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Confiança heroica de Daniel diante de leões

Redação – (Quinta-feira, 15-12-2016, Gaudium Press) – Ciro, após ter conquistado Babilônia, nomeou como governador dessa cidade seu lugar-tenente Dario, o qual no Livro de Daniel é chamado rei.

Sátrapas invejam o Profeta Daniel e planejam sua morte

Dario impôs uma nova organização administrativa: nomeou 120 sátrapas, com autoridade em todo o império; em grau mais elevado estabeleceu um triunvirato, e um dos três ministros era o Profeta Daniel (Cf. Dn 6, 2-3), o qual já se encontrava em idade bem avançada.

“Daniel estava acima dos outros ministros e sátrapas, pois tinha um espírito tão fora do comum que o rei estava pensando em dar-lhe autoridade sobre todo o império” (Dn 6, 4).

Corroídos pela inveja, os ministros e sátrapas procuraram eliminar Daniel. Sabendo que este era de uma honestidade ilibada, fizeram uma armadilha para conseguir seu criminoso intento. Redigiram um texto segundo o qual toda pessoa que rezasse a outro deus ou homem que não fosse o rei seria lançado na cova dos leões. E conseguiram embair Dario, o qual acabou assinando o documento transformando-o em decreto.

Daniel lançado na cova dos leões

Em seus aposentos, três vezes por dia, Daniel abria a janela e rezava de joelhos voltado para o Templo de Jerusalém, embora estivesse em ruínas. Eram, portanto, preces feitas sem nenhuma ostentação. O valoroso ancião foi denunciado ao rei, o qual procurou salvá-lo, mas os inimigos de Daniel disseram ao monarca que um decreto dos medos e persas não podia ser modificado.
Dario mandou chamar Daniel e disse-lhe que seria colocado na cova dos leões, acrescentando: “O teu Deus a Quem tu sempre cultuas há de livrar-te!” (Dn 6, 17). E de fato isso foi executado. Mas o rei ficou em jejum naquela noite e não conseguiu conciliar o sono.

No dia seguinte, bem cedo, Dario foi até a cova e, em alta voz, perguntou: “Daniel, teu Deus foi capaz de livrá-lo dos leões?” E o Profeta respondeu: “Deus mandou um Anjo para fechar a boca dos leões, pois fui considerado inocente diante do Altíssimo uma vez que não cometi crime algum” (cf. Dn 6, 21.23). Ele confiou no Criador, que o protegeu de modo miraculoso.

O rei ordenou que retirassem Daniel da cova, o qual estava sem o mínimo arranhão. E imediatamente mandou trazer todos aqueles indivíduos que tinham acusado o Profeta, e com eles suas esposas e filhos, e deu ordem para jogá-los na mesma cova. “Antes que chegassem ao fundo, os leões já os iam agarrando e esmigalhando-lhes os ossos” (Dn 6, 25).

Dario, então, promulgou outro decreto, no qual afirmava: “Por toda parte onde chega o poder de minha autoridade de rei, estão todos obrigados a temer e respeitar o Deus de Daniel […] Foi Ele quem libertou Daniel das garras dos leões” (Dn 6, 27-28). Mas Dario não abandonou o politeísmo, pois não recomendou a seus súditos que deixassem o culto dos ídolos.
E Daniel continuou, pela graça de Deus, a ter muitos êxitos, tanto no governo de Dario, quanto no de Ciro, rei dos persas (cf. Dn 6, 29).

“Filho do homem”

Em seguida, o Livro de Daniel passa a narrar visões que teve o Profeta. Descrevendo uma delas ele afirma: “Entre as nuvens do céu vinha alguém semelhante a um filho do homem […] Foi-lhe dada a soberania, a glória e a realeza. Todos os povos, nações e línguas hão de servir-lhe. Seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado e sua realeza é tal, que jamais será destruída! (Dn 7, 13-14).

“Filho do homem”, palavras que se tornaram célebres porque muitas vezes Nosso Senhor as aplicou a Si mesmo. Por exemplo, durante a Paixão, tendo Caifás Lhe conjurado a dizer se era o Messias, Jesus, fazendo uma alusão direta ao texto de Daniel, respondeu: “Tu o disseste. Além disso, Eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do céu” (Mt 26, 64).

Comentando o texto de Daniel, o grande exegeta Padre Fillion explica:

“Filho do homem” significa que o Messias teria também a natureza humana; e seu poder universal e eterno indica que é Deus. Ou seja, trata-se do Homem-Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com duas naturezas, a divina e a humana.

“Foi-lhe dada a soberania, a glória e a realeza.” Enquanto Deus, Nosso Senhor possui poder infinito; mas enquanto Homem “Ele tinha necessidade de ser solenemente entronizado por seu Pai.”

O Anticristo teve diversas prefiguras

Nessa visão, Daniel fala também de um rei que “proferirá arrogâncias contra o Altíssimo e perseguirá os seus santos. Vai pretender modificar o calendário e a própria Lei de Deus” (Dn 7, 25). E depois será destruído (cf. Dn 7, 26).

Esse rei iníquo simboliza o Anticristo, o qual virá no fim do mundo, mas houve homens que o prefiguraram; e também existiram movimentos que instauraram um estado de coisas semelhante àquele visado pelo Anticristo. A Revolução Francesa, por exemplo, substituiu a adoração a Deus pelo culto à “deusa razão”, e chegou até mesmo a implantar um calendário que aboliu os domingos e os dias santos; 25 de dezembro, verbi gratia, passou a ser a festa do cão.
E em nossos dias, como as pessoas se portam em face da Lei de Deus, os Dez Mandamentos?
Diante das grandes dificuldades hoje existentes para praticarmos fielmente a Doutrina Católica, peçamos a Nossa Senhora que nos dê uma confiança semelhante à do Profeta Daniel, na cova dos leões.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 95)

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1- Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Daniel. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 277.
2 – Cf. FILLION, op. cit. p. 281.
3 – FILLION, op. cit. p. 282.
3 – Cf. FILLION, op. cit. p. 284.
4 – DANIEL-ROPS, Henri. História da Igreja de Cristo. A Igreja das Revoluções (I). São Paulo: Quadrante. 2003, v. 8, p.55.

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