Gaudium news > Transfiguração do Senhor no Monte Tabor

Transfiguração do Senhor no Monte Tabor

Redação (Sexta-feira, 05-08-2016, Gaudium Press) No mês de agosto, a Igreja festejará a Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo, no próximo dia 6. Assim, vamos iniciar a meditação reparadora dos primeiros sábados, que nos foi pedida por Nossa Senhora, quando apareceu em Fátima em 1917. Pedia Ela que comungássemos, rezássemos um terço, fizéssemos meditação dos mistérios do Rosário e confessássemos em reparação ao seu Sapiencial e Imaculado Coração. Para os que praticassem esta devoção, Ela prometia graças especiais de salvação eterna. Consideremos o quinto mistério luminoso:Transfiguração do Senhor no Monte Tabor.jpg

A Transfiguração do Senhor no Monte Tabor.

“Este é o meu Filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto”. (2 Pd 1, 17)

I – Introdução:

O Tabor é um monte majestoso, alcançando 660 metros de altitude. Maravilhoso panorama se descortina do alto, vendo-se o relevo ondulado da Galiléia, o lago de Genezaré, o cimo nevado do monte Hermon, o monte Carmelo e o Mar Mediterrâneo.

Mas o Tabor é famoso por algo de mais transcendente: em seu cume ocorreu um dos principais acontecimentos da História da humanidade – a Transfiguração de Jesus.(1)

Oração Inicial:

Virgem Santíssima, Mãe da Divina Graça, nós Vos pedimos que useis de vosso poder de intercessão infalível junto ao Vosso Divino Filho para nos obter graças superabundantes, eficazes e até místicas para bem meditar essa passagem da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Transfiguração. Sabemos que Ele fez isto com o intuito de fortalecer os Apóstolos, e dar a eles energia e vigor de alma para os difíceis momentos da Paixão.

Também nós não sabemos o que encontraremos pela frente, quantos anos de vida ainda nos restam. Teremos pela frente dores, aflições, dramas? Não sabemos. Como iremos passar por esses dramas todos? Também não sabemos. Por isso precisamos do Vosso apoio, do auxílio de Vossa Divina Graça. Precisamos da figura transfigurada de Vosso Divino Filho para alimentar a esperança de nossa própria transfiguração no dia de nossa ressurreição. E assim aguentarmos com virtude todas as dificuldades que nos virão pelo futuro. Pedimos, portanto, graças para podermos reparar de forma proporcionada Vosso Sapiencial e Imaculado Coração. Assim seja!

Ave Maria, cheia de graça, …

Na transfiguração, devemos ter bem presente que Nosso Senhor não tomou nesta ocasião o corpo glorioso como alguns erradamente pensam, Ele só tomou seu Corpo Glorioso depois da Ressurreição. Em circunstâncias outras da vida, no nascimento, quando queriam prendê-lo e misteriosamente desapareceu (fazendo uso do corpo glorioso), mas Ele estava ainda com o corpo padecente, Ele então realizou um milagre. Ele realizou um milagre para que nós compreendêssemos o que será a nossa ressurreição.

Os três Apóstolos ficaram tomados de espanto e maravilhados diante de Nosso Senhor Jesus Cristo transfigurado. Elias e Moisés representavam a Lei e os profetas estavam ali confirmando as profecias que anunciavam a vinda do Messias: e Ele estava diante deles! Aquele que nós desejávamos; Aquele que foi anunciado ao longo dos séculos. O Filho de Deus!

1 – A Voz do Pai Eterno … ‘Este é o meu Filho’…

Mas, uma vez que se tratava de seu Filho, Deus mesmo não resistiu. O Pai, tendo diante de Si Seu Unigênito, esse Filho que Ele havia gerado desde toda a eternidade não resistiu e, de dentro dessa nuvem, ouve-se a voz de Deus, aquela mesma voz que falou a Moisés no Sinai, aquela mesma voz que no batismo de Nosso Senhor se manifestou a São João Batista e a outros. Essa mesma voz naquele momento se faz ouvir, e de uma forma clara e categórica: Este é o Meu Filho Bem-Amado no qual eu pus todas as minhas complacências — ouvi-O! Ouvi-O!

