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Santo Antônio Maria Claret, um missionário para nossos dias

São Paulo (Segunda-feira, 24-10-2016, Gaudium Press) Em outubro a Igreja comemora o mês do Rosário. Ele é o mês dedicado às missões e nele comemora-se também a festa de um Santo que é missionário por excelência, grande devoto e propagador do Imaculado Coração de Maria.

Santo Antônio Maria Claret, um missionário para nossos dias.jpgA Gaudium Press falou com o Padre Braz Lorenzetti que tem muito a ver com isso: ele é Missionário Filhos do Imaculado Coração de Maria e ainda é pároco da Igreja do Coração de Maria, em São Paulo.

Iniciamos a conversa perguntando:

GP – Em comemorações tão expressivas, postas em um só mês, o senhor vê só afinidades, houve um propósito ou foi mera coincidência?

Pe. Brás – De fato, o mês de outubro é de uma riqueza extraordinária. Começa com Santa Teresinha do Menino Jesus, dia primeiro, uma verdadeira exaltação à singeleza, dom de Deus, com o sofrimento.
Depois, passa pelo “poverello” de Assis, dia 4, a quem o Papa Francisco propõe como modelo de relação da pessoa humana com a natureza.

Vemos chegar a memória de Nossa Senhora do Rosário, dia 7, que nos lembra que a espiritualidade é também uma forma de cuidar da natureza, pois precisamos cuidar do material e do espiritual em nós.

Das águas, como que das águas originais, foi tirada a que é hoje a Padroeira do Brasil, a Mãe Aparecida, 12 de outubro, para nos dizer que elas precisam ser preservadas e mantida sua pureza.

Enfim, entre outros santos, temos também um santo comemorado pela Igreja, 24 de outubro, Santo Antônio Maria Claret, que nos dá a lição da missionariedade. Um Santo missionário com indica uma a proposta de uma igreja em saída, embora não houvesse ainda essa expressão no século XIX, quando vivia Antônio Maria Claret, lá pelas regiões de Barcelona, na Espanha.

GP – Pois bem, o senhor é um Missionário Claretiano, pertence à Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria, fundada por Santo Antônio Maria Claret. O que é ser filho do Imaculado Coração de Maria? E ainda… para ele, o que é ser missionário?

Pe. Brás – Antônio Claret, depois santo, viveu uma infância conturbada, sob certos aspectos: precisou de uma ama de leite para passar a sua infância com saúde. Daí nasceu a ideia da preciosidade de se ter uma mãe.

Como sempre foi muito espiritualizado desde a infância, não lhe custou muito em perceber Maria como a segunda Mãe, a Mãe do Céu, de quem ele precisaria em sua vida para manter sua espiritualidade e para sentir a ternura de Deus através do carinho e do amor materno.

No tempo de Claret, o quadro que hoje chamamos de Imaculado Coração de Maria, chamava-se “Quadro da Mãe do divino amor”: Ele adotou para si esse quadro e a espiritualidade que ele inspira.

Com toda a certeza, ele sentia-se no lugar de Jesus, no colo da Mãe, sentindo seu calor e seu afeto. Foi daí que nasceu na alma dele a atribuição de quase tudo vir de Maria,

GP- Algo semelhante à ideia de Maria como intercessora universal?

Pe. Brás – Pode bem ser, pois, o certo é que para ele todas as graças que Deus lhe concedia eram atribuídas à intercessão de Maria. E, em relação à congregação não foi diferente: “Mãe, esta obra é tua, cuida dela!”, teria dito Claret em um determinado período da vida.

GP – Também o ser missionário…

Pe. Brás – Sim. Ser missionário, para Claret, é responder a esse amor de Mãe, atendendo seus desejos e solicitudes.
Mas havia um dado cultural da época também que teve influência: ser missionário tinha um status e uma dignidade “superiores”, justamente por ser uma atividade que exigia muito desprendimento e desapego.

Porém, para Claret não era difícil viver essa dimensão porque o que ele mais desejava era imitar Jesus itinerante e pregador…

GP – Agora, ajuntando as duas coisas: Devoção a Maria e Missão. Hoje em dia, ainda seria viável a prática da Espiritualidade e do Carisma que inspiraram Claret há quase 150 anos?

