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Apaga-se a luz da razão!

Redação (Terça-feira, 27-11-2018, Gaudium Press) Comecemos por uma banalidade, dizendo que há dois estilos literários claramente diferenciados: a prosa e a poesia. Por sua vez, à luz destas formas de expressão e como um desenvolvimento dos termos, podemos dizer que há duas concepções da existência: a lírica e a prosaica.

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A correria da vida contemporânea, pautada por preocupações de todo tipo e, tantas vezes, em ritmos acelerados que chegam a ser agressivos e até inumanos, desperta em um espírito ordenado, sede e desejos de poesia, de lírica.

E o que é a lírica? É aquilo que promove na alma um sentimento encantador, similar ao produzido pela poesia quando é harmoniosa. Assim por exemplo, sustentamos que a lírica da música se observa na batuta de um bom Diretor de Orquestra, e que a lírica da arte culinária está no degustar um prato de um grande Chefe.

O pragmático, o pedestre, o cotidiano, carece de poesia. O termo “prosaísmo” é bem sugestivo, não pede maior explicação. Em todo caso, é precisamente o oposto do poético/lírico. Mas, atenção para não confundir prosa com prosaico. O prosaísmo é uma degradação da prosa. Sabemos que muitas explicitações e desenvolvimentos doutrinários têm sido feitos em prosa… e com muito brilho! Por outro lado, são raros os escritos deste tipo compostos em verso.

Em nossa língua castelhana, quiçá o ápice da poesia tenha sido alcançado por dois luminares da Fé: Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz. Eles escreveram poesias esplêndidas, ao mesmo tempo que impregnaram de lírica as obras em prosa que nos deixaram… por certo nada prosaicas.

Quando a poesia se soma à súplica orante e à teologia, em termos que chegam a todos os fiéis, desde os mais doutos até os mais incultos, ela se torna especialmente atrativa, pastoral e útil. Útil, precisamente por aquilo que os prosaicos consideram supérfluo.

Neste tipo de composições que se encontram os transcendentais do ser ensinados por São Tomás de Aquino: a unidade, a verdade, o bem e a beleza que em latim nomeamos como o Unum, o Verum, o Bonum e o Pulchrum.

Bem, toda esta introdução é para apresentar e dar valor a um modesto soneto -e quem disse que a modéstia se opõem à qualidade- de autoria de uma poetisa contemporânea, a asturiana Emma Margarita R.A-Valdés, que soube com muito voo retratar um drama contemporâneo: a inconsequência dos fiéis em relação à presença real do Senhor no Santíssimo Sacramento.

A seguir, o poema eucarístico com sua ciência, rima e métrica impecáveis:

Que milagre é oferecido a cada dia
ante a humanidade indiferente!
um Deus inteiro, infinito, onipotente,
dá seu corpo, colheita de agonia.

Nos espera em amorosa proximidade
como água, vinho e pão, cristalina torrente,
licor antigo de paz, viva semente,
alimento de celeste alegria.

Que humildade, no fruto consagrado
Está Deus, o espírito imortal
em silencioso amor escravizado.

Esquecendo sua dor, nosso pecado
nos oferece seu reino celestial,
e o deixamos sozinho, abandonado.

Das ideias contidas nestes versos, detenhamo-nos na que introduz o poema e na qual serve de conclusão. Ali é retratada com precisão, até que limites se vai apagando a luz da razão na humanidade e se não é a humanidade toda, ao menos em um incontável número de batizados. A luz da razão, sim, porque, se esta não for exercitada, aguçando seu senso crítico e extraindo das premissas percebidas as consequências que se impõem, ela se extingue.

Nos versos citados, deve-se dizer que não é apenas “um milagre todos os dias”, como se diz: há centenas, senão milhares de milagres … a cada minuto, diante de uma humanidade indiferente e incrédula.

O fim dos versos chega a dilacerar a alma, porque nos diz que um reino de felicidade eterna é desprezado em troca de ninharias efêmeras.

Essa é a resposta miserável, nossa resposta miserável, ao “silencioso amor escravizado” que se oculta sob as aparências do pão nos tabernáculos abandonados e desprezados.

Além disso, diante do Senhor exposto na custódia abandonada e desprezada, precisamente quando Ele mostra seu infinito amor pelos homens.

Diante desta incongruência, convém rezar em reparação a oração que o Anjo de Portugal ensinou aos pastorinhos de Fátima:

“Senhor, creio, adoro-te, amo-te e espero; e peço seu perdão para aqueles que não acreditam, não adoram, não te amam e não esperam.”

E fazer o propósito de, na medida do possível, ir o quanto antes à presença do Senhor no Sacramento em um tabernáculo próximo, para reparar a onda de irracionalidade que nos cerca.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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