…O que é ser filho de Deus ?

Mas o que é ser filho? Ser filho, é ter a mesma natureza dos pais. Quando uma criança nasce, diz-se: esta criança de nome tal é filho, ou ela, ou ele, filho ou filha deste e daquela porque o pai e a mãe transmitiram a natureza humana àquela criança. Aquela criança não é feita de pedra, aquela criança não é feita de madeira, ela não pertence à natureza mineral, ela não pertence à natureza vegetal. Ela é uma pessoa, e por isso são o pai e a mãe de uma pessoa.

Temos também a Maternidade Divina de Nossa Senhora. Ela não é mãe da natureza humana de Nosso Senhor, Ela é mãe da Pessoa de Nosso Senhor. Ora, a pessoa de Nosso Senhor é Divina, e por isso Nossa Senhora é Mãe de Deus. Portanto, ser filho é ter a natureza do pai. Aonde nós podemos encontrar a justificação de que Jesus é o Filho!? Filho porque foi Gerado e não criado como nos diz o Credo.

2 – … gerado desde toda eternidade!

Foi gerado desde toda a eternidade. Qual foi o momento em que Deus-Pai concebeu a Deu-Filho? Não há momento. Assim como nós temos uma eternidade diante de nós, nós temos uma eternidade atrás de nós. Atrás de nós não há tempo, não há momento, a eternidade não tem início. Este início é desde toda a eternidade.

Desde toda a eternidade o Pai gerou o Filho. Um Filho tão, tão extraordinário que representa o pensamento perfeito, completo, pleno do Pai e do Filho que é idêntico ao Pai a tal ponto que o Pai olhando para o Filho Se reconhece inteiramente no Filho; o Filho olhando para o Pai Se reconhece inteiramente no Pai e Pai e Filho se amam, e daí procede o Espírito Santo.

Mas isto é real, é Filho desde toda a eternidade na Sua natureza Divina. Mas Ele teve um nascimento humano, foi concebido no seio virginal de Maria Santíssima. Quem é o Pai deste que nasceu da Santíssima Virgem? É Deus-Pai, o Padre Eterno.

3 – Formas de Jesus nascer: na ressurreição, no altar, no batismo.

Foi este o único nascimento que Ele teve, o da eternidade e o do tempo?

Pode-se dizer perfeitamente que há um outro nascimento que é o da Ressurreição. Só? Não. Ele vai nascer aqui no altar. Ele vai nascer sobre este altar abençoado. Ele vai nascer quando o sacerdote pronunciar as palavras da consagração: Isto é o Meu Corpo, este é o cálice do Meu Sangue. Ali nascerá de novo Nosso Senhor porque a substância pão e a substância vinho vão ceder lugar à substância Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. É só? Não! Temos um outro nascimento de Jesus. Quando alguém vai receber o batismo. No momento em que o padre derrama água sobre a cabeça daquele que está sendo batizado e, em três jorros disser: “eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, nesse momento nasce Nosso Senhor Jesus Cristo na alma dessa criança. Aí se dará outro nascimento.

Este que nasce desde toda a eternidade, que nasce do seio da Santíssima Virgem, da ressurreição, no altar, no batismo, é o mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo que nasce!

‘Este é o Meu Filho Bem-Amado’, porque o amor que Deus-Pai tem por esse Filho é tão grande que ele produz algo que nos deixa pasmos. Procede deste amor do Pai ao Filho, e do Filho ao Pai uma terceira Pessoa idêntica também aos outros dois – o Espírito Santo – os três são idênticos. Mistério!

O principal mistério de nossa Fé. Aí está o grande fruto deste amor do Pai e do Filho, e do Filho e do Pai.