Pe. Brás – O Carisma Claretiano é de uma atualidade impressionante, desde que não o engessemos e não o transformemos em balcão de funcionários da religião. Toda atividade que realizamos deve ter uma dimensão de ousadia e criatividade, que deve surpreender as pessoas, do contrário o povo se cansa e acaba sendo atraído para outras “searas” e aí acaba invertendo o que diz o evangelho: já não é uma ovelha que se extravia, mas as noventa e nove que se perdem e uma apenas permanece.
Corremos esse risco se a nossa missão se transforma em atividade burocrática apenas.

GP – A missão através das mídias é uma adaptação ou estava contida na semente que deu origem à Congregação?

Pe. Brás – Podemos dizer que a criatividade em Claret, sua forma de anunciar a Palavra, sempre esteve presente.
Ele mesmo dizia: “As pessoas desta época já não dispõem mais de tempo para ler livros volumosos, elas preferem livros pequenos e que vão diretamente ao assunto”.

Ora, isso é absolutamente atual… Mas, acima de tudo, o espírito de Claret era usar todos os meios disponíveis na época para atrair as pessoas para Deus e isso não passa de moda.

Creio que ainda somos muito tímidos no uso dos meios de comunicação social. Ainda confiamos demais nos meios tradicionais e que garantem a nossa subsistência, enquanto outros ainda ficam à espera de um investimento maior.
Porém, de qualquer maneira, a semente do trabalho Claretiano hoje tem sua fundamentação no carisma do Fundador.

GP – Para o missionário que o senhor é: qual a missionaridade para o agora? Vale para todos as latitudes do planeta? É eficaz para a mescla de gerações e culturas que nos cercam?

Pe. Brás -Meu entusiasmo atual, que tem suas raízes na espiritualidade de Antônio Claret, é o uso da Bíblia como instrumento e canal de evangelização.

Santo Antônio Maria Claret, um missionário para nossos dias.jpgA Congregação está propondo uma modalidade de estudo bíblico que pode ser conduzido por um leigo, mesmo que não tenha especialização em Bíblia. É um estudo ao mesmo tempo fácil e profundo. Acredito muito na multiplicação dessa modalidade de evangelização, tendo a Bíblia como eixo transversal de toda ação evangelizadora.

A Bíblia é como o remédio: não se pode querer toma-lo de uma vez. Ao contrário, é como um comprimido que, tomado um por vez, nos restabelece e fortifica o que em nós está debilitado.

Creio nessa modalidade como forma privilegiada de todos sermos missionários e como forma de atingir a capilaridade da quase impenetrável sociedade atual.

Nesse sentido, vale para todos os níveis de cultura e para todas as classes sociais. Na reflexão bíblica, cada um vai abordar as temáticas com as ferramentas que tem em mãos.

GP – Para as atualizações nas missões, o que é mais perigoso ou nocivo: as adaptações, as concessões ou as paralisias? E como seria uma atualização que caminhasse dentro da voz profética de Santo Antônio Maria Claret?

Pe. Brás – Volto a insistir na necessidade de pedir ao Espírito Santo que nos conceda o dom da criatividade. Para cada dia, para cada tempo, podemos criar modalidades novas de atrair as pessoas para a vivência da fé e para fazê-las compreender que religião não precisa ter cheiro de naftalina; o Papa fala que o pastor deve ter em si o odor das ovelhas, o que pode significar que a fé é também uma construção conjunta.

Enquanto esperamos no padre a iniciativa para todas as ações pastorais, enquanto esperamos que Deus resolva todos os nossos problemas, nunca vamos sair da mesmice e da estagnação.

Ser missionário é essencialmente viver a possibilidade de se renovar a cada dia da vida.

Nesse sentido se atualiza o carisma de Santo Antônio Maria Claret e, nesse sentido também, seremos seres humanos em plena atualidade, pois quanto mais humanos somos, mais divinizados nos tornamos.

(Padre Brás Lorenzetti, cmf – para João Sergio Guimarães, Gaudium Press)

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