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Passeando entre as chamas, glorificando a Deus

Redação (Quarta-feira, 23-11-2016, Gaudium Press) Além de sábio, sério e destemido – como demonstrou no caso de Susana – Daniel possuía o dom de interpretar sonhos.

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Sonho de Nabucodonosor…

Certa noite, Nabucodonosor teve um sonho que o deixou deveras confuso. Mandou chamar os sábios, os magos, os adivinhos e astrólogos do império babilônico, e disse-lhes que se não lhe narrassem qual o sonho que ele tivera, e sua interpretação, seriam esquartejados e suas casas destruídas. Como não conseguiam saber que sonho era esse, Nabucodonosor mandou matar todos eles.

Quando o terrível decreto foi publicado, funcionários do rei procuraram Daniel e seus três companheiros a fim de executá-los. Mas o Profeta, “com inteligência e bons modos” (Dn 2, 14), dirigiu-se ao carrasco-chefe e perguntou-lhe por que se pretendia fazer tal matança.

Recebida a resposta, Daniel foi falar com Nabucodonosor e pediu-lhe um prazo para solucionar a questão.

Regressando ao local onde habitava, pediu a Ananias, Misael e Azarias que rezassem a Deus pedindo que lhe concedesse a graça de desvendar esse segredo. Tendo o Senhor dado a explicação a Daniel, numa visão noturna, ele logo se dirigiu a Nabucodonosor e declarou-lhe:

– Viste, ó Rei, uma enorme estátua, cuja cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro, e os pés eram parte de ferro e parte de barro. De repente, uma pedra rolou do alto de uma montanha e bateu nos pés da estátua, quebrando-os; em seguida, esta se desfez como pó. Posteriormente, essa pedra se transformou numa montanha que cobriu o mundo inteiro.

… e sua interpretação

E Daniel acrescentou:

– Deus te concedeu poder, autoridade e fama; tu és a cabeça de ouro. Depois de ti, o Senhor fará surgiu um outro reino, o da prata, inferior ao teu; em seguida, um terceiro, o de bronze, que dominará toda a Terra. O quarto reino será de ferro, pois vai quebrar e esmigalhar todos os outros; mas terá uma parte de barro, quer dizer, será firme por um lado, mas fraco por outro. E a pedra que despencou do alto do monte reduzirá a pó a imensa estátua (cf. Dn 2, 31-45).

Quando o Profeta terminou de falar, Nabucodonosor prosternou-se com o rosto em terra e mandou incensá-lo. Declarou que o Deus de Daniel era o verdadeiro Deus e, concedendo-lhe muitos presentes, queria que ele se tornasse o governador de todas as províncias da Babilônia e chefe de todos os sábios do país.

Porém, Daniel somente pediu que Ananias, Misael e Azarias fossem nomeados administradores das províncias, enquanto ele ficaria prestando serviço junto a Nabucodonosor.
Segundo os exegetas, o primeiro reino, simbolizado pelo ouro, é o de Nabucodonosor; o segundo é o reino medo-persa; o terceiro é a monarquia greco-macedônia, fundada por Alexandre Magno. E o quarto refere-se ao Império Romano.

Daniel afirmou também: Deus “fará surgir um império que jamais passará para as mãos de outro povo. Ao contrário, ele é que há de humilhar e arrasar todos os outros impérios, enquanto ele mesmo permanecerá para sempre” (Dn 2, 44). Ensina São João Bosco: “A Igreja de Jesus Cristo […] parecia, a princípio, uma pedrinha; entretanto, batendo no império dos romanos, o desfez e dilatou-se e vai se espalhando pela Terra inteira, onde durará até o fim dos séculos, para perpetuar-se depois no Céu.”

Ídolo gigantesco revestido de ouro

Entretanto, Nabucodonosor foi infiel à santa influência de Daniel, não se converteu à verdadeira Religião e deixou-se levar pela idolatria.

Ele mandou fazer uma estátua revestida de ouro, com 30 metros de altura por três de diâmetro. E decretou que todas as pessoas, ao ouvir toques de instrumentos musicais – entre os quais, a corneta, a flauta, a cítara, a harpa, a gaita -, deveriam se ajoelhar e adorar essa estátua. Quem não obedecesse seria imediatamente jogado numa gigantesca fornalha com o fogo aceso.

Ananias, Misael e Azarias, por não adorarem o ídolo, foram denunciados a Nabucodonosor, que mandou chamá-los e ameaçou lançá-los na fornalha se não fizessem a adoração. Mas eles preferiram a morte a renegar o verdadeiro Deus.

Tudo indica que Daniel não se encontrava, então, na Babilônia, pois se estivesse no país seria também acusado.
Então, o Rei mandou acender na fornalha um fogo sete vezes maior que o de costume, e os jovens fossem amarrados e nela lançados. Porém, aqueles que os conduziram, ao chegar perto da fornalha, foram queimados pelas enormes labaredas, e os três hebreus caíram dentro da fornalha ilesos.

Um Anjo desceu até os três jovens e fez surgir um vento refrescante; o fogo queimou seus liames e não atingiu seus corpos, pois eles “ficaram passeando por entre as chamas, cantando hinos a Deus” (Dn 3, 24).

Em alta voz, Azarias proclamou a justiça do Criador que castigou, através dos caldeus, os israelitas devido aos seus pecados. “A justiça do Senhor é um dos atributos mais louvados nos santos Livros.” Ofereceu o sacrifício deles em reparação desses pecados; pediu a misericórdia do Onipotente e manifestou a confiança de que suas preces seriam atendidas. E rogou também a punição dos inimigos de Deus: Que eles “fiquem envergonhados […] e a sua força seja esmagada” (Dn 3, 44).

Em seguida, os três, a uma só voz, entoaram o cântico chamado: Benedictus, no qual pedem que todas as criaturas – Anjos, homens, animais, vegetais e minerais – bendigam a Deus.

Vendo tal prodígio, Nabucodonosor – o qual também observava um quarto personagem, isto é, o Anjo – mandou que os jovens fossem retirados da fornalha. Verificou-se, então, que os cabelos e as roupas deles não haviam sido atingidos, e nem mesmo o cheiro da fumaça os tinha afetado (cf. Dn 3, 94).

E o Rei fez um decreto pelo qual todo indivíduo que blasfemasse contra o Deus de Ananias, Misael e Azarias fosse “esquartejado e sua casa transformada em entulho” (Dn 3, 98). E restabeleceu-os nas altas funções que ocupavam no império babilônico.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 92)

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1 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.159.
2 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Daniel. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 240.
3 – FILLION, op. cit., p. 243.

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