Filho Bem-Amado, no qual colocou todas as complacências. Deus-Pai pôs tudo neste Filho Bem-Amado. Por que este Filho se encarnou? Por causa nossa! E por isso nós ouvimos essa recomendação do Pai: ‘Ouvi-O”. Jesus se faz nosso irmão tal ponto, abandona a felicidade eterna na qual sempre viveu e aceita de vir encarnar-se porque ele nos ama. Aceita não só de encarnar-se mas aceita os tormentos todos da Paixão, aceita ser flagelado. “Ouvi-O”, “ouvi-O”!, Não se ouviu um só gemido, não se ouviu uma só reclamação, não se ouviu uma só revolta – menos ainda – por tudo o que faziam contra Ele.

4 – Somos filhos de Deus! … inefável maravilha!

Para o renomado teólogo Pe. Royo Marín, a graça santificante , que é um dos efeitos do Batismo, produz a filiação divina, conferindo ao neófito uma participação real e verdadeira nessa filiação: ‘Trata-se de uma verdadeira geração espiritual, um nascimento sobrenatural que imita a geração natural e recorda, por analogia, a geração eterna do Verbo de Deus’. E conclui o Pe. Royo Marín: “Inefável maravilha que pareceria inacreditável se não constasse expressamente na divina Revelação”. (3)

II – O que Deus-Pai quis ao dize-nos: ‘Ouvi o meu Filho’ ?

Não é como quem liga o rádio e ouve uma música, e não tem nada a ver com a música porque o rádio está tocando, e ouviu essa música. “Ouví-O”não é também como quem ouve tocar um sino ou ouve tocar uma trombeta ou ouve um ruído na rua ou o estouro de uma bomba. Não é.

Este “ouvi-O” do Pai tem o significado todo especial. O que quer dizer este “ouvi-O”? “Ouvi-O” significa: “identifique-se com”, “seja igual a”, na medida do possível e guardadas todas as devidas proporções, aproxime-se, seja também um filho bem-amado ou uma filha bem-amada. O que Deus-Pai quis neste momento em que Ele disse “Este é o Meu Filho Bem-Amado no qual pus todas as minhas complacências”, o que o Pai quis ao dizer?nos “ouvi-O”? É segui-Lo, é imitai-Lo.

Quanta bondade neste seu Filho. Podemos falar em quantidade? É difícil falar em quantidade quando essa bondade é infinita, quando esta bondade é substância, quanto esta bondade é essência; Ele é essencialmente Bondade. Não havia um só que se aproximasse que Ele não fizesse o bem; não havia um só necessitado que ele não atendesse. Não havia um só paralítico que Ele não fizesse andar, um surdo que não fizesse ouvir, um mudo que não fizesse falar, até mortos Ele ressuscitou. Jesus, por onde passou, só fez o Bem.

“Ouvi-O”, ou seja, é preciso que nós façamos o bem como Cristo fez o bem. É preciso imitarmos a Nosso Senhor. Ele não perdeu uma só oportunidade para fazer o bem. Até da orla do manto d’Ele saía uma virtude que curava. Aquela mulher que em determinado momento se vê envergonhada diante do que o Mestre perguntava a Pedro:

“Quem me tocou”. Pedro disse: “Mestre, no meio dessa multidão, muitos O tocaram” Mas Ele põe o problema: não, não, não; alguém me tocou, de tal forma que senti sair de mim uma virtude. Essa mulher se ajoelha diante d’Ele e diz: Senhor, perdão, fui eu! Ele diz: “Vá, tua Fé te curou”. Até na orla do manto. Está dito que Ele passava e as pessoas procuravam pelo menos tocar no manto d’Ele.

1 – “Ouvi-O”- no caminho da lealdade.

E este mundo tão feito de maldade, tão feito de intrigas, tão feito de contradições, tão feito de dramas, tão feito de ódios recíprocos, às vezes dentro de uma mesma família: É o pai que não se entende com o filho, é uma filha que não se entende com a mãe. É tio, é avó…, para quê isso? Porque nós somos chamados a cumprir este desígnio do Pai, esta recomendação do Pai: “ouvi-O”! Seja semelhante a Ele!

