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Santo Antônio Maria Claret

 

Redação (Quarta-feira, 24-10-2018, Gaudium Press) Além de se destacar
como insigne defensor da autoridade pontifícia, Santo Antônio Maria 
Claret foi um grande devoto de Nossa Senhora, havendo fundado  a
Congregação  dos Filhos do seu  Imaculado  Coração, 
conhecidos como claretianos.

 Santo Antônio Maria Claret, Bispo e Fundador.jpg

Período
de tibieza na juventude

A Igreja desaconselha que se faça comparação entre os heróis da Fé
elevados à honra dos altares. Não direi, pois, que Santo Antônio Claret foi o
maior de seu tempo. Porém, penso que, se em cada quadra histórica alguns Santos
sobrepujam os outros em importância aos olhos de Deus, nos planos da
Providência um desses terá sido sem dúvida Santo Antônio Maria Claret.

Mais do que Fundador de uma congregação religiosa, ele nos aparece como
um varão exponencial, dominando completamente sua época, pelo simples fato de
ter existido.

Imagine-se um homem de baixa estatura, espanhol de temperamento
ardoroso, catalão apimentado, filho de uma família bastante piedosa, dedicada à
fabricação têxtil. Ainda jovem, morando em Barcelona, sentiu apelos divinos
para algo de mais elevado, embora indefinido, pois não pensava na vocação
sacerdotal. Mas, naquela cidade, envolveu-se com questões de tecelagem e se
enfronhou nos assuntos práticos desse negócio, começando a esquecer o fervor da
sua piedade dos tempos de menino. Passou alguns anos absorto no cuidado de
máquinas, teares e coisas semelhantes.

Praticava ainda a religião, mas, nesse período de sua vida, pode-se
dizer que Santo Antônio Maria Claret tendia a tibieza. Continuava a frequentar
a igreja, assistia à Missa aos domingos, comungava algumas vezes por ano e
também recitava o Rosário. Mas, fora do cumprimento estrito dessas práticas de
piedade, só tinha pensamentos para o seu trabalho na indústria têxtil.

Certo dia, indo nadar com os companheiros no litoral, o movimento muito
forte das ondas o arrastou mar adentro. Apelou à Santíssima Virgem e, de forma
inexplicável para ele, percebeu que flutuava na superfície do oceano, sendo
levado por força misteriosa até a praia, sem ter tragado sequer uma gota de
água.

Salvo em terra, associou o episódio a uma lembrança que tinha tido,
durante a Missa, das palavras de Jesus Cristo no Evangelho: “De que aproveita
ao homem ganhar todo o mundo, se finalmente perde a sua alma?” (Mt 16,26).

 

Padroeiro
dos tíbios

Algo de semelhante acontece conosco. A Santíssima Virgem atrai as
pessoas as quais, uma vez fixadas, em geral entram no processo de tibieza. E se
a misericórdia d’Ela não o impedir, acabam nesse lamentável estado de tibieza.
A partir daí começa a segunda fase: é preciso remar até conseguir que elas se recauchutem.
E quando correspondem à graça, experimentam uma espécie de nova conversão. Em
seguida, inicia-se a terceira fase de sua vida espiritual.

Se, com o auxílio de Nossa Senhora, não tivéssemos o cuidado de
ajuda-las, é de se temer que muitas dessas pessoas não perseverariam.

Então, com profundo respeito, podemos dizer que Santo Antônio Maria
Claret nos aparece como o padroeiro dos tíbios. Por sua fidelidade à graça da
conversão, tornou-se um modelo de santo, digno de ser imitado por nós. Ele
alcançou esse triunfo sobre a própria indolência espiritual porque sempre
nutriu particular devoção a Nossa Senhora, e a Santíssima Virgem, que o
predestinava a grandes feitos, ajudou-o a se reerguer.

 

Rumo
aos píncaros da santidade

Desde esse momento, com imenso fervor, ele empreendeu a marcha
ininterrupta até atingir os píncaros de santidade, como veremos.

Santo Antônio Maria Claret.jpg

Ordenado sacerdote, tornou-se missionário. E revelou-se como o típico
pregador popular (e gostaria de acentuar a palavra “popular”), com algumas
características eminentes. Por exemplo, tinha voz possante, capaz de se fazer
ouvir pelas multidões que enchiam as praças públicas onde ele pronunciava seus
sermões, pois o espaço interno das igrejas era insuficiente para conter todos
os fiéis desejosos de escutá-lo. E não raro, as mesmas praças se verificavam
pequenas para reunir o público que comparecia às suas pregações.

Quando se dirigira de uma cidade para outra, sua fama de orador sacro
era tal que grande parte da população de onde falara o acompanhava, processionalmente,
até deparar com os habitantes da localidade vizinha, para a qual ele falaria.
Durante o encontro, o Santo fazia um sermão de despedida de uns e de saudação
aos outros, comovendo a alma de todos.

