Gaudium news > Um dedo escrevendo na parede

Um dedo escrevendo na parede

Redação (Quinta-feira, 01-12-2016, Gaudium Press) Apesar de todas as maravilhas que presenciou – entre as quais a sabedoria de Daniel, o milagre ocorrido com os três jovens na fornalha -, Nabucodonosor não se converteu ao verdadeiro Deus e, devido a seu orgulho, será castigado.

Um dedo escrevendo na parede.jpg

Orgulho de Nabucodonosor

Seu império era imenso. Ao norte da Caldéia, ele possuía a Armênia e uma parte considerável da Ásia Menor; a oeste, a Síria e, durante certa época, o Egito; ao sul, seu poder s estendia até o Golfo Pérsico; a leste, os medos e elamitas lhe eram sujeitos. Possuindo o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico, Nabucodonosor tinha a sua disposição todos os tesouros do mundo conhecido.

Mas era um homem dominado pela soberba e “os Anjos, justamente indignados com o orgulho de Nabucodonosor, tomaram a iniciativa de pedir a Deus seu castigo”. E o Altíssimo atenderá esse pedido (cf. Dn 4, 21).

Antes de cair sobre ele a punição, o Profeta Daniel aconselhou-o a reparar seus pecados, pois Nabucodonosor havia cometido injustiças contra seus súditos e saqueara povos estrangeiros. E “Daniel lhe recomenda, como meio de expiação, a virtude oposta a esse vício”., ou seja, a bondade.

Foi-lhe concedido um ano para se arrepender, mas ele continuou escravo de seu orgulho. Do terraço do palácio real, ele contemplava a capital e dizia a si mesmo: “Aí está a grande Babilônia que construí para moradia do rei, com o poder de minha autoridade e para o esplendor da minha glória!” (Dn 4, 27). “Seu orgulho desenfreado faz com que ele relacione tudo a si mesmo, como a um centro supremo.”

Terrível castigo

Então, o Rei da Babilônia foi atingido por uma doença mental chamada zoantropia. “Aquele que é atingido por esse mal se crê metamorfoseado em um animal qualquer, do qual ele imita os hábitos, os gritos, as atitudes.”

“Ele foi retirado do meio das pessoas, passou a comer capim como boi” (Dn 4, 30). Ao longo dos meses, seus cabelos foram se tornando longos e endurecidos como penas de águia, e suas unhas, como garras.

Passado o tempo fixado para o castigo, Nabucodonosor ficou curado e voltou-se para Deus, dizendo: “Agora, então, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico o Rei do céu, porque tudo o que Ele faz é honesto, seus caminhos são justos, e a quem anda com soberba Ele sabe rebaixar!” (Dn 4, 34).

E viveu ainda um tempo considerável, com esplendor, glória e majestade, e com poder maior do que antes (cf. Dn 4, 33). Nabucodonosor edificou um palácio magnífico, muralhas, canais e, segundo alguns autores, os Jardins Suspensos de Babilônia, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Entretanto, não deixou de ser politeísta, embora respeitando muito o único e verdadeiro Deus. Morreu em Babilônia, após 43 anos de reinado, em 561 a. C. Devia ter aproximadamente 80 anos de idade.

O festim sacrílego de Baltazar

Em seguida, o Livro de Daniel apresenta uma cena pomposa e “nos conduz bruscamente da história da loucura do grande Rei à última noite de Baltazar, que foi também a derradeira da independência da Babilônia”.

Baltazar, um sucessor de Nabucodonosor, certa ocasião fez um banquete em seu palácio para mil funcionários reais. E, estando já embriagado, mandou trazer os cálices de ouro e prata que haviam sido retirados do Templo de Jerusalém, a fim de neles o Rei, os altos funcionários e suas mulheres tomar vinho. E enquanto cometiam esse sacrilégio, cantavam em louvor de seus ídolos.

A cidade de Babilônia “estava neste momento cercada pelas tropas de Ciro; mas acreditava-se que ela era impenetrável, e os habitantes viviam numa cega segurança”.

Mas Deus não deixou impune esse ato sacrílego. De repente, surgiu um dedo de mão humana que fez alguns traços numa das paredes do palácio real. Vendo aquilo, Baltazar ficou apavorado: “Seu rosto mudou de cor, os pensamentos se embaralharam, sua espinha parecia desconjuntar-se, os joelhos batiam um no outro” (Dn 5, 6). Aos berros, o Rei mandou chamar os magos para que interpretassem os sinais, mas nenhum deles o conseguiu.

Então, a rainha-mãe, ouvindo aquela gritaria, saiu de seus aposentos e se dirigiu ao salão do banquete. Tranquilizou o Rei e recomendou-lhe chamar Daniel, que “possuía uma inteligência e uma luz parecida com a sabedoria dos deuses” (Dn 5, 11). Baltazar, por ser homem belicoso e passar sua vida em guerras fora de Babilônia, não conhecia Daniel.

Increpação feita por Daniel

Daniel, já bastante idoso, foi trazido à presença do Rei, o qual lhe prometeu o manto de púrpura e o cordão de ouro ao pescoço, tornando-se a terceira autoridade no império, se decifrasse o sentido dos sinais. O Profeta respondeu-lhe que não se interessava pelas ofertas reais, mas iria fazer a interpretação.

Antes, porém, o Profeta increpou o Rei, dizendo que, embora conhecendo o castigo infligido a Nabucodonosor, imitou o vício capital dele, isto é, o orgulho. “Tu te julgaste maior que o Senhor dos céus e trouxeste para cá os cálices do seu Templo, a fim de que tu, teus ministros, esposas e concubinas neles bebessem vinho.” E ridicularizou os deuses que os participantes do banquete haviam adorado, desprezando o verdadeiro Deus “em cujas mãos está toda a tua vida e todo o teu caminho” (Dn 5, 23).

E Daniel afirmou que aqueles traços representavam as palavras: contado, pesado, dividido. E explicou: Deus contou o tempo do teu reinado e já acabou. Ele te pesou na balança e te faltava peso. O teu império será dividido e entregue aos medos e persas (cf. Dn 5, 26-28).

Apesar de a interpretação ter sido tão desastrosa para ele, Baltazar cumpriu sua promessa: mandou vestir Daniel com o manto de púrpura e colocar em seu pescoço o cordão de ouro, proclamando-o terceira autoridade do império.
Mas, nessa mesma noite o Rei Baltazar morreu.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – 93)

………………………………………………………
1 Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Daniel. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 258.
2 Idem, ibidem, p. 257.
3 Idem, ibidem, p. 259
4 Idem, ibidem, p. 260.
5 Idem, ibidem, p. 261.
6 Cf. FILLION, op. cit. p. 262.
7 FILLION, op. cit. p. 262.
8 Idem, ibidem, p. 263.
9 Cf. FILLION, op. cit. p. 267.
10 Cf. FILLION, op. cit. p. 268.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas