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Espadas e arados, lanças e foices

Redação (Sexta-feira, 10-02-2017, Gaudium Press) Recordaremos os dois últimos profetas menores: Joel e Malaquias. Entre os livros proféticos do Antigo Testamento há também o de Baruc, mas este foi secretário de Jeremias e não está incluído no catálogo dos profetas menores.

Espadas e arados, lanças e foices.jpg“Transformai os arados em espadas”

Joel provavelmente viveu em Judá, após a reconstrução do Templo. Seu estilo é admirável e atesta “a idade de ouro da literatura hebraica”.

O Livro de Joel tem uma importância especial para Israel e para a Igreja. Aos judeus, promete bênçãos de todo gênero, se forem fiéis a Deus. E à Igreja ele anuncia a efusão do Espírito Santo e descreve, com uma magnificência de expressões, o Juízo Final, quadro que ele reconduz em quase toda a sua profecia.

Eis o que Joel escreve a respeito do “grandioso dia do Senhor. É terrível também! Quem poderá resistir?” (Jl 2, 11). “O dia do Senhor […] está perto. Será dia de trevas e escuridão” (Jl 2, 1-2).

“No céu exibirei sinais maravilhosos e, na terra, sangue, fogo e nuvens de fumaça. O Sol vai se mudar em trevas e a Lua em sangue, diante da chegada do dia do Senhor, grandioso e terrível” (Jl 3, 3-4).

E àqueles que Lhe são verdadeiramente fiéis, Deus recomenda:

“Preparai uma guerra santa! Vinde, avançai guerreiros todos! Transformai os arados em espadas, as foices em lanças…” (Jl 4, 9-10). Combatei, pois “a maldade dessa gente já passa da conta” (Jl 4, 13).

Comenta o exegeta Padre Fillion: “É a seus arautos, a seus profetas, que Deus dá suas ordens a fim de que se apressem em convocar seus guerreiros, encarregados de punir seus inimigos.”

Quanto à transformação dos instrumentos de trabalho agrícola, é interessante notar que o Profeta Isaías diz exatamente o oposto: As nações “devem fundir suas espadas, para fazer bicos de arado, fundir as lanças, para delas fazer foices” (Is 2, 4). Ambos os trechos não são contraditórios. Aplicam-se a situações inteiramente diferentes. As palavras de Isaías referem-se certamente ao Reino de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!” Nessa época haverá verdadeira paz, ou seja, a tranquilidade da ordem, como a definiu o grande Santo Agostinho.

Continua Joel: “O Senhor vai rugir [ …] Céus e terra começam a tremer. Mas o Senhor é um esconderijo para o seu povo” (Jl 4, 16). “Este Deus, tão terrível para seus inimigos, será um lugar de refúgio e um centro de força para seus amigos.”
A memória de São Joel é celebrada em 19 de outubro.

Devemos oferecer a Deus o melhor de tudo quanto possuímos

O Profeta Malaquias – palavra que, em hebreu, significa “meu mensageiro” – exerceu seu ministério após o cativeiro da Babilônia, quando já estava concluída a reconstrução do Templo e o culto inteiramente organizado. Foi contemporâneo de Neemias, o governador que administrava a Judeia em nome da Pérsia. Provavelmente escreveu suas profecias em 433 a. C.

Ele “emprega uma linguagem muito pura […] Não lhe falta nem força, nem grandeza, nem originalidade […] Malaquias põe uma questão, escuta a objeção, responde a esta, sempre com muita vida”.

“Malaquias nos mostra a nação teocrática descontente com Deus, porque achava as promessas de prosperidade, anunciadas pelos profetas precedentes, muito lentas em se realizar […] Daí um relaxamento considerável nos costumes do povo. Malaquias lutou com todas as suas forças contra a penetração desse mau espírito”.

Esse “mau espírito” se manifestava, sobretudo, entre os sacerdotes que ofereciam em sacrifício, no Templo, animais cegos, defeituosos, doentes ou até mesmo roubados (cf. Ml 1, 6-14). A lei mosaica proibia explicitamente imolar animais com tais defeitos (cf. Lv 22, 21-22). Para Deus devemos oferecer o melhor de tudo quanto possuímos; os edifícios sagrados e as cerimônias litúrgicas, por exemplo, precisam manifestar o pulcro e o esplendor, visando o sublime.

Malaquias prevê a instituição da Missa

E Malaquias os increpa com vigor.

“Sacerdotes, é para vós o mandamento seguinte: Se não derdes atenção nem tiverdes em mente o desejo sincero de glorificar o meu nome – diz o Senhor dos exércitos -, Eu vos mando as maldições, mudo em maldição o que eram bênçãos” (Ml 2, 1-2).
“De sua boca [do sacerdote] se espera a orientação porque ele é um mensageiro do Senhor dos exércitos. Vós vos desviastes deste caminho, fizestes que muitos tropeçassem na lei” (Ml 2, 7-8). De fato, eles eram os principais responsáveis pela decadência religiosa e moral do povo.

Tal decadência se exprimia, por exemplo, na multiplicação do divórcio.

E Malaquias defende o casamento uno e indissolúvel: Deus fez do homem e da mulher que se casam “uma unidade de carne e espírito […] para conseguir uma descendência que seja de Deus” (Ml 2, 15).

Ele também prediz (cf. Ml 1, 10-11) a abolição dos sacrifícios da lei antiga e a instituição de um sacrifício novo, ou seja, a Missa.
Malaquias foi o último dos profetas. Transcorreram aproximadamente quatrocentos anos até que surgisse o maior dos profetas: São João Batista, o qual foi previsto por ele: “Eis que estou enviando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente” (Ml 3, 1).

Segundo o Martirológio romano, a memória de São Malaquias se celebra em 18 de dezembro.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” -101)

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1 -Cf. FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p.952.
2 – FILLION. La Sainte Bible commentée- La Prophétie de Joel. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 390.
3 – Cf. Idem, ibidem, p. 390.
4 -Idem, ibidem, p. 404.
5 – Cf. A Cidade de Deus, livro XIX, capítulo 13.
6 -FILLION, op. cit. p. 405.
7 – Cf. FILLION. La Sainte Bible commentée- Le Livre de Malachie. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 609-610.
8 – Idem, ibidem, p. 510.
9 -Idem, ibidem, p. 610.
10 – Cf. FILLION, op. cit. p. 614-615.

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