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Um resto voltará…

edação – (Terça-feira, 20/09/2016, Gaudium Press) – Passaremos a considerar alguns trechos do “Livro de Isaías”, cuja linguagem nos enche de admiração.

Estilo nobre, enérgico e muitas vezes sublime

“A beleza de seu estilo corresponde perfeitamente à de seus pensamentos. Ele é límpido, nobre, enérgico, rico em imagens, frequentemente sublime e altamente poético. A variedade de seu colosantuario-de-bom-jesus.jpgrido é surpreendente […] Em uma palavra, seu estilo é o de um mestre consumado na arte de escrever, e sob sua pluma o hebreu se torna um instrumento de música, que ele maneja como um artista de primeira ordem.” 1

“Em seus escritos, mais que em todas as passagens do Antigo Testamento, encontramos uma condenação não igualada do orgulho de Judá, e sua sensualidade.” 2

E São João Bosco afirma que esse Livro falou do Salvador com tanta clareza que parece descrever “a vida de Jesus Cristo, narrada no Santo Evangelho. Não só predisse que o Messias nasceria de uma Virgem, mas que viria fazer grandes milagres; seria alvo de contradição, seria aprisionado pelos filhos de sua nação, seria coberto de feridas. Predisse que o seu Sangue nos salvaria, que Ele seria morto entre dois ladrões, e um homem rico Lhe daria sepultura”. 3

“O Novo Testamento cita Isaías aproximadamente 100 vezes.” 4

O Livro de Isaías foi escrito por três profetas: o Grande Isaías e seus discípulos perfeitos, chamados Segundo Isaías e Terceiro Isaías. “Compreende-se a unidade do livro de Isaías quando se consideram esses devotos seguidores que colecionaram e preservaram os oráculos do mestre.” 5

O Grande Isaías exerceu seu ministério profético aproximadamente de 740 a 700 a.C., em Jerusalém. Conforme antiga tradição judaica, ele pertencia a mais alta aristocracia 6 . No Livro de Isaías, as profecias não estão reunidas por temas, nem por ordem cronológica.

Decadência religiosa e moral de Jerusalém

Jerusalém se encontrava numa enorme decadência religiosa e moral. Denunciando os pecados dos israelitas, Isaías lhes faz tremendas increpações; “as frases são breves, entrecortadas e se sucedem como um relâmpago a outro relâmpago.” 7

– “Ai! Gente pecadora, povo carregado de crimes, geração de malfeitores, filhos degenerados!” (Is 1, 4).

– “Não suporto maldade com festa religiosa” (1, 13).

– “Vossas mãos estão sujas de sangue” (1, 15).

– A cidade, “como Sodoma, faz propaganda do seu pecado” (3, 9).

– Em teu povo há muitos adivinhos e feiticeiros (cf. 2, 6).

– “Ai dos que dizem que é bom aquilo que é mau, que dizem que é mau aquilo que é bom” (5, 20). Isso nos faz lembrar as palavras de Sofonias, que profetizou durante o reinado de Josias (640-630 a. C.): Os iníquos dizem que “o Senhor não faz o bem nem o mal!” (Sf 1, 12).

Quem contesta a distinção entre bem e mal nega “o primeiro princípio da lei moral: ‘o bem deve ser feito e o mal deve ser evitado'” 8 ; e consequentemente negará também a diferença entre verdade e erro, beleza e feiura. Ou seja, chegará ao “limite máximo da depravação, que consiste em trocar os valores morais das coisas” 9 .

Fundamento da doutrina do resto

Entretanto, no meio dessa decadência geral havia um resto de pessoas fieis a Deus, que eram inconformes com esse estado de coisas. Em vários trechos do Livro de Isaías há referência a esse resto. Eis alguns exemplos.

Devido às ameaças feitas por Senaquerib, Rei da Assíria, de que tomaria Jerusalém, Ezequias, Rei de Judá, foi ao Templo e pediu que procurassem Isaías a fim de que este fizesse uma oração “em favor do resto que ainda se possa encontrar” (Is 37, 4). Isaías enviou a Ezequias uma resposta, dizendo que Deus afirmara:

“Assim também o resto que sobrar da casa de Judá novas raízes há de criar […] e frutos […] voltará a produzir. Pois de Jerusalém sairá um resto, do Monte Sião sairá gente salva. O amor apaixonado do Senhor dos exércitos é que faz tudo isso!” (Is 37,31-32).

Senaquerib voltou para Nínive e, enquanto estava prosternado num templo de um ídolo, dois de seus filhos o assassinaram à espada e fugiram (cf. Is 37, 37-38).
De tal modo Isaías tinha como centro de suas cogitações esse resto, que a um de seus filhos colocou o nome de “Um Resto Voltará” (Is 7, 3).

“Este pensamento de que um resto sobreviverá a todas as desgraças de Israel aparece frequentemente nos oráculos de nosso profeta. Ele contém uma grande consolação messiânica: embora tão culpável, o povo israelita não morrerá inteiramente, pois dele deve nascer o libertador prometido” 10 , Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Em que razão se apoiava esta doutrina do resto de Isaías? Na fé que ele tinha de que é Deus quem governa e dirige a História.” O Profeta “vinculava a salvação [desse resto] ao arrependimento e à conversão. Esta vinculação fazia que sua mensagem fosse válida, não só para o tempo dele, mas para todos os tempos.” 11

Também hoje, estando o mundo carcomido por tantos pecados, há um resto de verdadeiros fiéis à Santa Igreja Católica Apostólica Romana que não pactuam com essa decadência. Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de sermos desse número, sempre crescendo na devoção a Ela e na rejeição ao mal, certos de que as forças do Inferno jamais prevalecerão contra a Igreja (cf. Mt 16, 18

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 84)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La prophétie d’Isaie . 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 270.

2 – MORIARTY, Frederick L. SI. In LA SAGRADA ESCRITURA – Texto y comentário por professores de la Compañia de Jesús. Madrid : BAC. 1970. v. V, p 237.

3 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.145-146.

4 – FILLION, op. cit., p. 269, nota 4.

5 – MORIARTY, op. cit. p. 263.

6 – Cf. FILLION, op. cit. p 266. .

7 – FILLION, op. cit. p. 273.

8 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo:
Instituto Lumen Sapentiae. 2016, v. I , p 38.

9 – MORIARTY, op. cit. p. 254.

10 – FILLION. Op. cit., p. 274.
11 – MORIARTY, op. cit. p. 237.

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