A linguagem d’Ele sempre: sim, sim; não, não. Nunca linguagem dupla, nunca nenhuma forma de politicagem ou futricagem, maledicências, calúnias: jamais. “Ouvi-O”! É preciso ser como Ele é, amante da verdade. Ele que dizia: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é o Caminho; e quando Deus-Pai diz: “ouvi-O”, Ele quer que nós sigamos este caminho. Este caminho de bondade, este caminho de lealdade, este caminho de caridade.

Primeira Palavra d’Ele na Cruz: “Senhor, perdoai-os porque não sabem o que fazem!”. Devemos ser assim também. “Ouvi-O”. Nós devemos imitar a Nosso Senhor no perdão como está na oração do Pai-Nosso: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aqueles que nos tem ofendido. Mas é preciso não só dizer, é preciso viver. “Ouvi-O” significa identificar-se. Isto sobretudo, nos momento de tormento, nos momentos de aflição, nos momentos de necessidade, nos momentos de angústia, nos momentos de drama, nos momentos de incompreensão, até nos momentos de perseguição, precisamos estar com a mesma disposição de Nosso Senhor Jesus Cristo: Senhor, perdoai-os porque não sabem o que fazem…!

2 – Somos templos de Deus!

Zelo pela casa de Deus, zelo pela religião, zelo pelo culto a Deus; um zelo extraordinário. Cumpriu como ninguém todas as leis. Nós às vezes relaxamos. Nós às vezes deixamos de ir à missa, deixamos de fazer nossas oração, deixamos a frequência à igreja, saímos e viajamos, vamos para os nossos lazeres, esquecendo-nos de nossas obrigações para com Deus. Ele disse de Si: “Destruí este Templo e em três dias Eu O reconstruirei” fazendo uma referência a seu Corpo, por quê? Melhor templo de Deus não podia haver que seu Corpo. Seu Corpo é o próprio Templo de Deus, e Ele cuidava deste Templo de tal forma que Ele não permitiu que esse Templo permanecesse mais de três dias no túmulo, e O ressuscitou porque era preciso que este Templo continuasse a ser o alojamento de Deus e que continuasse a ser de forma viva, e não com a alma separada do corpo. São Paulo é quem nos diz: “E não sabeis que sois templo de Deus?, não sabeis que sois filhos de Deus” e que realmente o sois! Aí está o cerne do bom filho: “Ouví-O”, para ser filho de Deus. Nós pelo batismo, nos tornamos filhos de Deus. É verdade que nós o somos por adoção, mas uma adoção toda especial, que nos torna membros de Deus. Quanto necessitamos termos zelo pelo templo de Deus que somos nós. O quanto necessitamos fugir do pecado, fugir das ocasiões, fugir de tudo aquilo que me leva a ofender a Deus. Por quê? Porque sou templo de Deus.

Magnífica frase do Pai em relação a Nosso Senhor! “Este é o Meu Filho Bem-Amado no qual eu pus todas as minhas complacências” “Ouví-O”.

Que Nossa Senhora, conceda a todos e a cada um, esta lealdade, esta fidelidade a esta determinação de Deus-Pai: “Ouví-O”, Ouvi a Nosso Senhor Jesus Cristo!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! (2)

Ação de graças depois da meditação

Imaculada Virgem Maria, minha amável e terna Mãe, aceitai o reconhecimento do meu coração pela generosidade do vosso para comigo. Agradeço-Vos a intercessão com que me assististes, os auxílios que me obtivestes e as resoluções que me inspirastes. Tomai-as, Senhora, e tocadas no vosso Coração Puríssimo, oferecei-as com os meus agradecimentos ao Sagrado Coração de Jesus, para que Ele se digne aprová-las e dar-me por Vós a graça para as cumprir fielmente.

Assim seja.

Referências:

(1) Revista Arautos do Evangelho, Editorial, nº 8, ago. 2002, p. 4
(2) Homilia da Celebração Eucarística – pelo Mons. João Clá Dias.- Catedral da Sé, 6 ago. 2005.- sem revisão do autor
(3) Revista Arautos do Evangelho, artigo de José Afonso S. de Aguiar – nº 91, jul. 2009, p. 27

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas