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A Beleza salvará o mundo

Redação (Quinta-feira, 13-10-2016, Gaudium Press) Preocupava enormemente aos Pontífices contemporâneos a avalanche de secularismo que, passo a passo, ia estendendo-se em todos os ambientes. Ao mesmo tempo, não deixavam de ressaltar que percebiam sinais de um desejo interior, nas almas, de voltar ao espiritual; uma sede das coisas transcendentais e divinas.

João Paulo II definia o secularismo como “um movimento de ideias e costumes que faz total abstração de Deus”, que embriaga “pelo consumo e o prazer, sem preocupar-se pelo perigo de perder a própria alma” (Reconciliatio et Penitencia, 18).

Neste distanciar-se de Deus, acaba acontecendo na sociedade, o que Bento XVI qualificava como um “processo contínuo de descristianização” (10-12-2000). A instituição da família era -entre outras- uma das que mais sofria os embates deste penetrante fenômeno. Esta atmosfera de secularização foi se difundindo, em diversas partes do mundo, envolvendo especialmente aos jovens e submetendo-os à pressão de um ambiente no qual se termina por perder o sentido de Deus e, em consequência, se perde inclusive o sentido profundo do amor conjugal e da família, até o sentido mesmo do namoro, advertia o Pontifício Conselho para a Família (13-5-1996).

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A sociedade em que vivemos, não compartilha, geralmente, os ensinamentos de Cristo Nosso Senhor, e não apenas tenta ridicularizá-las, mas também busca marginalizá-las na esfera privada. Pretendendo, em concreto, excluir a Deus da vida das pessoas.

A crise do mundo moderno levou os homens a perderem os pontos de referência do mistério de nossa Fé, o espiritual parece ter-se diluído; intoxicados pelos ritmos modernos que os rodeiam, estão sob o efeito do adormecimento que se produziu nas almas.

Fica assim manifestado o motivo pelo qual Paulo VI, entre os discursos de encerramento do Concílio (8-12-1965), incentivava aos artistas sobre o caminho a seguir, o da beleza, ao dizer-lhes: “Este mundo em que vivemos tem a necessidade da beleza para não cair na desesperança. A beleza, como a verdade é quem põem alegria no coração dos homens; é o fruto precioso que resiste à usura do tempo, que une as gerações e as faz comunicar-se na admiração”.

Quando escutamos ao salmista nas Missas cantando o Salmo 18: “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”, compreendemos o manifestar-se de Deus através da beleza da Criação. Assim também, as obras de um homem virtuoso manifestam a beleza da virtude. Esta essencial relação fundamenta a chamada “via pulcritudinis” -a via ou o caminho da beleza- que é, a presença do belo em suas mais variadas representações como meio para levar as almas até Deus, Beleza em essência. Pois todas as formas de beleza existentes refletem, de algum modo esse atributo dEle, como uma participação na beleza divina. Amar a beleza, encantar-se com ela, é um meio de crescer no amor de Deus, autor de toda beleza. Em sua manifestação leva a um abrir de horizontes nos corações, a um caminho até Deus, “eleva ao homem a adoração, a oração e ao amor de Deus Criador”, como nos ensina o Catecismo da Igreja (2502).

O viver aturdidos pelos ruídos da modernidade, o acelerado da vida, as novidades, o gozo das comodidades, acaba enfeitiçando, e portanto dominando, os homens de hoje. Não conseguem sair do pântano em que se encontram.

Todo ser humano recebe informação através de seus sentidos; pois é através deles que penetram os efeitos exteriores. É o meio de comunicação, que Deus colocou, para relacionar-se com o que o rodeia. Um fato histórico, de uma antiga crônica, nos ajudará a compreender. Relata que o príncipe Vladimir de Kiev (Rússia, 979-1015), enviou a distintos países da Europa dez de seus cavaleiros para buscar a verdadeira religião que devia difundir em seu principado. Os legados foram aos búlgaros, muçulmanos, e voltaram desiludidos. Foram depois aos alemães, cristãos latinos, e encontraram um culto frio, sem sentimento. Finalmente se dirigiram a Constantinopla, onde foram recebidos pelo Imperador, que os colocou em contato com o Patriarca. Convocado um ofício festivo, os legados tiveram a oportunidade de ver a beleza de uma solene celebração litúrgica, com o canto de seus hinos e o perfume do incenso, o majestoso edifício e a festiva veneração dos celebrantes. Tudo isso os deixou profundamente assombrados e maravilhados.

Em seu retorno a Vladimir “não podiam expressar-se facilmente em palavras pois, durante a celebração litúrgica, não sabiam se se encontravam na terra ou no céu”. Vemos que o evento ao qual assistiram comunicava, na alma destes legados, a alegria de estar diante da verdadeira Religião. Relato histórico? Lenda? Pois, seja como seja, sempre as lendas refletem em algo a verdade.

Bem podemos dizer que viveram uma experiência diante do nobre, belo e esplendoroso que penetrou neles. Não foram argumentos que os impactaram, foi como um dardo que estremeceu suas almas, sentiram o toque do belo em seu coração, abrindo-lhes os olhos.

O Papa Emérito Bento XVI comentava, em um dos tradicionais discursos do Papa aos artistas (21-11-2009): “A expressão de Dostoievski (que foi um dos principais escritores da Rússia do século XIX), que irei citar, é sem dúvida audaz e paradoxal, mas convida a refletir: ‘A humanidade pode viver -dizia- sem a ciência, pode viver sem pão, mas sem a beleza não poderia seguir vivendo, porque não haveria nada para fazer no mundo. Todo o segredo está aqui, toda história está aqui'”. Em sua conhecida afirmação “a beleza salvará o mundo”, este mesmo autor, via na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a beleza da Verdade redentora.

Assim, portanto, será a beleza, impactando nos corações, a fórmula para enfrentar o secularismo reinante.

Por Padre Fernando Gioia, EP.

(Publicado originalmente em ‘La Prensa Gráfica’ de El Salvador)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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