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Sinal na fronte dos inconformes com o mal

Redação (Segunda-feira, 07-11-2016, Gaudium Press) Quando houve o primeiro exílio dos judeus para a Babilônia, devido às investidas de Nabucodonosor contra Jerusalém, em 597 a. C., entre os cativos se encontravam o Rei Jeconias e o Profeta Ezequiel. Isso ocorreu aproximadamente onze anos antes da queda de Jerusalém.

Profeta da divina fidelidade

Ezequiel “pertencia à raça sacerdotal e, consequentemente, à parte aristocrática da nação judaica”.(1) Enquanto Jeremias pregava em Jerusalém, Ezequiel exortava os exilados numa localidade chamada Tel-Abib, junto ao Rio Cobar (cf. Ez 3, 15), um afluente do Eufrates. A capital do atual Estado de Israel é Jerusalém, mas o nome de seu principal centro financeiro, Tel-Aviv, tem sua origem nesse lugar onde o Profeta pregou.

Ele exerceu seu ministério profético durante 22 anos, na época mais desastrosa da História de Israel, esforçando-se, por ordem divina, seja para combater os falsos profetas, seja para consolar e animar os exilados por santas e gloriosas promessas. (2)

Longe de cair no desânimo, “ele pensa, vê, age sustentado pelo braço de Deus, e pleno de força sobrenatural”. Foi cognominado o “Profeta da divina fidelidade”, assim como Jeremias, o “Profeta da divina justiça”. (3)

O tema central do Livro de Ezequiel é a destruição de Jerusalém. Antes da catástrofe, o Profeta tem como objetivo incentivar ao arrependimento de seus pecados aqueles que vivem numa falsa segurança. Após a queda da Cidade Santa, ele se ocupa, sobretudo, em consolar os cativos pela promessa da liberdade futura e o retorno para a pátria; e os encorajava ao mesmo tempo pela certeza das bênçãos messiânicas. (4)

O Profeta narra em seu Livro diversas visões e ações simbólicas, cuja interpretação é difícil. Por isso, “era proibido, na antiga sinagoga, ler as profecias de Ezequiel antes de completar a idade de 30 anos”. (5)

O estilo de Ezequiel é geralmente simples, mas apresenta com frequência “sublimidade, ternura, uma beleza e uma melodia que lhe são próprias […] Por momentos, ele se torna cheio de élan e de grandeza”. (6)

Visão da glória de Deus

Logo no início de seu Livro, Ezequiel narra uma visão que ele chama de “aparência visível da glória do Senhor” (Ez 1, 28). Trata-se de uma passagem célebre, mas cuja verdadeira interpretação apresenta grande dificuldade.
Viu ele uma nuvem brilhante como ouro, no centro da qual discernia querubins e as formas de quatro seres: o homem, o leão, a águia e o touro; havia um trono feito de safira.

A respeito dessa visão, afirma o grande exegeta Padre Fillion:

“A razão pela qual esses quatro animais foram escolhidos para formar os querubins é fácil de compreender: o homem é o rei da Criação, o leão o é dos animais selvagens, o touro, dos animais domésticos; a águia, dos pássaros. Os querubins representavam, pois, as forças e as qualidades do mundo inteiro.” (7)

E podemos acrescentar: o ouro é o rei dos metais, e a safira de certo modo é a rainha das pedras. Assim, a hierarquia existente na Criação, simbolizada pelos seus pontos monárquicos, estão presentes nessa visão da glória de Deus.

De fato, o “fim último e absoluto de todas as criaturas consiste em dar glória a seu Criador, pois o mundo foi por Ele tirado do nada, não por uma necessidade, mas como manifestação de uma bondade infinita, conforme ensina São Tomás (cf. Suma Teológica I, q. 44, a. 4)”. (4)

Aliás, os evangelistas, que tanto glorificaram a Deus com seus escritos, são apresentados em muitas obras de arte juntamente com os seres que os simbolizam: São Mateus: o homem; São Marcos: o leão; São Lucas: o touro e São João: a águia.

Significado do thau

Outro impressionante trecho de Ezequiel se refere ao castigo de Jerusalém, que havia se corrompido mais do que Sodoma (cf. Ez 16, 47). Viu ele seis Anjos com aparência de varões, “cada qual empunhando uma arma mortífera” (Ez 9, 2).

Observou também outro Anjo, que levava na cintura um tinteiro, ao qual Deus ordenou: “Passa […] no meio de Jerusalém, e marca com um thau na testa os homens que gemem e suspiram por tantas abominações que nela se praticam” (Ez 9, 4). E o Altíssimo mandou que os outros seis espíritos angélicos percorressem a cidade e matassem todos seus habitantes, poupando apenas aqueles que haviam sido marcados com o thau. E acrescentou: “Começai pelo meu santuário” (Ez 9, 6).
E tudo foi feito conforme Deus determinou.

Na época do Profeta Ezequiel, o ‘thau’ era a marca daqueles que execravam a abominações cometidas em Jerusalém. (9) E em nossos dias, pode-se afirmar que o thau é o sinal dos que têm “uma total inconformidade com os males da época, os desvios morais e a degradação do mundo moderno, à espera da intervenção justiceira e misericordiosa de Deus.

“Além desse aspecto negativo, o thau comporta um aspecto positivo, que se resume na adesão e no entusiasmo pela Santa Igreja Católica e pela Civilização Cristã, e pela esperança na implantação do Reino de Maria.” (10)

Que a Santíssima Virgem nos conceda a graça da inconformidade com as abominações hoje praticadas em todo o mundo, e a certeza de que, após a intervenção justiceira e misericordiosa de Deus, virá o Reino do Imaculado Coração de Maria.

Por Paulo Francisco Martos
( in Noções de História Sagrada – 89)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La prophétie d’Ézéchiel
.3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 5 .
2 – Cf. Idem, ibidem, p. 5.
3 – FILLION, op. cit. p. 5-6.
4 – Cf. Idem, ibidem, p. 5 a 7.
5 – FILLION, op. cit. p. 7.
6 – FILLION, op. cit. p. 7.
7 – Idem, ibidem, p. 12.
8 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 194.
9 – O thau – aqui empregado em sua grafia latina – é uma das letras de um antigo alfabeto hebraico, cuja forma era parecida à de uma cruz.
10 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapintiae. 2016, v.III, p. 397.

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