreição do Senhor, judeus ímpios colocaram-na, juntamente com seus irmãos Lázaro e Marta, bem como Maximino, que fora um dos discípulos de Jesus, num barco sem timoneiro nem remos e o lançaram no mar.

Dirigida pela Divina Providência, a embarcação acabou chegando à cidade de Marselha, no Sul da França.

Maria Madalena pregou ali o Evangelho com tanta pulcritude que converteu toda a população. Marta fundou um mosteiro, onde passou a levar vida religiosa com sua irmã. Posteriormente, Madalena, movida pela graça divina, foi viver num monte onde era assistida pelos Anjos.

Lázaro se tornou Bispo de Marselha, e Maximino Bispo de Aix-en-Provence. Todos eles são santos e seus nomes constam do Martirológio. Na Ladainha de todos os Santos, Maria Madalena é a primeira a ser invocada entre as virgens!

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 168)

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1) Cf. FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Luc. Paris: Lethielleux. 1889, p. 160.

2) CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 156-157.

3) FILLION, op. cit. p. 162.

4) CLÁ DIAS, op. cit., p. 158.

5) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A mais eminente figura da Idade Média. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXI, n. 242 (maio 2018), p. 25.

6) Cf. ÁVILA, Juan de. Obras completas del Beato Maestro Juan de Ávila. Madri: BAC, 1953, p. 1198; ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959. v. XIII, p. 250.

 

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