Sendo um orador popular muito vivo, interessante, ardente, profundo,
sólido, substancioso e dotado de carismas extraordinários, davam-se fatos
espetaculares durante as suas homilias. Por exemplo, às vezes ele interrompia
suas palavras, apontava para uma mulher na assistência e lhe dizia de súbito:
“A senhora pensa que não morrerá tão cedo, e terá vários anos pela frente. Sua
morte se dará dentro de… — suspense! — seis meses”. Naturalmente, a indicada
desmaiava, caía em prantos, etc.

Noutras ocasiões afirmava: “Vou expulsar o demônio que está pairando
sobre este auditório”. E em seguida pronunciava a fórmula do exorcismo.
Estrépito, raio em céu sereno caem os sinos do campanário e a população fica
apavorada. Havia conversões em massa, pois bem podemos imaginar o efeito de
pregações dessa natureza.

Santo Antônio compreendia de modo claro ter sido destinado por Deus à
vocação de missionário junto ao povo. Nunca desejou tornar-se teólogo profundo,
nem orador de alto porte, como um Pe. Antônio Vieira, um Bossuet, Bourdaloue,
etc. Nascera para falar ao vulgo, e com sua oratória popular esplêndida,
convertia multidões.

Compreendeu, igualmente, ser um homem feito para suscitar zelo, mais do
que coordenar o zelo que suscitara. Por isso, passava pelas províncias
despertando por toda parte o amor a Deus, deixando depois que outros
utilizassem aquela semente e aquele fogo para melhores finalidades. Era,
portanto, um modelo de desprendimento, sem a preocupação de colher para si, mas
plantando para que outros colhessem.

 

Arcebispo
em Cuba e confessor da Rainha

Depois de uma estupenda pregação nas Ilhas Canárias, afinal, foi
promovido a Arcebispo em Cuba, então colônia espanhola cuja situação moral se
apresentava muito decadente. Santo Antônio Maria Claret dedicou-se à conversão
da Ilha, e quando começou a obter a emenda dos costumes, desencadeou uma reação
intensa contra ele. Sofreu tantas e tão fortes oposições, e até atentados, que
a Rainha da Espanha acabou intervindo e o retirou daquelas terras.

De volta à metrópole, Santo Antônio Maria Claret se instalou na corte,
como confessor da Rainha Isabel II. Mulher de maus bofes, passou a se
modificar e melhorar no contato com Santo Antônio, até que uma reviravolta
política a destronou e a exilou para a França. Foi ele, portanto, quem provocou
pelo seu zelo esse terremoto na Espanha, ao mesmo tempo em que desempenhava uma
obra insigne, como missionário, em todo o país.

 

Defensor
da infalibilidade pontifícia

Nesse período, fundou a Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de
Maria, cujo nome exprime no culto fervoroso que ele dedicava ànMãe de Deus, sob
essa invocação.

santo-antonio-caria-claret.jpg

Alguns anos mais tarde, durante o Concílio Vaticano I, deu-se um dos
célebres episódios da vida de Santo Antônio Maria Claret. Ele já estava idoso,
doente, porém aureolado pelas mais altas graças que se possa receber. Por
exemplo, o Santíssimo Sacramento nunca se deteriorava dentro dele, de uma
comunhão a outra, de maneira que era um sacrário vivo, assim como Nossa Senhora
que tinha Jesus vivendo n’Ela durante o período da Encarnação e da gestação.

Pois bem, ao ouvir no Concílio Vaticano I pronunciamentos de alguns
bispos contra a infalibilidade papal, Santo Antônio se levantou e fez um famoso
sermão em que declarou: “Oxalá pudesse eu consumar minha corrida, confessando e
dizendo da abundância do meu coração esta grande verdade: creio que o Sumo
Pontífice Romano é infalível.”

A atitude de alguns irmãos seus no episcopado o acabrunhou e o encheu de
desgosto, a tal ponto que sofreu um começo de apoplexia, pela qual viria a
falecer pouco depois, na França, recolhido numa Cartuxa. Era o ano de 1870.

E assim terminaram os dias desse magnífico varão de Fé, ao qual nos
honramos de tomar por patrono, como grande promotor que foi da devoção a Nossa
Senhora, em especial ao Imaculado Coração de Maria, bem como por seu ardoroso
amor à Santa Sé Apostólica. Além disso, é modelo para nós, pois demonstrou que,
nas camadas populares, ao contrário do que pretende a Revolução, uma pregação
autêntica e boa produz maravilhosos resultados.

Todas essas razões nos levam a, no dia de sua festa, confiar de modo
particular no patrocínio de Santo Antônio Maria Claret, e lhe pedir que nos
alcance as melhores graças do Céu.

 

(in “Os Santos Comentados”, Monsenhor João Clá Dias, EP)

 

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